sábado, 30 de maio de 2015

Qual o papel do chefão da CBF no assassinato de Vladimir Herzog?


Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar em SP
repórter investigativo britânico Andrew Jennings relembra os pecados do atual presidente da CBF, José Maria Marin, durante a ditadura brasileira.

CLIQUE AQUI para ler na íntegra a matéria assinada pelo jornalista Andrew Jennings (via Carta Maior)

O jogo de coerção do juiz Sergio Moro



Sergio Moro


Juiz federal aproveita a fragilidade do réu, que chora em desabafo sobre seu estado de saúde, pedindo a conversão da prisão preventiva em domiciliar, para coagi-lo a confessar


"Eu e mais de 50 milhões de brasileiros votamos na presidenta Dilma. Não apenas nela, mas naquilo que ela representa, e num programa de governo.

No entanto, o que temos assistido é a um acoelhamento do governo e do PT.

Não dá mais para engolir o juiz Moro e seus arbítrios; Gilmar Mendes sentado em cima de um processo que já está decidido, com votos de 6 a 1; Eduardo Cunha e suas chicanas.

Será que não tem uma mulher (porque homens já vi que não) para dar um basta, um "no pasarán" nisto tudo?" (Antônio Mello, Editor do Blog do Mello, do RJ)

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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Mais do que nunca precisamos de uma Constituinte Exclusiva para mudar o nosso sistema político



Por Aristóteles Cardona Junior*

Parece notícia velha. Mas não é. Na noite da última quarta-feira, 27 de maio, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, liderou mais um golpe à democracia em nosso país.

Somente um dia depois de a própria Câmara rejeitar a inclusão do financiamento empresarial de campanha na Constituição, uma articulação capitaneada pelo Eduardo Cunha organiza uma manobra e coloca o tema em votação novamente. E nesta outra votação, ganha a proposta de emenda que permite que partidos recebam doação de empresas.

Tanta pressa tem um motivo: está em julgamento no STF uma ação proposta pela OAB que poderia proibir a doação de empresas a campanhas por inconstitucionalidade. E a maioria dos ministros do STF já havia se manifestado a favor de tal proibição. O julgamento só não havia sido concluído porque um dos ministros, o Gilmar Mendes, pediu vistas e ainda não tinha retornado com uma resposta.

No fim das contas, a Câmara Federal trouxe à tona uma série de debates, mas quem se beneficia com a velha política conseguiu o que queria e realmente importa pra eles: colocar na Constituição o financiamento empresarial de campanhas.

Que o golpe desta quarta-feira nos traga uma lição. Reforma Política de verdade e condizente com as necessidades do nosso país, somente com uma Constituinte Exclusiva e Soberana para o Sistema Político.

No ano passado, mais de 8 milhões de pessoas se manifestaram em um Plebiscito Popular a favor da Constituinte. Agora a nossa luta é por uma consulta legal. O povo quer participar e mostrará nas ruas que não quer ficar a reboque desta velha política.

*Médico de Família e Comunidade, Professor da Univasf e militante da Consulta Popular.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

“Maquiavelismo” de Cunha choca-se com realidade e Câmara rejeita “distritão” e financiamento empresarial

