Blog de notícias, política, artigos, cultura, entrevistas, variedades, opiniões... y otras cositas más! (Santiago/RS e Região) - Editor: Júlio Garcia
segunda-feira, 31 de março de 2014
domingo, 30 de março de 2014
Tarso Genro: Brasil sofre efeitos de transição imperfeita para a democracia
Em entrevista à Carta Maior, o governador do Rio Grande do
Sul, Tarso Genro, avalia a democracia brasileira 50 anos após o golpe de 64.
Para ele, a transição democrática foi jurídica e politicamente completada, sem
que se resgatasse para a história o que foi a ditadura. A democracia
brasileira, defende, ainda vive os efeitos dessa transição imperfeita.
“O Brasil viveu uma transição imperfeita da ditadura para a
democracia e essa transição trouxe efeitos que perduram até hoje. Ela carrega
consigo uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que abre um ciclo democrático novo
no país, com a Constituinte de 1988, ela carrega as dores de um parto não
terminado. A transição democrática foi jurídica e politicamente completada, sem
que se resgatasse para a história o que foi efetivamente a ditadura. Essa
história, até hoje, não foi resgatada”.
-CLIQUE AQUI para ler a entrevista, na íntegra.
sábado, 29 de março de 2014
OS ADVOGADOS CONTRA A DITADURA
-Documentário de Silvio Tendler sobre os 50 anos do famigerado golpe civil militar de 1964.
'Descomemoração' do golpe de 64 - Santiago/RS
* ATO de 'Descomemoração' do golpe civil militar de 1964 - Dia 02 de abril - 18h30min - em SANTIAGO/RS.
-Tod@s lá!!!
sexta-feira, 28 de março de 2014
AP 470 ('mensalão') é ilegal e deve ser anulada
Do Blog 'Grupo Beatrice':
'A AP 470 é ilegal e tem que ser anulada
Fizeram com a ação do PSDB o que deveria ter sido feito com
a ação do PT.
É o certo e ficou mais uma vez demonstrado que a ação contra
o PT foi uma ação ilegal.
A AP 470 tem que ser anulada.
O resto é campanha da mídia contra o PT.'
-CLIQUE AQUI para ler na íntegra.
...
-E para ler o artigo 'ENTRE A JUSTIÇA E A FARSA', do jornalista Paulo Moreira Leite (revista IstoÉ), CLIQUE AQUI
...
-E para ler o artigo 'ENTRE A JUSTIÇA E A FARSA', do jornalista Paulo Moreira Leite (revista IstoÉ), CLIQUE AQUI
quinta-feira, 27 de março de 2014
QI Santiago/RS - Cursos Técnicos
*Escolas e Faculdades QI - Qualidade e Inovação - em Santiago/RS: Rua
Coronel Tuca, 369 - Bairro Itu - Fone:
(55) 3251-8293 - ouvidoria@qi.edu.br
quarta-feira, 26 de março de 2014
Sobre o RECADO AO DEPUTADO FEDERAL LUIZ CARLOS HEINZE!
Do Blog do vereador Miguel Bianchini (PPL/Santiago-RS) - "Caro deputado, você não me representa e nunca mais me
representará, embora tenha defendido sua candidatura em outras eleições. Enganei-me, reconheço.
Tudo o que não presta neste país não são os índios, os
negros, os gays e as lésbicas, são seres humanos como nós e merecem ser respeitados, entre eles, muitos
marginalizados pela segregação racial, pelo preconceito e pela discriminação imperante no nosso Brasil.
O que não presta, na verdade, é a classe política, o
verdadeiro “câncer” do nosso país, pois se vendem a qualquer oferta, roubam e
enganam descaradamente, adotam discursos diferentes de acordo com a plateia,
são patrocinados por multinacionais e se fazem nativos, se apropriam de todos
os recursos públicos destinados as suas bases como se fossem seus,
acomodam partidários para manter o domínio eleitoral de seus currais, demagogia
e politicagem são a pauta de seus cotidianos, ...
Hoje, o Heinze reuniu os Vereadores do PP local e determinou
um discurso afinado, cada um alardeou na tribuna da Câmara Municipal suas supostas emendas parlamentares
destinadas a nossa cidade, muitas eu reconheço, a maioria nunca saiu do papel
ou não lhe dizia respeito. Teve um
Vereador que chegou a afirmar que NÃO DEVEMOS JULGAR UM POLÍTICO POR SEUS ERROS
E SIM POR SEUS ACERTOS.
