segunda-feira, 7 de abril de 2025

Não seria saudável e urgente repensar os meios de comunicação?


Por Franklin Cunha*

“O capitalismo neoliberal não trata apenas da exclusiva acumulação de capitais, de poder e de liberdades, mas também utiliza e exerce essas três condições para negá-las à maioria das pessoas excluída do sistema” – Noam Chomsky

A expansão metastática da violência se constitui num dos vetores principais do processo de globalização. A guerra pela produção e pelos mercados não é paralisada pelos limites territoriais, temporais e muito menos pelos éticos. Uma vez desencadeada a luta selvagem para a obtenção do poder e dos lucros, não existem mais limites para a capacidade de destruição. O extermínio maciço, organizado e sistemático de populações indefesas, diluído numa tragédia enorme, incessante e infinda, tornam obsoletas as acadêmicas delimitações conceituais entre guerra civil, total, de guerrilhas, justas ou santas, genocídio, limpeza étnica, terrorismo ou corriqueiros latrocínios.

Só as tragédias nos comovem. E só as que nos tocam de perto. Quanto maior a ‘milhagem’, menos nos perturbam o número de mortes violentas causadas por fenômenos naturais ou por ações bélicas de quaisquer origens, aparentemente justificadas ou não. De aliviar nossos sentimentos de pena, culpa ou horror – não nos preocupemos -, disso a mídia se encarregará.

O capitalismo neoliberal não trata apenas da exclusiva acumulação de capitais, de poder e de liberdades, mas também utiliza e exerce essas três condições para negá-las à maioria das pessoas excluídas do sistema. E, nessa tarefa, a mídia exerce um papel fundamental ao ‘fabricar consensos’ manipulando fatos e publicando versões do que se passa no mundo, versões essas criadas nas redações dos editorialistas, que pensam rigorosamente como seus patrões e esses como seus poderosos anunciantes.

Há vinte e cinco anos, um livro chamado ‘Fabricando Consensos’, escrito por Noam Chomsky e Edward S. Herman, definiu o novo modelo dos meios de comunicação, o qual eles chamaram de ‘Modelo Propaganda’. Trataram de interpretar a estrutura dessas empresas comerciais cuja base de lucros são os anúncios, a propaganda que executam de qualquer produto ou ideia para quem mais lhes pagar. O livro revela a origem e a maneira de como são expostas as notícias, em geral originadas nas grandes agências noticiosas, que dominam o mercado e as redações dos jornais, revistas e TVs. Na realidade, elas ditam o pensamento de seus leitores e sua ideologia é profundamente conservadora, incentivadora de todos os regimes da direita política e da crença no mercado e na livre iniciativa. Procuram e conseguem influenciar a orientação econômica dos governos, sejam liberais ou liberticidas, fazem parte da política econômica, refletindo os desejos do grande capital nacional e transnacional, mas estão sempre disputando e arrancando generosos empréstimos, concessões e incentivos governamentais.

Zizek diz que ‘não pensamos, a mídia nos pensa’ e nos pauta. Há vários dias as manchetes de primeira página são as bombas da maratona de Boston, com três mortos e alguns feridos a lamentar. Quando os ‘drones’ americanos no Afeganistão assassinam famílias inteiras e incendeiam ônibus com crianças, tais fatos ocupam pequenas notas no interior dos jornais e apenas alguns segundos nas TVs. Essa orientação editorial da mídia revela entre outras coisas que ela está impregnada de ideias racistas, pois faz-nos parecer que vidas de cidadãos norte-americanos valem muito mais do que a vida de seres humanos dos países pobres ora invadidos e violentados pela máquina bélica e comunicacional do Império.

Enfim, os meios de comunicação fazem parte de um complexo financeiro, econômico e ideológico, verdadeira tropa de choque de interesses de grupos econômicos que dominam as finanças globalizadas, sejam elas de origem clara ou mesmo claramente obscuras.”

(*) Franklin Cunha, médico e escritor, em ‘Ensaios Contemporâneos’, Porto Alegre, AGE, 2014)

franklincunha1933@gmail.com

**Fonte: Jornal Brasil Popular

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***Nota deste Editor: Esse artigo que reproduzimos acima data de 2014, mas continua atualíssimo. (J.G.)

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