reforma política votação 2
Um dia histórico para a democracia brasileira
Câmara rejeita o “distritão” e o financiamento empresarial das campanhas
por André Rocha, especial para o Viomundo* 
Pareciam passos táticos de uma manobra muito bem calculada o cancelamento da reunião que faria a avaliação do relatório final produzido pela Comissão Especial e a imposição da votação da Reforma Política para ontem, terça-feira, 26 de maio.
O texto do relator Marcelo Castro (PMDB-PI) que seria a base para a votação da Câmara foi invalidado pela decisão tomada por Eduardo Cunha de levar a votação diretamente para a Câmara. No texto, o relator concluía que a proposta do voto majoritário, chamada “distritão”, acentuaria a crise de representatividade da democracia brasileira, incentivaria o personalismo, enfraqueceria os partidos, acirraria as disputas intrapartidárias e tornaria as campanhas eleitorais muito mais caras.
O “distritão” seria o modelo perfeito para os deputados que trabalham como comerciantes de votos: utilizando os partidos a que são filiados apenas como fachada para entrada e permanência do Poder Legislativo, trabalham como lobistas de grupos de interesses e precisam dos serviços de marketing da grande mídia para ocultar seus reais vínculos de representação e construir uma imagem de políticos “republicanos”.
O modelo majoritário generalizaria a pulverização partidária e acentuaria os problemas de representação e “governabilidade” que resultam da multidão de pequenos partidos que funcionam como fachada para comerciantes de votos. A pulverização possibilita a prática sistemática de venda de votos de parlamentares para a aprovação e reprovação de propostas do Poder Executivo, prática que, diga-se de passagem, registra-se na votação da emenda da reeleição no governo FHC e que atravessa os governos de Lula e Dilma.
O “distritão” destruiria os grandes partidos e acabaria com a possibilidade de pautar a disputa nas eleições pelas diferenças entre programas partidários. Seria a festa dos “indivíduos” alçados à condição de “personalidades” pelas grandes empresas de comunicação de massa.
O autoritarismo de Cunha já é notório, mas pelo filtro das crônicas da grande mídia ele aparece como uma espécie de político hábil, capaz de formar e liderar uma maioria na Câmara e impor derrotas a Dilma e Temer; aparece como um estrategista que sabe manobrar as regras como se estivesse as seguindo; numa palavra, aparece como um “maquiavélico”.
O fato de que seu comando tem como base o alinhamento dos políticos da chamada “bancada do BBB” e os vendedores de votos avulsos não levou os “democratas” tucanos da grande mídia a nenhuma reflexão sobre os descaminhos da democracia brasileira após as eleições de 2014.
De fato, certas lideranças do PSDB acreditavam que poderiam se aproveitar de Cunha para fazer passar oimpeachment na Câmara. Outros percebiam, porém, que uma ascensão meteórica de Cunha não apenas ameaçaria o poder de Temer no PMDB: no longo prazo, na medida em que pudesse se blindar contra as acusações da Lava Jato, Cunha poderia ocupar confortavelmente a posição de centro-direita das lideranças tucanas com amplo apoio da direita e da extrema-direita.
Mas alguns “maquiavélicos” do PSDB imaginam que podem usar Cunha como uma espécie de fantoche para tentar fazer passar o impeachment de Dilma e destruir o PT explorando o racha no PMDB…
“O “maquiavelismo” na maioria das vezes é pequena política que não reflete em nada a grande política e, por isso, choca-se contra a realidade, se interverte no seu contrário.
Cunha atropelou a Comissão Especial na esperança de aprovar o seu modelo de reforma política pela ânsia de aparecer nos jornais como vitorioso e grande líder da oposição? Teria ele se apressado por perceber que o relatório da Comissão Especial influenciaria nas deliberações dos deputados? Ou teria ele expectativas de que conseguiria votos suficientes para aprovar as propostas do voto majoritário e do financiamento empresarial das campanhas? 

