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Blog de notícias, política, artigos, cultura, entrevistas, variedades, opiniões... y otras cositas más! (Santiago/RS e Região) - Editor: Júlio Garcia
Esta é a tragédia. Os que vão na frente, correndo riscos, até de vida, criam uma mística que é aproveitada por juizes de escrivaninha, para exercer seu poder discriminatório contra os que pensam diferente.
Não se discute que a política no Rio de Janeiro é um escândalo continuado. E, aqui mesmo, tenho enaltecido o trabalho sério do Ministério Público Estadual (MPE), assim como os problemas do Tribunal de Justiça do estado, sob influência de desembargadores polêmicos.
A prisão de um ex-aliado de Jair Bolsonaro, do partido que acolheu os filhos de Bolsonaro, poderia ser objeto de regozijo. Mas me assusta mais do que entusiasma.
Lembro-me no evento que comemorou 80 anos da Folha. Na mesa, diversos colunistas analisando o papel da imprensa. Minha colega Eliane Cantanhede fez um elogio entusiasmado à cena da prisão do então senador Jader Barbalho, conduzido algemado em um avião. Era a prova definitiva de que a imprensa cumpria seu papel, segundo ela.
Pedi a palavra e mostrei os riscos que havia por trás disso. Se faziam aquilo com um senador da República, e eram aplaudidos, quem seguraria a ponta, os policiais que atuavam nas periferias contra pobres, pretos?
Ao assistir a cena do prefeito Crivela preso, embora não algemado, pensei nos efeitos sobre os juizes que estão empreendendo campanhas de anulação de jornalistas “dissidentes”.
O show de prisões preventivas é uma demonstração de ceticismo em relação aos tribunais superiores – especialmente no Rio de Janeiro. Com a prisão e o show midiático, pensam procuradores e juízes, ao menos haverá uma punição, antes que os tribunais superiores revoguem as decisões.
Tenho a maior admiração pelo trabalho do Procurador Geral Eduardo Gussem. Tem atuado até o fim do seu mandato, mesmo sendo vítima do Covid-19, e enfrentado grupos extremamente poderosos. Mas a coragem do juiz e dos procuradores do Rio fortalecerá o juiz de São Paulo que bloqueou a conta conjunta e que está há meses sem sequer responder ao embargo de terceiros de minha esposa, mantendo a conta bloqueada com a tranquilidade dos que se julgam intocáveis.
Esta é a tragédia. Os que vão na frente, correndo riscos, até de vida, criam uma mística que é aproveitada por juizes de escrivaninha, para exercer seu poder discriminatório contra os que pensam diferente. Em nada diferente de procuradores que passaram a exercer toda sorte de arbitrariedades estimulados pelas ações de Curitiba.
Refazendo o raciocínio ao contrário, se senti na carne a falta de discernimento do juiz de São Paulo, quem me garante que o juiz do Rio teve discernimento ao autorizar a prisão de Crivella, mesmo antes de terminado o inquérito? Ou seja, a atuação do juiz de São Paulo coloca em dúvida, na minha cabeça, a atuação do juiz do Rio.
*Jornalista, Editor do Jornal GGN
No último debate antes da eleição no segundo turno, o prefeito do Rio Marcelo Crivella profetizou a prisão do adversário Eduardo Paes:
“Eu já disputei eleições contra pessoas do grupo do Eduardo, como o Sergio Cabral e Pezão, e eles ganharam. Mas ganharam mesmo? Eles foram presos. Vai ser a mesma coisa com o Eduardo Paes, ele vai ser preso.“
Paes ganhou a eleição com 64% dos votos e, por ora, segue livre. A derrota foi a maior da história de um candidato que disputou segundo turno. Nesta terça-feira 22, a poucos dias de entregar o cargo ao rival, é Crivella quem termina preso.
Crivella foi detido pela Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro em um desdobramento da Operação Hades, que investiga um suposto ‘QG da Propina’ na Prefeitura do Rio. A investigação começou em 2018.
Seu infortúnio sela o fim de quatro anos caóticos à frente Prefeitura. Crivella foi o primeiro prefeito do Rio de Janeiro a ter as contas rejeitadas. Entre 2017 e 2019, segundo o Tribunal de Contas carioca, o endividamento total do município aumentou em R$ 17,6 bilhões para R$ 70 bilhões.
Também escapou por pouco de dois processos de impeachment. Um baseado na Operação Hades, e outro no caso que ficou conhecido como “Guardiões do Crivella”, no qual servidores nomeados pelo gabinete do prefeito e pagos com dinheiro público ficavam na porta de hospitais tentando impedir a realização de reportagens.
Na campanha pela reeleição, sobretudo no segundo turno, Crivella teve no combate à corrupção uma de suas bandeiras prioritárias. Também abusou do apoio do presidente Jair Bolsonaro. Agora, repete a sina de outro beneficiário dessa onda, o governador Wilson Witzel, afastado do cargo enquanto responde a um processo de impeachment.
O capitão comemorou o revés de Witzel como sinal de que seu governo é implacável com corruptos. Fará o mesmo agora com o bispo?
(FOTO: PHILIPPE LIMA/GOVERNO DO RIO DE JANEIRO)
*Via https://www.cartacapital.com.br
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