Ora, todo o político é escolhido para representar o povo e
deve ter, no mínimo, idoneidade em sua postura ou em seu currículo.
A mudança no Brasil é utopia, pois está enclausurada no
sistema político instalado e viciado.
A politica não fascina, ela assassina a esperança de um povo
com poucas oportunidades, esta é a realidade do nosso país, independente do
governo ou do partido político que está
no poder". (Miguel Bianchini) http://miguelbianchini.blogspot.com.br/
...
* Meu comentário: Caro Bianchini: concordo no geral com o texto; compreendo, sobretudo tua decepção com esse
preconceituoso e arrogante deputado do PP que ajudastes em outros tempos a
eleger; entendo também tua frustração com o que chamas de 'classe política'.
Só
não concordo que generalizes 'por baixo' - isso é o que a direita e a classe
dominante quer (que as pessoas pensem que 'política' é coisa ruim, que 'tudo é
igual', 'tudo ladrão' etc. etc.). Isso não é verdade. Somente através da
Política - com P maiúsculo - é que podemos construir uma sociedade diferente, solidária,
humana, democrática.
Claro, precisamos separar o 'joio do trigo', fazer uma
verdadeira Reforma Política, valorizar os partidos que não fazem apenas o jogo
pragmático e que tenham compromisso efetivo com a maioria do Povo.
Temos que
dar protagonismo aos jovens, às mulheres, aos trabalhadores. Intervir na
Política sabendo qual é o nosso lado, fazer Política com Ética, com Convicção,
com Garra e, sobretudo, com Transparência e com Decência. Desmascararmos aqueles
oportunistas que hoje integram o contingente maior do que chamas 'classe
política', que querem apenas aproveitarem-se e locupletarem-se.
Não somos iguais
a eles, sabemos, mas o Povo também tem que tomar conhecimento disso. E, para
isso, precisamos fazer essa disputa... política! Na sociedade, no Parlamento,
na mídia, no trabalho, nas Redes Sociais...
Creio que esse é o caminho. Abraço
cordial! (Júlio Garcia)
-Charge do Lattuf: 'Ódio!' - Heinze (PP) e Alceu Moreira (PMDB)
Pleno da OAB/RS aprova Desagravo Público a advogado impedido de acompanhar depoimento de cliente
“Não aceitamos qualquer ato que pretenda violar as nossas
prerrogativas, pois quando nós as defendemos, fazemos isso em nome do cidadão,
a quem nós representamos", ressaltou Bertoluci.
O Conselho Pleno da OAB/RS, em sessão ordinária realizada na
tarde de sexta-feira (21), aprovou pedido de Desagravo Público, requerido pelo
advogado Jean Carlos Carbonera. O profissional teve as suas prerrogativas
violadas quando foi impedido de acompanhar depoimento de seu constituinte na
delegacia de proteção à criança e ao adolescente de Caxias do Sul.
De acordo com os autos, o advogado estava acompanhando seus
constituintes para uma oitiva na referida delegacia, quando policiais passaram
a fazer declarações depreciativas acerca do pai do seu cliente (que é menor de
idade), o que não foi admitido pelo profissional. A delegada titular, Suely de
Fátima Rech, ao entrar na sala, continuou acusando o pai do menor. Também disse
ao advogado: “Fique quieto!”.
Após, Jean foi retirado do recinto por dois policiais, fato
que fez com que o menor realizasse a oitiva sem a presença do advogado.
O relator do Desagravo Público, conselheiro seccional
Matheus Ayres Torres, destacou que “o fato do advogado estar agindo em nome de
seu cliente – 'interferindo', conforme consta no termo de informações – é
justamente o papel que se espera de um advogado combativo na defesa de seu
cliente”.
O presidente da OAB/RS, Marcelo Bertoluci, argumentou que,
conforme o Estatuto da OAB, o Desagravo Público deve ser concedido quando
houver ofensa ao advogado que estiver no exercício de sua profissão ou desempenhando
função da Ordem. "Não aceitamos qualquer ato que pretenda violar as nossas
prerrogativas, pois quando nós as defendemos, fazemos isso em nome do cidadão,
a quem nós representamos", ressaltou.
Desagravo Público
O Desagravo Público é uma medida do Conselho Pleno da OAB/RS
em favor de advogado que tenha sido ofendido no exercício da profissão ou em
razão dela. É um instrumento de defesa dos direitos e das prerrogativas da
advocacia. A Ordem disponibiliza todo o suporte jurídico ao profissional, tanto
em ação penal quanto em eventual ação cível.
