Quais são as ideias típicas dos conservadores
brasileiros na atualidade? Algumas são permanentes, outras conjunturais. Amanhã
serão substituídas por novas idiotices. O estoque é imenso.
por Marcos Coimbra*
Entre assombrações, equívocos e estereótipos, o
pensamento conservador brasileiro anda atulhado de idiotices. Alguns nada mais
fazem que repeti-las. Outros contribuem para aumentá-las. O título desta coluna
alude àquele de uma obra que teve certa voga há quase 20 anos e hoje parece
antediluviana. Publicado em 1996, o Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano
era um ataque contra a esquerda e expressava o neoliberalismo triunfante que se
espalhava pelo continente. Quem discordasse de seus axiomas era idiota.
Passou o tempo e a história mostrou o inverso. Nenhuma
das experiências de governo inspiradas no Manual deu certo. Os povos
sul-americanos escolheram caminhos diferentes, de mais realizações. Quem
zombava dos outros, com a agressividade verbal característica dos autoritários,
é que se revelou um tolo.
Quais são as ideias típicas dos conservadores
brasileiros na atualidade? Algumas são permanentes, outras conjunturais. Amanhã
serão substituídas por novas idiotices. O estoque é imenso. Vamos às dez mais
comuns:
O Brasil está à beira do abismo
Ainda que os cidadãos normais tenham dificuldade de
entender quem diz isso, os genuínos idiotas da direita estão convencidos:
vivemos o caos e estamos a caminho do buraco. Há exemplo mais patético que a
“inflação do tomate”?
O Bolsa Família é esmola usada para manipular os
pobres
Marca distintiva desses idiotas, a ideia mistura
velharias, como a noção de que os pobres são constitutivamente preguiçosos, com
a pura inveja de ter sido Lula o criador do programa. No fundo, o conservador
despreza os mais humildes.
O Brasil tem um governo inchado
Mundo afora, depois de a crise internacional sepultar
a tese de que Estado bom é Estado mínimo, ninguém mais tem coragem de
revivê-la. A não ser no Brasil. Fernando Henrique Cardoso deixou 34 ministérios
quando saiu do governo. Esse seria o tamanho ótimo? Cinco a mais se constitui
uma catástrofe?
O Brasil tem municípios demais
Exemplo de idiotice conjuntural, é prima da anterior.
Que sentido haveria em considerar imutável a organização administrativa de um
país em que a população se movimenta pelo território, fixando-se em novas
regiões?
O Judiciário é nosso deus e Joaquim Barbosa, nosso
pastor
Como seus parentes no resto do mundo, os conservadores
brasileiros desconfiam da política e têm ojeriza a políticos. Quem mais senão o
presidente do Supremo Tribunal Federal encarnaria os “anseios da sociedade
contra os políticos corruptos”? Transformado em ferrabrás dos petistas, Barbosa
virou herói da direita.
O “mensalão” foi o maior escândalo de nossa história
Conversa para boi dormir entre os conhecedores da
política brasileira, o “mensalão” não passa de um exemplo do modo como as
campanhas eleitorais são financiadas. Só os desinformados acreditam ser ele um
caso excepcional.
A liberdade de imprensa está ameaçada
Na vida real, ninguém leva isso a sério. Volta e meia,
a ideia é, no entanto, usada pela imprensa conservadora para defender os
interesses de um pequeno grupo de corporações de mídia. De carona, alguns
políticos da oposição a endossam para preservar as relações privilegiadas que
mantêm com os proprietários dos meios de comunicação.
Dilma antecipou a eleição
Desde ao menos o início do ano, a oposição de direita
repete, em tom queixoso, o mantra. O que imaginava? Que uma presidenta tão bem
avaliada não fosse candidata? Que fingisse não sê-lo? Qualquer idiota sabe que
os governantes pensam na reeleição. Assim que tomam posse, entram no páreo.
O Brasil virou as costas para seus parceiros
internacionais e se aliou aos radicais
A fantasia desconhece a realidade da política externa
e o modo como funciona a diplomacia brasileira. É montada em duas etapas:
primeiro, desconstrói-se a imagem de um país ou liderança. Depois, afirma-se
que o governo a apoia. De qual país o Brasil se afastou, de fato, nos últimos
anos?
O Brasil moderno está na oposição, o arcaico é governo
Trata-se de um erro factual, somado a muita pretensão.
Ao contrário, como mostram as pesquisas, o governo é mais bem avaliado (e Dilma
tem mais votos) entre, por exemplo, jovens e aqueles conectados à internet que
na média da população. A oposição possui, é claro, sua base na sociedade. Em
nada, no entanto, esta é “melhor” que aquela apoiadora do governo.
*Via Carta Capital http://www.cartacapital.com.br
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