segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Nós todos ainda estamos aqui

 

    Filme Ainda Estou Aqui (Foto: Divulgação)

Por Emir Sader*

Vi, de novo, Ainda Estou Aqui. Gostei ainda mais do filme. 

É uma boa reconstrução do que foi aquele tempo. Creio que, com sensibilidade suficiente e contando com a extraordinária atuação de Fernanda Torres, o filme consegue alcançar um público mais amplo, trazendo uma ideia do que foi aquele período terrível – que, como vimos pelos documentos recentemente revelados – tentaram fazer retornar. 

Eu conheci a Eunice, em São Paulo, mas, para mim, ela era muito mais a mãe do Marcelinho – com quem tive a oportunidade de conviver em São Paulo – do que a protagonista daqueles dramas terríveis. Eu não tinha ideia de tudo o que ela passou e da barra que enfrentou. Os tormentos pelos quais ela passou, tentando, ao mesmo tempo em que mantinha a família, enfrentar a dolorosa experiência de buscar notícias de seu marido, enquanto recebia sempre a mesma resposta: "Desse caso, não temos informação." 

O filme, provavelmente o melhor de Waltinho, já é uma obra definitiva sobre aquele período. Não que seja uma obra histórica ou que tenha pretendido reconstruir todo o contexto da época. Mas ele recolhe um caso particular, extremamente expressivo, para transmitir, a um público mais amplo, o clima instaurado pela ditadura militar. 

Não importa se o filme, Fernanda ou Walter sejam recompensados com um ou vários Oscars. O filme, líder de público pela quarta semana de exibição nos cinemas – lotados – do Brasil, já é consagrado pela crítica e pelo público como um clássico do cinema brasileiro. E já está trilhando uma importante carreira em outros países. 

É, sem dúvida alguma, um filme político, inserido no período da ditadura militar, sem o qual nada da história contada seria possível. Mas, ao mesmo tempo, pela sensibilidade da direção de Waltinho e pela interpretação de Fernanda e de todo o elenco, é uma película dramática, humana, que reproduz, com fidelidade, um caso concreto. 

Podemos dizer que todos nós ainda estamos aqui. Seja porque muitos de nós, que vivemos aqueles tempos, mesmo feridos pelas perdas que tivemos, ainda estamos aqui. Seja porque os agentes daquele período, os militares, também ainda estão por aqui. E, como se afirma no final do filme, mesmo que os autores daquele crime tenham sido identificados, nenhum deles foi punido. 

Então, ainda estamos todos aqui, de um lado e do outro. É um filme que fazia falta. Não apenas para recordar aquele caso e contá-lo como uma belíssima narrativa, mas para mostrar como a história brasileira de hoje é a continuidade daquela. 

Vale muito a pena que todos assistam Ainda Estou Aqui. Para que todos sintam que, de alguma forma, todos ainda estamos aqui – seja pelo que vivemos naquele período ou pelo que vivemos hoje. 

Obrigado, Waltinho, Fernanda e todos os envolvidos. Só podemos agradecê-los, mantendo o filme, ainda por várias semanas, na liderança de público. E falando, discutindo, debatendo, expressando como tudo aquilo ainda está vivo em nós e permanecerá para sempre.


*Emir Sader é escritor, articulista e um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros. Fonte: Brasil247

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

3ª FEIRA DO LIVRO DE NOVA ESPERANÇA DO SUL/RS COMEÇA HOJE

 


Prepare-se para um evento que celebra a leitura em todas as suas formas, unindo o melhor dos livros físicos e digitais! 

Nosso tema, “Entre Páginas e Pixels”, convida a comunidade a refletir sobre a relação entre o tradicional e o moderno, debatendo o equilíbrio entre a experiência de um livro impresso e as conveniências do mundo digital. Em tempos de tecnologia, o livro físico ainda é um companheiro insubstituível, guardando a riqueza de nossas histórias e a essência de cada página. 

🗓️ Data: 6, 7 e 8 de dezembro de 2024

📍 Local: Redencio Frizzo - Praça Central

🎉 Atrações: Palestras, oficinas, teatro, lançamentos de livros, e o 1º Brick do Empreendedorismo Jovem! 

Venha se conectar com autores, leitores e pensadores sobre o futuro da leitura e descubra como as páginas e os pixels podem caminhar juntos. Marque na sua agenda e chame os amigos!

*Via https://www.novaesperancadosul.rs.gov.br/

PESSOAS e pessoas ...

 


Por Júlio Prates*

O meu maior defeito ou meu maior acerto na vida, não sei ao certo até hoje, talvez até nunca descubra, foi me definir pelo campo da esquerda desde quanto eu tinha modestos 16 anos. 