De toda maneira, seria interessante uma apuração mais rigorosa para saber se ele mesmo revelaria os motivos lhe fizeram atropelar a Comissão Especial e colocar a votação diretamente na Câmara. 
Na votação sobre o sistema eleitoral as propostas do sistema majoritário e do distrital misto foram derrotadas. Antes de passar às votações sobre o financiamento das campanhas, muitos deputados pediram ao presidente da Câmara que adiasse as votações para a quarta-feira, dia 27 de maio. Mas o deputado Cunha foi inflexível, respondeu com palavras ríspidas, manteve o teto para 01h00 da manhã e a votação avançou madrugada adentro. Foi o suficiente para uma única votação: aquela que rejeitou a proposta de financiamento empresarial das campanhas. A votação que decidirá se o financiamento será misto (público + pessoa física) ou apenas público ocorrerá hoje, quarta-feira, 27 de maio.
Mas votação no dia de ontem foi histórica para a democracia brasileira e merece uma boa, longa e serena comemoração. Para aqueles intelectuais à direita e à esquerda, “sublimes” intelectuais dos jornalões e da academia, que têm cedido à ideologia da denegação da política, dos partidos existentes, e, em suma, da própria democracia brasileira, a questão a se resolver na roda de chope poderia ser o paradoxo da votação da reforma política no dia 26 de maio de 2015: se a democracia, como julgam os denegadores da política, consiste numa mera “forma”, num comitê da burguesia, num jogo de cartas marcadas, como a composição atual da Câmara dos Deputados foi conduzida a deliberar pela rejeição do sistema majoritário e pela proibição do financiamento empresarial das campanhas?
André Rocha é doutor em filosofia pela USP e pós-doutor em filosofia pela USP e pela Université Paris I –Pantheon Sorbonne.
*Fonte: http://www.viomundo.com.br/

sábado, 23 de maio de 2015

“Temos um Congresso de ladrões convocando CPIs e bandidos acusando gente séria de ser bandido”


Ciro Gomes

“Brasília está dominada por uma coalizão de gatunos”, diz Ciro Gomes

Por Marcelo Pellegrini e Wanderley Preite Sobrinho, em CartaCapital*

Agora na iniciativa privada, como chefe da ferrovia Transnordestina, o ex-ministro da Integração Nacional e ex-governador do Ceará Ciro Gomes não poupou o Congresso Nacional e as coligações partidárias durante sua participação na 3ª edição do Fórum Brasil promovido por CartaCapital, cujo tema neste ano é “Crescer ou crescer”. Para Ciro, o parlamento está dominado por ladrões.

Ciro participou de uma mesa de debate com o ex-ministro da Defesa e das Relações Internacionais Celso Amorim e o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), David Barioni Neto. Os três se reuniram na tarde desta sexta-feira 22 para falar sobre o tema “Exportações, o Caminho para Sair da Crise”. Segundo a falar, Ciro revelou seu pessimismo em relação à retomada do crescimento econômico: “O Brasil não tem projeto”, afirmou.

Ciro, candidato ao Planalto em 1998 e 2002, é difícil criticar os rumos da política industrial e de comércio exterior brasileira porque eles simplesmente não existem. “Temos de forçar a elite brasileira a ajuizar nossa agenda, que é inexistente. O Brasil não tem projeto. Qualquer bodega no Ceará tem projeto, mas o Brasil não.”

A culpa, afirmou Ciro Gomes, começa pelas alianças partidárias no Congresso, considerado o mais conservador desde a redemocratização do Brasil. “Brasília está dominada por uma coalizão de gatunos e incompetentes”, afirmou. “E isso é grave menos pela novela moralista e mais pelo cinismo de um Congresso de ladrões convocando CPIs e bandidos acusando gente séria de ser bandido”, disse.

Gomes poupou a presidente Dilma Rousseff das críticas, a quem considerou “uma exceção, porque é honrada e tem espírito público”.

O comentário de Ciro, ex-governador do Ceará, vai ao encontro do que afirmou seu irmão Cid, ex-ministro da Educação de Dilma Rousseff. Em evento na Universidade Federal do Pará, Cid disse haver no Congresso “400 ou 300 achacadores” se aproveitando da fraqueza do governo para levar vantagens. A frase provocou indignação contra Cid no Congresso, e ele acabou deixando o governo.

A terceira edição do Fórum Brasil faz parte da série Diálogos Capitais, uma iniciativa da Editora Confiança que busca apresentar e discutir temas de grande relevância para o País.
*Via Viomundo

BISNETO DE FARROUPILHA



"Pobre... Mas livre! Gauchito
no sol-a-sol, sou o que sou.
Pois nem dom Pedro Segundo
não pode – o senhor de um mundo!
dobrar o meu bisavô. (...)

