A "ousadia" de José Genoino
Por Eduardo Guimarães*
Aspirantes a ditador
encastelados no Judiciário, no Legislativo, na imprensa e até entre cidadãos
comuns estão sobejamente indignados com José Genoino Guimarães Neto, cearense
de Quixeramobim que, aos 66 anos, está prestes a cumprir pena de prisão por ter
colocado a própria firma em um contrato de empréstimo de um banco ao partido
político que presidia. A razão da indignação: ele teima em querer exercer seus
direitos.
Ainda assim, apesar de a
vida do ex-presidente do PT ter sido vasculhada de cima a baixo durante sete
longos anos, não foi encontrado um mísero aumento de seu patrimônio. Nem a
Polícia Federal, nem o Ministério Público e muito menos a imprensa conseguiram
atribuir-lhe qualquer intenção de se locupletar.
Tudo o que Genoino tem na
vida é um modesto sobrado no bairro paulistano do Butantã, que, vendido, não
pagaria a multa imposta pelo STF no âmbito da Ação Penal 470. Detalhe: o imóvel
foi adquirido muito antes de o PT chegar ao poder, não havendo como atribuir
sua compra ao “mensalão”.
Colunistas, editorialistas,
articulistas, comentaristas de telejornal, repórteres e parte de seus leitores e espectadores
tratam de atiçar a matilha despótica contra um homem cujo crime foi cumprir uma
obrigação partidária, ainda que possa ter havido alguma ilegalidade no negócio
feito entre seu partido e o banco que lhe concedeu o empréstimo fatídico.
A condenação de Genoino,
pois, não lhes é suficiente. Prender seu corpo não basta, há que prender,
também, seu espírito. Os mesmos aspirantes a ditador querem cassar um direito
sagrado em qualquer democracia que se preze: o direito de um acusado pela
Justiça se declarar inocente independentemente de a acusação ter ou não sido
julgada.
Temos visto, à larga, os
meios de comunicação serem tomados pela premissa de que o ex-presidente do PT
deveria assumir as culpas que lhe imputam e abdicar de exercer seus direitos.
Deveria se “envergonhar” e fazer “profissão de fé” na própria culpa, ao melhor
estilo daquilo a que eram abrigados os expurgados pelo mesmo stalinismo de que
os cúmplices e entusiastas da ditadura militar brasileira acusam petistas e/ou
qualquer esquerdista.
Genoino e a filha estiveram
no Congresso, altivos. Foram, então, cercados e moralmente seviciados pelos que
o prisioneiro de consciência chamou, apropriadamente, de “torturadores
modernos”.
Não basta, portanto,
condenar Genoino ou qualquer outro réu do mensalão. Eles têm que colaborar com
seus algozes. A direita midiática exige que se humilhem publicamente, abdiquem
de qualquer direito que lhes reste e, de quebra, ajudem a enlamear a honra de
companheiros e até do próprio partido. Querem estender suas condenações àqueles
contra os quais não pesa processo algum.
Este blog, assim, exorta
seus leitores a se solidarizarem não com Genoino, mas com o Estado de Direito,
pois está sob severa ameaça quando setores barulhentos e despóticos da
sociedade exigem que um homem abdique do direito fundamental de qualquer ser
humano de se declarar inocente independentemente de ter sido julgado e
condenado, até porque a História está repleta de condenações que depois se
revelaram injustas.
*Editor do Blog da Cidadania - http://www.blogdacidadania.com.br
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