Juliana Jeziorny - Jornalista – MTB 15.416 - http://www.oabrs.org.br/
terça-feira, 25 de março de 2014
'Os Governos Federal e Estadual fazem muito por Santiago'
Quem assiste (ou escuta via rádio ou internet) os pronunciamentos realizados por alguns vereadores santiaguenses (especialmente do PP, PMDB e PTB) e não acompanha atentamente os meandros da 'política local', pode até não entender como os mesmos (através de seus partidos) fazem parte da 'base aliada' do Governo Federal, detendo ministérios, cargos importantes e um sem número de CCs. O mais estranho ainda que pode parecer - para os incautos - é a postura do PTB local que, além de integrar o Governo Dilma, está também no governo Tarso, detendo igualmente secretarias e elevado número Cargos de Confiança. 'Esquecem-se' que também 'são governo', fazem críticas infundadas e demagógicas, buscando permanentemente confundir a população. Tudo focado na perpetuação dos seus 'espaços' e interesses individualistas e pragmáticos locais, alicerçados na hegemonia política e ideológica que mantém - sabe-se de que forma! - respaldados pelo controle do Executivo Municipal.
Fazendo o devido contraponto, mas em absoluta desvantagem numérica, a bancada do PT (integrada apenas por dois vereadores, Sérgio Marion e Iara Castiel) tem aproveitado parte do exíguo tempo reservado aos debates para procurar esclarecer a opinião pública - especialmente a local e regional - sobre o que realmente está em jogo, além de precisar informações negligenciadas pelos demais edis e pela maioria da mídia local e regional em relação às obras e investimentos realizados pelos Governos Federal e Estadual.
Convenhamos, não é uma tarefa fácil (uma vez que, como colocamos acima, a bancada petista é extremamente minoritária - e não raro sofre absurdas e antidemocráticas retaliações por parte da Mesa da Câmara que age de forma prepotente, realizando interrupções intempestivas, antirregimentais e, não raro, cassando a palavra - como ocorreu no final do ano passado com a vereadora Iara, fato esse que inclusive gerou a judicialização devida, ainda tramitando no TJ/RS). Apesar de minoritária, a bancada é aguerrida, não se constrange com o 'rolo compressor' e, costumeiramente, faz uma intervenção forte, firme e lúcida para esclarecer, informar e combater a desinformação deliberada, repondo assim a verdade dos fatos (e dos números). Nesse quesito, verdade seja dita, os dois vereadores petistas não medem esforços, superam-se e, cada qual com seu estilo, fazem a diferença.
Para ilustrar o que estamos dizendo, colocamos à seguir extratos do pronunciamento da vereadora Iara Castiel (PT) durante a reunião da Câmara de Vereadores de Santiago, realizada na tarde de ontem:
''Quero antes de qualquer outra questão, avaliar a atitude de alguns vereadores, os quais fazem oposição ao Governo Federal e Estadual, e vêem a esta tribuna, para falar contra os Governos Democráticos engajados com a participação popular, como é o do Partido dos Trabalhadores.
Convenhamos, não é uma tarefa fácil (uma vez que, como colocamos acima, a bancada petista é extremamente minoritária - e não raro sofre absurdas e antidemocráticas retaliações por parte da Mesa da Câmara que age de forma prepotente, realizando interrupções intempestivas, antirregimentais e, não raro, cassando a palavra - como ocorreu no final do ano passado com a vereadora Iara, fato esse que inclusive gerou a judicialização devida, ainda tramitando no TJ/RS). Apesar de minoritária, a bancada é aguerrida, não se constrange com o 'rolo compressor' e, costumeiramente, faz uma intervenção forte, firme e lúcida para esclarecer, informar e combater a desinformação deliberada, repondo assim a verdade dos fatos (e dos números). Nesse quesito, verdade seja dita, os dois vereadores petistas não medem esforços, superam-se e, cada qual com seu estilo, fazem a diferença.
Para ilustrar o que estamos dizendo, colocamos à seguir extratos do pronunciamento da vereadora Iara Castiel (PT) durante a reunião da Câmara de Vereadores de Santiago, realizada na tarde de ontem:
''Quero antes de qualquer outra questão, avaliar a atitude de alguns vereadores, os quais fazem oposição ao Governo Federal e Estadual, e vêem a esta tribuna, para falar contra os Governos Democráticos engajados com a participação popular, como é o do Partido dos Trabalhadores.