E ao tranco do meu Lobuno,
passam por mim carros finos,
com espertos e ladinos
que a escovação empilchou.
Sigo... Às vez’ sem nenhum cobre,
sem que a secura me dobre!
– Se meu Velho está índio pobre,
porque a ninguém se dobrou.

Conterrianos, moços lindos,
com humildades de escola,
curvam a espinha de mola,
no culto de um ditador,
seja qualquer que ele for!
– Com a fumaça de um bom fumo,
chapéu torto, corto o rumo,
ao tranco do meu Lobuno,
sem dar louvado a um senhor."

Aureliano de Figueiredo Pinto

Paulo Pimenta: Folha de S. Paulo ataca quem investiga a Zelotes, operação da PF que flagrou empresas de mídia e patrocinadores



Folha de S.Paulo ataca quem investiga a Zelotes

Por Paulo Pimenta*l

Para minha surpresa, nesta quinta-feira (21), o colunista da Folha de S.Paulo Leonardo Souza iniciou uma “cruzada” contra todos aqueles que lutam para que não haja uma operação abafa sobre a Operação Zelotes. Acuada que está, a mídia faz diversas tentativas para desqualificar tanto a Zelotes quanto o episódio das contas secretas do HSBC na Suíça, conhecido como escândalo Swissleaks, pois ela não sabe QUEM as investigações poderão “pegar”.

O que se sabe é que nesses dois escândalos bilionários de sonegação há empresas de mídia e nomes ligados a grupos de comunicação envolvidos. Como a imprensa não controla esses episódios, ela busca estratégias para retirar a autoridade do trabalho investigativo da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, ou daqueles que buscam dar visibilidade à Operação Zelotes.

A imprensa, basicamente, não se ocupa da Operação Zelotes por três motivos: o escândalo bilionário não envolve a classe política (os envolvidos são empresas privadas, anunciantes da própria mídia); há grupos de mídia investigados; e por que parte da imprensa sustenta que sonegar é um ato aceitável, e que não se trata, portanto, de corrupção.

Chama atenção que o colunista Leonardo Souza jamais se deteve em profundidade ao assunto para informar à sociedade o que é o Carf, o que é a Operação Zelotes, como é que agiam as quadrilhas que se apropriaram de uma estrutura como o Carf para defesa dos seus próprios interesses. Pelo que se sabe, o colunista não moveu até agora uma palha para tentar esmiuçar o assunto. Quando não cala sobre a Zelotes, o colunista Leonardo Souza prefere fazer juízo de valor sobre a minha atuação, tentando colocar sob suspeita as reais intenções do nosso trabalho.

Lamento que, mesmo tendo gasto grande quantidade de papel e tinta acompanhando a Operação Zelotes e a nossa atividade parlamentar, o colunista da Folha de S.Paulo o faça sem reconhecer a realidade dos fatos, sob a frágil alegação de que os esforços engendrados por nosso mandato tenham a única finalidade de desviar a publicidade da operação Lava Jato. Qual o motivo de tratar a Lava Jato e a Zelotes como concorrentes, e não como casos de corrupção de forma semelhante, respeitando o direito que a sociedade tem de ser informada? Se o raciocínio do tal colunista procedesse, seria possível afirmar que a mídia só cobre a Lava Jato com objetivo de ofuscar a Zelotes.

Sim, Leonardo, que as autoridades investiguem a fundo a Lava Jato, a Zelotes, o HSBC, o Mensalão Tucano, o Trensalão Tucano de São Paulo e todos os casos de corrupção do país, bem diferente do que ocorria até o final dos anos 1990, quando muitos casos de corrupção eram engavetados. E que a imprensa, por sua vez, noticie todos os casos de corrupção do país.

E quando for cobrada de que não está cumprindo com o papel de informar e servir ao cidadão, de que está agindo como a quadrilha que atuava no Carf defendendo apenas seus próprios interesses, que a imprensa não busque o caminho dos ataques, da desqualificação e das suposições baseadas em ufanismos editoriais ideológicos. Que não seja autoritária como os censores da ditadura! Que não tente calar e sufocar a voz daqueles que buscam chamar atenção para a roubalheira que foi feita no Carf. Que não censure! Que não faça o que justamente critica. Combata a censura, a si próprio, e não quem defende a liberdade para se falar da Zelotes e de todos escândalos de corrupção.