Filiei-me ao PT em 1980 a convite do meu amigo desde então Júlio Garcia, o único líder de esquerda sério e da velha guarda que eu reconheço. Pessoa honesta sem igual, um homem sério e honrado e um companheiro irretocável. Somos amigos desde 1978. 

Nessa vida, por onde passei, conheci pessoas de uma grandeza de caráter como o advogado Júlio Garcia e conheci as piores pessoas do mundo, gente falsa ao extremo, no momento oportuno meu livro com minhas memórias estará disponível e todos me entenderão. 

Tenho amigos de longas datas, porém, todos falecidos e deixo, respeitosamente, de citá-los nessa matéria, onde restrinjo minha breve análise aos meus amigos vivos. É claro, cada um com seus defeitos e virtudes. Ninguém é perfeito. Mas sou amigo do livreiro Girelli desde 1976 e sou testemunha de sua grandeza. Curiosamente, o ex-prefeito Vulmar Leite é meu amigo dos velhos tempos, sempre gostei muito dele, embora eu tenha uma opinião específica sobre ele enquanto prefeito. Hoje, Vulmar voltou a ver velho Vulmar dos anos 70 e 80 e aí reside seu grande valor. Hoje, somos amigos de trocar ideias pelo whatsapp e Vulmar nem parece político, desses que só se lembram da gente em época de eleição. 

Com o passar dos anos, com as mortes, nosso círculo de amigos começa a estreitar-se. Guilherme Bonotto é um dos raros amigos que fiquei, embora nunca mais tenhamos nos falado. Eu estou convencido de que Guilherme Bonotto seria o melhor prefeito que Santiago já teve, tamanha é minha admiração por sua visão negocial, sua honradez e honestidade com o trato de coisa pública. 

Meus amigos atuais são mais recentes, todos recentes, todos com pouco mais de 20 anos de amizade, embora reconheça em quem me chama de amigo uma diferença fundamental. Existem aqueles que dão asas às armações das víboras, mas esses eu sei todos quem são. 

Como todo ser humano, conheci o lado pobre de certas pessoas. E nisso creio que foi a maior lição que a vida me deu, pois conheci a extensão da podridão de quem vivia ao nosso lado e se dizia amigo e admirador. No fundo, esses sempre sonharam em me ver morto e nunca mediram a extensão dos danos causados em minha vida por suas ações sujas e mesquinhas. 

Embora o fime AMADEUS tenha mostrado um lado da perversidade humana, já escrevi que os Salieres da vida estão por todos lugares, mesmo quem sequer imaginamos. 

Hoje, voltei há pouco em Santiago e iria escrever sobre o meu amigo Arthur Viero e sua companheira, Rosane Fontela, que é ligada as famílias Goularte e Fontela de São Borja, sendo diretamente prima de Maria Teresa. Mas escreverei sobre eles numa outra oportunidade, nossa janta de ontem ainda está bem fresquinha e preciso digeri-la melhor.

...

*Júlio César de Lima Prates (foto) é advogado, sociólogo, jornalista, escritor e blogueiro.

-Fonte desta postagem: Blog do Júlio Prates (04/12/2024).

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

TRAMA GOLPISTA: CRIME CONTRA A NAÇÃO BRASILEIRA

 


Por Juçara Vieira Dutra*

A revelação da trama golpista contra a nação e o povo brasileiro foi impactante, não exatamente pelo fator surpresa, mas, sobretudo, pelos papéis institucionais de seus mentores. O indiciamento dessas figuras por crimes de “abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa” dá a dimensão dos riscos para uma sociedade que ainda não acertou, adequadamente, as contas com o passado. Exemplo disso é a história contada no filme “Ainda estou aqui”, inspirado na vida e luta de Rubens Paiva, vítima da ditadura instalada em 1964.

Decorridos 60 anos do golpe de 1964, ainda precisamos superar os impactos dos denominados “anos de chumbo”, cuja inspiração foi um filme alemão, “Tempos de chumbo” que narra a história de duas irmãs, militantes políticas nos anos 1960. Apesar da violência ocorrida nos porões da ditadura, das mortes e desaparecimentos, foi somente em 2011 que o governo da presidenta Dilma instituiu a Comissão Nacional da Verdade para investigar graves violações dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988 (tendo como referência a promulgação das duas constituições). No RS, o governador Tarso Genro instituiu a Comissão Estadual da Verdade, em 2012, com a finalidade precípua de auxiliar a Comissão Nacional.

Assim, é imperioso que essa trama golpista seja, imediatamente, investigada e seus mentores responsabilizados, passando a mensagem de que a democracia é um dos valores mais caros à sociedade brasileira. O fato de que aqueles que deveriam promovê-la são os indiciados por atacá-la merece imediata e profunda investigação e correspondente responsabilização. Esta geração não pode produzir novos passivos para o futuro.

*Presidenta do PT/RS 

-Via https://ptrs.org.br/