Exaltam, alguns vereadores
uma crise inexistente, mas não tratam da real crise, a Municipal. Esta sim,
numa situação de desgovernabilidade. Seja na saúde, no setor de obras, na
mobilidade urbana, saneamento básico, geração de empregos. Não há investimento
na economia familiar. Aliás, quando falam, é para atribuir a responsabilidade
da inércia da gestão, ao Governo Federal e Estadual, os quais nunca propiciaram tanto recurso em forma de
projetos. (...)
Os Governos Federal e
Estadual fazem muito por Santiago. Ou alguém acredita que as Casinhas Populares,
as Emeis, ESFs, e tantos outros projetos
em andamento, são idéia da Administração
atual? Alguém pensa que os
valores empregados nos projetos saem de
recursos próprios do Município? Não é assim, senhores ouvintes, praticamente
todo o valor vem do Governo Federal e Estadual. E o município tem apenas uma
contra partida, que nem sempre se propõe a dar, o que inviabiliza o projeto. A
verdade é que por muitos anos, foi apregoado pelos vereadores da situação e
comunicadores pagos pela administração, como se tudo fosse obra do Prefeito.
Hoje, a bancada do PT está atenta para fiscalizar e bem informar a população,
trazendo a realidade política de nosso município.
O governo Popular e democrático do Partido dos Trabalhadores tem um compromisso irrestrito com os cidadãos e cidadãs do nosso estado e do Brasil. Esta semana tivemos duas possibilidades concretas de perceber esse compromisso. Na sexta-feira, participando de agenda com a Ministra Maria do Rosário em Santiago, presenciei o anúncio do repasse de veículo e para o Conselho Tutelar. Depois seguiu a São Vicente onde deu uma aula no Instituto Federal Farroupilha, e a noite foi a Jaguari onde participou da formatura da primeira Turma do Campus Jaguari do IFF. O compromisso com a educação no campo é demonstrada nos mais de 500 Campus do IF espalhados pelo pais até o final do Governo da Presidenta Dilma. Do mesmo modo no governo Tarso Genro, são fortalecidas as escolas Rurais, ao contrário dos governos anteriores que preferiam fechá-las. O Governo Tarso Genro estruturou as escolas do campo, com reformas e instalações de lousas digitais, adaptação de rede de internet e condicionadores de ar. No domingo, na Vila Betânia revigoramos nossas forças e vontade de lutar pela questão dos pequenos produtores, quando percebemos as mais de 2 mil pessoas que participaram e prestigiaram a 12° Olimpíadas Rurais. Um belo evento que congrega e fortalece a integração e entrosamento das comunidades do interior de nosso município.
Senhores, de certa forma
lhes entendo. É difícil criar condições de igualdade de vida, de direitos, de
luta, quem nunca se preocupou com o todo. É difícil querer que ouçam o cidadão
quando só o que querem é ouvir as suas próprias vozes e seus próprios
intereses. Para me entenderem Senhores opositores, teriam que entender e
desejar o mundo onde ninguém viva no cabresto.''
-Foto: Vereadora Iara Castiel, Conselheira Tutelar Sandra da Costa, Ministra Maria do Rosário e vereador Sérgio Marion.
domingo, 23 de março de 2014
Igreja Católica e o golpe de 1964
Por Frei Betto*
Sabemos que o povo latino-americano é profundamente
religioso. Pergunte a um pequeno agricultor qual a sua visão de mundo e, com
certeza, receberá uma resposta de caráter religioso.
Sabemos todos? Quase todos. Exceto certa parcela da esquerda
latino-americana que, influenciada pelo positivismo marxista europeu, se
esqueceu de aplicar o método dialético ao fator religioso e, na contramão de
Marx e Engels (vide O Cristianismo Primitivo, de Engels), considerou tudo o que
cheira a água benta e incenso pura alienação a ser duramente combatida. E o
pior: incluíram nos estatutos de seus partidos a exigência de o novo militante
declarar-se formalmente ateu... Ou seja, primeiro, ateu; depois,
revolucionário.
Já a direita, mais inteligente em sua esperteza, sempre
soube explorar o fator religioso em seu proveito. Assim, para evitar que Jango
implementasse no Brasil reformas de base (estruturais), evocou a proteção
anticomunista de Nossa Senhora Aparecida e importou dos EUA o padre Peyton que
promoveu aqui, nas principais capitais, Marchas da Família com Deus pela
Liberdade.