Por respeitar e confiar na independência do poder judiciário é que buscamos tratamento isonômico a todas as investigações criminais envolvendo o desvio de verbas públicas. Acreditamos que entre os excessos a Operação Lava Jato e a negligência dedicada à Operação Zelotes deve existir um caminho do meio.

As estratégias da mídia são velhas conhecidas. O que há de novo é que, agora, não há mais como impedir que o público tenha acesso às informações de que os grandes grupos de comunicação estão envolvidos tanto no Swissleaks quanto na Zelotes, que apuram sonegação fiscal, corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

Infelizmente, a imprensa brasileira trabalha os casos de corrupção não a partir do ato em si, mas, sim, a partir de quem praticou a corrupção e quem está envolvido nesses escândalos. Só depois desse filtro, dessa censura prévia, e só depois de verificar se não irá atingir interesses dos grupos econômicos influentes, é que a imprensa decide qual o tamanho da cobertura jornalística que dedicará, ou, então, se irá varrer os acontecimentos para debaixo do tapete, sumindo com esses fatos do noticiário.

A mídia conhece, mais do que ninguém, os limites da sua liberdade de expressão, até onde pode ir e sobre o quê e quem falar. Nesse sentido, e parafraseando o próprio colunista Leonardo Souza, “é uma pena que o ímpeto apurativo da imprensa brasileira não se dê pela vontade genuína de ver um Brasil limpo da corrupção”.

*Paulo Pimenta (foto), jornalista e deputado federal pelo PT-RS. - fonte: Viomundo

terça-feira, 19 de maio de 2015

A autoridade moral de Fernando Henrique Cardoso - I -- O ex-presidente, que pontifica lições de boa governança para Dilma Rousseff, foi reeleito com dinheiro dos bancos e depois jogou o Brasil na crise




Por Maria Inês Nassif, na Carta Maior* 

A crise econômica vivida pelo governo Dilma Rousseff, no primeiro ano de seu segundo mandato, nem de longe tem a gravidade da que balançou o país no primeiro ano do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). A crise política enfrentada por Dilma apenas é mais intensa que a de FHC nesse primeiro ano de segundo mandato porque ele tinha uma base de apoio que, embora mais vulnerável do que a dos primeiros quatro anos, reunia elementos de coesão ideológica inexistentes na atual coalizão governista. FHC apenas tinha uma posição um pouco mais confortável do que tem Dilma agora.

No governo FHC, a aliança parlamentar se fazia do centro à direita ideológica. Assim, mesmo que houvessem discordâncias pessoais na base parlamentar e quedas-de-braço do Congresso com o Palácio do Planalto – e o então senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) fazia questão que isso acontecesse com regularidade –, nas questões fundamentais para o projeto econômico os interesses convergiam. Ajudava a constituir maiorias parlamentares o apoio dos meios de comunicação às chamadas “reformas estruturais” – e a pressão de fora para dentro do Congresso tinha o poder de resolver as disputas mais mesquinhas.

Nas gestões do PT, a diluição ideológica do apoio parlamentar – ao centro, à direita e à esquerda – tornaram a vida dos presidentes Lula e Dilma mais difícil. No governo Dilma, a exposição de uma fragilidade econômica deu à mídia oposicionista o elemento que faltava para pressionar os parlamentares, de fora para dentro do Congresso, a assumirem posições contrárias ao governo; e, junto à opinião pública, jogar elementos de insegurança e desqualificar toda a gestão anterior.

Ainda assim, e apesar da propaganda contrária ao governo Dilma, não se pode atribuir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso qualidades morais para pontificar julgamentos sobre política econômica, ajuste fiscal, relacionamento com a base parlamentar, relações apropriadas com financiadores de campanha ou de fidelidade a promessas eleitorais da atual presidente. Se sua experiência ajudar em alguma coisa a crise de agora, é para dar o exemplo de como não fazer o ajuste fiscal, de como não se relacionar com a base parlamentar e de como não fazer política eleitoral.