Veio o golpe militar, a 1º de abril de 1964, e não era
mentira... Jango foi deposto e a sanha repressiva se disseminou pelo Brasil.
Como membro da direção nacional da Ação Católica, participei
no Rio, no Convento do Cenáculo, na rua Pereira da Silva, em Laranjeiras, da
reunião da CNBB na qual os bispos católicos definiram sua posição frente à
quartelada. Houve acalorada discussão entre progressistas e conservadores. De
um lado, Dom Helder Camara, bispo auxiliar do Rio, apoiado por Dom Carlos
Carmelo Mota, arcebispo de São Paulo e presidente da CNBB, criticaram os
militares por desrespeito à Constituição e à ordem democrática. De outro, Dom
Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre, e Dom Geraldo Sigaud, arcebispo de
Diamantina (MG), exigiam Te Deum por ter a Virgem de Aparecida escutado os
clamores do povo e livrado o Brasil da ameaça comunista. Venceu esta segunda
posição. A CNBB deu seu apoio oficial aos militares golpistas.
Porém, não há mal que sempre dure. Àquela altura, um amplo
setor da Igreja Católica já estava comprometido com a resistência à ditadura.
Esta não soube perceber a diferença entre católicos progressistas e
conservadores. Cometeu o equívoco de considerar a Igreja uma instituição
monolítica, de poder centralizado, unívoco, que tacitamente acendia uma vela a
Deus e outra ao diabo...
O germe do progressismo católico no Brasil havia sido
semeado pela Ação Católica, influenciada pela Ação Católica francesa que, na
Segunda Guerra, participou da resistência ao nazismo em aliança com os
comunistas. Aqui, a JEC (Juventude Estudantil Católica) e a JUC (Juventude
Universitária Católica) se destacavam na luta por justiça no movimento
estudantil. Desses movimentos nasceu a Ação Popular, na qual os militantes
católicos de esquerda atuavam sem prestar contas aos bispos nem comprometer a
instituição eclesiástica.
Na primeira semana de junho de 1964, dois meses após o
golpe, o CENIMAR, serviço secreto da Marinha, promoveu no Rio o arrastão
destinado a prender militantes da Ação Popular. Para ele não havia diferença
entre Ação Católica e Ação Popular. O apartamento da direção nacional da Ação
Católica, da JUC e da JEC, vizinho do Convento do Cenáculo, foi invadido na
madruga de 5 para 6 de junho de 1964. Fomos todos presos.
Em outras regiões do país, leigos, religiosos(as) e padres
foram perseguidos, presos e/ou convocados a depor em IPMs (Inquérito Policial
Militar).
Logo a repressão percebeu que nem toda a Igreja apoiava o
golpe. Havia até mesmo bispos e cardeais críticos à ditadura e dispostos a
defender os direitos humanos. Muitos se engajaram em ações de resistência, seja
proferindo sermões tidos como “subversivos”, seja escondendo perseguidos
políticos.
A partir da prisão dos frades dominicanos aliados à Ação
Libertadora Nacional comandada por Carlos Marighella, em novembro de 1969 (vide
meu livro e filme de mesmo título, dirigido por Helvécio Ratton, Batismo de
Sangue), aprofundou-se o conflito entre Estado e Igreja Católica. A CNBB, já
então hegemonizada por bispos progressistas, emitiu documentos em defesa dos
direitos humanos e da democracia, e o papa Paulo VI respaldou os religiosos
encarcerados.
Em São Paulo, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns criou, a
partir de 1970, uma vasta articulação de resistência e crítica à ditadura, e
defesa dos direitos humanos: Comissão Justiça e Paz, equipe Clamor, jornal O
São Paulo, culminando na publicação do mais consistente documento anti-ditadura
produzido até hoje, o livro Brasil Nunca Mais, no qual os crimes da ditadura
são divulgados com base, não em notícias de jornais, e sim em documentos
oficiais elaborados pelas Forças Armadas.
*Frei Betto é escritor, autor de Diário de Fernando – nos
cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros. Website:
http://www.freibetto.org/ Twitter: @freibetto
Fonte: Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br/
sábado, 22 de março de 2014
PRANTO POR IGNACIO SÁNCHEZ MEJÍAS
(Para o meu amigo Remo, que ontem se foi para 'outras plagas'...)