No ano de 1999, segundo os jornais, o Brasil pagava a conta do governo anterior tucano, que manteve a estabilidade de preços às custas de uma âncora cambial artificial e de uma política fiscal rigorosa, que resultou numa enorme fragilidade externa, em grande desemprego, pífio crescimento econômico e, ironicamente, aumento da inflação.

A conta foi alta. Em 1998, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4%, e em 1999, 0,5%; o dólar, que valia R$ 1,2 em 1998, saltou para R$ 1,8 no ano seguinte. A inflação foi de 8,9% em 1999; o ajuste fiscal do governo imprimiu uma inflação de 19,2% em 1999 sobre os preços monitorados (petróleo e energia). O consumo das famílias teve crescimento negativo de 0,7% em 1998 e apenas 0,4% positivo no ano seguinte. O investimento público federal caiu de 2,1% do PIB em 1998 para 1,4% em 1999; a taxa de investimento, de 17% para 15,7% do PIB; a formação bruta de capital fixo, que sofreu variação negativa de 0,2% em 1998, chegou ao fundo do poço em 1999, com queda de 8,9% em relação ao ano anterior.

As reservas internacionais, que eram de US$ 52,1 bilhões em 1997 e haviam caído para US$ 34,4 bilhões em 1998, chegaram ao perigoso nível de US$ 23,9 bilhões em 1999. O saldo da balança comercial no final do ano eleitoral de 1998 foi negativo em US$ 6,6 bilhões, e em 1999 de US$ 1,3 bilhões. Em 1998, o Brasil perdeu 36 mil postos de trabalho, e 582 mil em 1989. 

Eleições caras

Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso conquistou o seu segundo mandato no primeiro turno, com a ajuda de financiadores privados de campanha que haviam sido enormemente beneficiados no seu primeiro governo e no governo Itamar Franco, quando o PSDB ocupou o comando econômico que permitiu ao partido e a FHC se credenciarem como os pais do Plano Real nas eleições de 1994.

Segundo a Folha de S. Paulo (“Bancos lideram doações para campanha de FHC”, 26/11/1998 e “Bancos lideraram contribuições a FHC”, 6/6/1999), bancos e instituições financeiras foram os principais doadores de campanha, e contribuíram com 25,7% do total de R$ 43 milhões arrecadados pelo comitê do presidente reeleito.

É o próprio jornal que lembra a razão do interesse de financiadores de campanha do mercado financeiro pelo candidato: “Em novembro de 95, o governo FHC criou o Proer, o programa de socorro a bancos em dificuldade. Já foram injetados R$ 21 bilhões para financiar fusões bancárias”, diz na material de 1998.

Na matéria publicada em 1999, o jornal afirma: “No primeiro mandato de FHC, as instituições [financeiras] viveram anos de prosperidade, segundo balanços divulgados pelo Banco Central, e escaparam dos impostos, segundo a Receita Federal. A soma do patrimônio líquido do conjunto das 223 instituições financeiras mais do que duplicou no periodo, passando de R$ 26,426 bilhões para R$ 55,653 bilhões”.

Além disso, FHC teve uma generosa contribuição de empresas com interesse direto no processo de privatização levado a termo pelo PSDB desde o governo Itamar. Figuravam entre os dez maiores financiadores da campanha de 1998 de FHC a Inepar (que participou do Consórcio Telemar), a Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), a Companha Siderúrgica Nacional (CSN, privatizada em 1993, quando FHC era ministro de Itamar), a Copesul (privatizada em 1992) e a Copene (privatizada em 1993). A Andrade e Gutierrez, que também fez parte do Consórcio Telemar, figurava no 11o. lugar entre os financiadores de campanha do tucano.