I
A CAPTURA E A MORTE
Às cinco da tarde.
Eram as cinco em ponto dessa tarde
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco da tarde.
Uma alcofa de cal já prevenida
às cinco da tarde.
O mais era só morte e apenas morte
às cinco da tarde.
O vento arrebatou os algodões
às cinco da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco da tarde.
Já luta com a pomba o leopardo
às cinco da tarde.
E uma coxa com uma haste desolada
às cinco da tarde.
Começaram os dobres do bordão
às cinco da tarde.
Sinos e sinos de arsênico e o fumo
às cinco da tarde.
Há nas esquinas grupos de silêncio
às cinco da tarde.
E só o touro coração acima!
às cinco da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco da tarde.
Quando a praça de iodo se cobriu
às cinco da tarde.
A morte pôs seus ovos na ferida
às cinco da tarde.
Às cinco da tarde.
Às cinco em ponto dessa tarde.
Ataúde com rodas é a cama
às cinco da tarde.
Ossos e flautas soam-lhe no ouvido
às cinco da tarde.
O touro já mugia por sua fronte
às cinco da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco da tarde.
Ao longe uma gangrena já vem vindo
às cinco da tarde.
Trompa de lírio pelas verdes virilhas
às cinco da tarde.
As feridas ardiam como sóis
às cinco da tarde.
E as gentes rebentavam as janelas
às cinco da tarde.
Às cinco da tarde.
Ai que terríveis cinco eram da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram as cinco em sombra dessa tarde!
II
O SANGUE DERRAMADO
Que eu não quero vê-lo!
Digam à lua que venha
que não quero ver o sangue
de Inácio marcando a areia.
Que eu não quero vê-lo!
A lua de par em par.
Cavalo de nuvens quietas
e a praça parda do sonho
com salgueiros nas barreiras.
Que eu não quero vê-lo!
Que o recordar se me queima.
Avisai todo o jasmim
com sua brancura pequena!
Que eu não quero vê-lo!
A vaca do velho mundo
passava sua triste língua
sobre um focinho de sangues
derramados pela arena,
e os touros de Guisando,
quase morte e quase pedra,
mugiram como dois séculos
fartos de pisar a terra.
Não.
Que eu não quero vê-lo!
Pelos degraus sobe Inácio
com sua morte toda às costas.
Ele buscava o amanhecer,
e o amanhecer não era.
Busca seu perfil seguro,
e o sonho o desorienta.
Busca seu formoso corpo
e encontra seu sangue aberto.
Ai não me digam que o veja!
Não quero sentir o jorro
cada vez, com menos força;
esse jorrar que ilumina
o palanque e se desaba
no veludilho e no couro
da multidão tão sedenta.
Quem me grita que me assome?!
Ai não me digam que o veja!
Não se cerraram seus olhos
quando viu os cornos cerca,
porém as mães mais terríveis
levantaram a cabeça.
E pelas ganadarias,
houve um ar de voz secreta
gritando a touros celestes,
maiorais de névoa pálida.
Não houve em Sevilha príncipe
que lhe possa comparar-se,
nem espada como era a sua,
nem coração de verdade.
Como um rio de leões
sua força maravilhosa,
e como um torso de mármore
a desenhada prudência.
Um ar de Roma andaluza
a cabeça lhe dourava
onde o seu riso era um nardo
de sal e de inteligência.
Que grão toureiro na praça!
Que bom serrano na serra!
Que brando era com as espigas!
Que duro com as esporas!
Que terno com o orvalho!
Que deslumbrante na feira!
Que tremendo com as últimas
bandarilhas todas treva!
Porém já dorme sem fim.
Já os musgos maila erva
abrem com dedos seguros
a flor da sua caveira.
E já seu sangue por aí vem cantando:
cantando por marinhas e por prados,
e resvalando pelos cornos hirtos,
vacilando sem alma pela névoa
tropeçando com milhares de patas
como uma longa, obscura e triste língua,
para formar um charco de agonia
junto ao Guadalquivir de altas estrelas.
Ó branco muro de Espanha!
Ó negro touro de pena!
Ó sangue duro de Inácio!
Ó rouxinol de suas veias!
Não.
Que não quero vê-lo!
Que não há cálix que o contenha,
que não há andorinhas que o bebam,
não há de orvalho luz que o esfrie,
nem canto nem dilúvio de açucenas,
não há cristal que o cubra de prata.
Não.