*Fonte: http://cartamaior.com.br/

domingo, 17 de maio de 2015

O viés sinistro da reforma política



O Brasil tem avançado no debate das medidas para o combate à corrupção. Eliminar o poder do dinheiro na política é um passo indispensável.

Por Jeferson Miola*

Nos círculos políticos brasileiros, o debate sobre a reforma política está agendado a partir de um viés estranho – para não dizer sinistro.

Ilude-se quem pensa que a proibição do financiamento empresarial de partidos políticos e de campanhas eleitorais – que está na raiz da corrupção e da distorção da representação popular no Brasil – ocupa o centro das prioridades.

Estranhamente, o debate sobre a reforma política está sendo agendado com o objetivo de eliminar um dos únicos aspectos razoáveis do atual sistema político, que é a representação proporcional das bancadas parlamentares.

A eleição de parlamentares para o Congresso Nacional, para as Assembléias e Câmaras Legislativas de acordo com a proporção de votos obtida por cada partido político em cada eleição, é o princípio que melhor assegura a pluralidade e a diversidade das correntes de pensamento que formam a paisagem ideológica do país.

Por mais imperfeito que possa ser o sistema proporcional, e por mais significativas que possam ser as idiossincrasias dele derivadas [como, por exemplo, a atual hiperfragmentação parlamentar], sua eliminação empalideceria a cor da democracia brasileira.

A distritalização é a proposta regressiva que agenda o debate sobre a reforma política. Seus defensores – setores da oposição conservadora, expoentes da própria base do governo e oligopólios midiáticos – propõem a adoção de votos majoritários por distritos eleitorais [territórios menores que Estados e Municípios] em substituição à eleição proporcional em cada circunscrição eleitoral [Estados e Municípios].

Os distritos eleitorais fazem o Brasil retroagir ao sistema binário da ditadura militar, com o agravante de paroquializar a representação nacional. É uma dedução lógica: no distrito prevalecem as lógicas clientelistas, imediatistas e localistas, em prejuízo de uma visão de conjunto do país, dos seus problemas, dos seus desafios e das suas necessidades estratégicas.

Não é só uma perda democrática. Acaba sendo, também, um fator limitador do desenvolvimento nacional, uma vez que o pensamento político médio não estará informado por uma perspectiva estratégica e de futuro do país, mas sim da paróquia.

A proposta de distritalização da eleição é mais que retrocesso; é diversionismo em relação à reforma necessária. A resposta dos defensores da distritalização ao clamor público por moralidade e ética na política diante da corrupção empresarial na Petrobrás – que corrompeu inescrupulosos políticos e funcionários da empresa –, é desalentadora.

As eleições no Brasil são as mais caras do mundo; custaram mais de 5 bi em 2014. A injeção de formidável fortuna é estimulada para uma alquimia indecente que mistura dinheiro e política. Financiar campanhas de políticos é um investimento com retorno certo aos financiadores, porém com custo elevado para o erário e para a democracia.

O financiamento multimilionário de campanhas agride a democracia, pois distorce a representação política, frauda a vontade popular e torna injusta a competição eleitoral.

A eleição se converte em concurso de cartas marcadas: são eleitos, na maioria, os candidatos financiados pelo poder econômico. A maior parte da sociedade, composta pelos assalariados, setores médios, negros, mulheres, jovens, fica sub-representada. Os empresários são menos de 3% da PEA, mas estão representados com quase metade das cadeiras do Congresso; 85% da população brasileira reside nas cidades, mas a bancada ruralista tem quase 30% de representação parlamentar.

A relação entre dinheiro e sucesso eleitoral é automática: ¾ dos deputados eleitos para a legislatura conservadora presidida por Eduardo Cunha foram eleitos com as campanhas mais caras.

O poder econômico, com sua capacidade de pressão e veto, não só captura a agenda democrática, como condiciona a gestão do Estado. O domínio dos capitais privados incentiva a compra de votos, os fundos ilegais, a formação de patrimônio em paraísos fiscais, negócios ilícitos, chantagem por cargos, dirigismo das licitações, favores públicos, propina, corrupção, requerimentos parlamentares chantagistas.