Eu não quero vê-lo!
III
CORPO PRESENTE
A pedra é uma fronte adonde os sonhos gemem
sem ter as águas curvas nem ciprestes gelados.
A pedra são uns ombros para levar o tempo
com árvores de lágrimas e faixas e planetas.
Já vi chuvas cinzentas correndo para as ondas,
levantando os seus ternos braços tão esburacados,
para não ser caçadas pela pedra estendida
que seus membros desata sem se empapar de sangue.
Porque a pedra recolhe sementes e nublados,
esqueletos de pássaros e lobos de penumbra;
porém não dá nem sons, nem cristais, nem fogo,
mas praças e mais praças e outras praças sem muros.
E já está sobre a pedra Inácio o bem-nascido.
Já se acabou. E agora? Contemplai sua imagem:
a morte o recobriu de pálidos enxofres
e pôs-lhe uma cabeça de obscuro minotauro.
Já se acabou. A chuva penetra por sua boca.
O ar como um louco deixa o peito que se afunda,
e o Amor, empapado em lágrimas de neve,
aquece-se nos cumes das ganadarias.
Que dizem? Um silêncio com fedores repousa.
Estamos com um corpo presente que se esfuma,
com uma forma clara que teve rouxinóis
e vemo-la afastar-se em abismos sem fundo.
Quem o sudário enruga? É falso quanto diz!
Ninguém por aqui canta, nem pelos cantos chora,
nem co'as esporas pica, nem a serpente espanta,
aqui não quero mais do que os redondos olhos
para ver esse corpo sem possível descanso.
Eu quero ver aqui os homens de voz dura.
Os que cavalos domam e dominam os rios:
os homens a quem tine o esqueleto e cantam
com uma boca cheia de sol e pedregais.
Aqui os quero eu ver. Diante desta pedra.
Diante deste corpo com as rédeas quebradas.
Eu quero que me ensinem onde está a saída
para este capitão atado pela morte.
Eu quero que me ensinem um pranto como um rio
que tenha doces névoas e profundas margens,
para levar o corpo de Inácio e que se perca
sem escutar o duplo resfolegar dos touros.
Que se perca na praça redonda dessa lua
que finge criança triste ser uma rês imóvel;
que se perca na noite sem cânticos dos peixes
e na maldade branca do fumo congelado.
Não quero que lhe tapem o seu rosto com lenços
para que se acostume à morte que o arrasta.
Vai-te, Inácio! Não sintas o ardente bramido.
Dorme, voa, repousa: também se morre o mar.
IV
Não te conhecem touro nem figueira,
nem cavalo ou formiga da tua casa.
Nem o menino te conhece, ou a tarde,
porque tu estás morto para sempre.
Não te conhecem os lombos da pedra,
nem o plaino negro aonde te destroças.
Não te conhece uma saudade muda
porque tu estás morto para sempre.
Há-de vir o Outono com seus búzios,
uva de névoa e montes agrupados,
mas ninguém quer fitar-te nos teus olhos
porque tu estás morto para sempre.
Porque tu estás morto para sempre,
como todos os mortos pela Terra,
como todos os mortos que se olvidam
em um montão de cães que se apagaram.
Ninguém já te conhece. Não. Mas eu te canto.
Eu canto antes de mais o teu perfil e graça.
A madureza insigne do teu conhecimento.
Teu apetite de morte e o gosto de sua boca.
A tristeza que teve a tua valente alegria.
Tardará muito tempo em nascer, se é que nasce,
um andaluz tão claro, tão rico de aventura.
e recordo uma brisa triste nos olivais.
Federico Garcia Lorca*
*Poema do grande poeta espanhol (e universal) e Federico García Lorca – sua elegia em
homenagem ao toureiro Ignacio Sánchez Mejías, seu amigo, morto durante uma tourada. Poema traduzido por Jorge de Sena.
**Esta é uma modesta homenagem que faço ao meu amigo Remo Barcelos Campani, falecido ontem, pouco depois das 'cinco de la tarde' - ele que foi também uma mescla de toureiro, gitano e aventureiro; mas que, acima de tudo, foi meu amigo e companheiro de muitas lides, viagens, batalhas e aventuras - e que infelizmente partiu precocemente ontem para 'outras plagas'...
"Tardará muito tempo em nascer, se é que nasce, um andaluz tão claro, tão rico de aventura...." (Júlio Garcia)
"Tardará muito tempo em nascer, se é que nasce, um andaluz tão claro, tão rico de aventura...." (Júlio Garcia)
sexta-feira, 21 de março de 2014
Luto
*Muito triste e chocado. Meu caro amigo Remo Barcelos Campani foi para outras plagas... Faleceu a pouco no Hospital da PUC, em Porto Alegre. Ele descobriu há menos de dois meses que estava com câncer no fígado, pâncreas e intestino. Apesar do tratamento qualificado e da bravura da resistência, não resistiu. Foi fulminante.
*O velório será realizado amanhã (sábado) à tarde, na capela Andres, e o sepultamento será no Cemitério Municipal de Santiago, terra que o acolheu e onde fez muitas amizades (era natural de Porto Alegre).
*Foi um grande amigo, leal e corajoso companheiro. Grande perda! Meus sentimentos aos familiares. (Júlio Garcia)
O Ibope e a primeira “bala de prata” de 2014
A pouco mais de seis meses do primeiro turno das eleições de
2014, a pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial divulgada na última
quinta-feira (20) constitui um terremoto político, ou melhor, uma cataclísmica
calmaria política. Ou um banho de água fria para a oposição.
Claro que, em anos eleitorais, seis meses é prazo bem mais
longo do que em períodos não-eleitorais. Os fatos políticos e o cenário podem
mudar de uma hora para outra, como já se viu em tantas eleições.
Em 2010, por exemplo, Dilma Rousseff só ganhou musculatura
no meio do ano.
Após a definição oficial das candidaturas (junho), portanto,
a oposição espera melhora do desempenho de seus candidatos, pois o que a
pesquisa recém-divulgada mostrou é trágico para eles, para dizer o mínimo.
Para simplificar, Dilma tem quase o dobro das intenções de
voto da soma de seus prováveis adversários, seja qual for o cenário.
E na pesquisa que acaba de divulgar, o Ibope inovou. Em
primeiro lugar, inovou com cenários em que não aparecem apenas os candidatos
mais fortes; incluiu os candidatos nanicos, como os do PSC, do PSDC, do PRTB e
do PSOL.
Contudo, a pesquisa também apresentou cenários só com os
três candidatos mais fortes – Dilma com Aécio Neves e Eduardo Campos ou com o
tucano e Marina Silva.
Seja qual for o cenário, porém, Dilma vence no primeiro
turno com quase o dobro dos votos dos adversários. No cenário mais provável
(Dilma, Aécio, Eduardo, Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Randolfe Rodrigues),
Dilma tem 40% e os adversários somados, 23%.
Na hipótese (ainda remota) de haver segundo turno, Dilma
venceria Aécio por 47% a 20%, Marina Silva por 45% a 21% e Eduardo Campos por
47% a 16%.
Repito: estamos a praticamente seis meses do primeiro turno
das eleições deste ano e é isso o que torna a pesquisa Ibope “cataclísmica”
para a oposição.
Pouco antes de ser divulgada a pesquisa Ibope, circulava um
boato de que Dilma teria perdido terreno para os adversários. Alguns boateiros
começaram a espalhar, inclusive, que o mercado financeiro estaria “eufórico”
com essa possibilidade.
A frustração do boato acendeu a luz vermelha entre as hostes
oposicionistas na mídia e nos partidos. E bateu o desespero.
Na semana passada, durante um evento qualquer, Dilma disse
que o povo “percebe” quem o favorece; ela já tinha os números de sondagens
eleitorais encomendadas pelo Planalto. E, apesar do boato sobre avanço dos
candidatos oposicionistas, a mídia também tinha.
Bateu o desespero na oposição midiática. De repente, um caso
antigo sobre a compra pela Petrobrás (em 2006, ainda no governo Lula) de uma
refinaria nos Estados Unidos volta ao noticiário e Dilma começa a ser alvo de
acusações virulentas na mídia, com o previsível teatrinho de oposicionistas
indignados.
Vendo que, mais uma vez, não dará para usar punhos de renda
com um candidato petista à sucessão presidencial, a mídia volta a ser o que foi
em 2006 e em 2010 e tirou do armário a sua metralhadora de balas de prata.
Observação: para quem não sabe, os escândalos pré-eleitorais
que a mídia dispara contra candidatos a presidente petistas em anos eleitorais
são chamados de “balas de prata”, aquelas capazes de matar lobisomens, que
podem fazer o que balas comuns não conseguem. (...)
CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via Blog da Cidadania).