Esta realidade desafia a democracia contemporânea. Faria bem ao debate público brasileiro conhecer o processo em andamento no Chile, cujo projeto do governo “contém diversas propostas para lutar de forma eficaz contra os conflitos de interesses, o tráfico de influências e a corrupção” [documento presidencial, disponível na internet].

É estranho – para não dizer sinistro – que, mesmo com a aprovação pela maioria do STF da ADIN da OAB que proíbe o financiamento empresarial das eleições, o pedido de vistas do Ministro Gilmar Mendes continue trancando a decisão final do Supremo e, em consequência, impedindo a imediata aplicação desta medida saneadora.

Eliminar o financiamento empresarial é fundamental, mas a reforma política deve avançar também com o fim das coligações proporcionais, o voto em listas e a limitação do número de mandatos eletivos – para eliminar os defeitos do sistema proporcional.

O Brasil tem avançado no debate das medidas para o combate à corrupção. Eliminar o poder do dinheiro na política é um passo indispensável para que nossa democracia possa avançar na afirmação da República do Século 21.

*Jeferson Miola (foto), integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial. (Postado originalmente na Agência Carta Maior)

sábado, 16 de maio de 2015

Poema nostálgico e etílico



*Para o amigo Holte Ramos de Oliveira (Didi), companheiro e protagonista deste poema;

*Para o amigo Danilo Nunes Neto, grande companheiro de viagem!


Poema nostálgico e etílico

Entre um gole e outro e
descobrindo a nós e ao mundo
entre um gole e outro de uísque com campari
e degustando a noite abrigados
no seio da Barbarella

Entre um gole e outro
e o xis completo
e Guevara com seu diário ensanguentado
e as revoluções que articulávamos
e que necessitávamos fazer
no país
no Mundo
e em nós mesmos

Entre um gole e outro
e muitos mais
e muitos porres etílicos
e mentais

Meu amigo e eu e às vezes
meia dúzia mais de convivas
divagando seriamente ou só
matando o tempo
nas mesas do bar simplório
mas tão aconchegante
ponto de encontro dos jovens notívagos interioranos

Noites longas que passavam
tão rápidas
no seio da Barbarella
jovens curiosos/audaciosos
preocupados ou não
com as questões do Espírito
e do Corpo
e alguns com o povo sofrido e suas mazelas
Jovens estudantes entupidos de sonhos e às vezes
de xis & uisque com campari
no seio caliente da Barbarella

II

Enquanto nas selvas de pedra das metrópoles
ou nas selvas espessas do Araguaia
alguns combatiam e muitos sucumbiam
e nem imaginávamos a forma
e de como se deram
seus estertores gloriosos
heroicos e obscuros
e a imprensa amordaçada ou cúmplice contribuia com a noite escura
que cobria o país
e de quase nada sabíamos

Enquanto a maioria preocupava-se com sua vidinha
sem sentido parasita egoísta e barata
novelas futilidades e futebol aos domingos

Enquanto na calada da noite
padres e freiras e artistas
eram sequestrados
e operários e estudantes resistindo
ou sucumbindo na clandestinidade e na tortura
a Guerra intestina insana e desigual
& o outro brasil dormindo às margens plácidas
sem escutar o brado retumbante
das vítimas civis trucidadas
nos subterrâneos funéreos doentios das câmaras
medievais verde-olivas

Enquanto em outro extremo do Planeta as rubro-negras & infernais
bombas e metralhas covardemente lançadas pelo império
recheadas de ódio e napalm
traziam o caos queimando a Terra
e as Carnes inocentes
chamas humanas correndo desesperadas em My Lai

E a fome & a Miséria reinando absolutas & trágicas
no Terceiro Mundo Negro Amarelo Mestiço
Ameríndio
e o os mesmos de sempre banqueteando-se
com o suor e o sangue de suas vítimas
(acusadora culpa pairando incisivamente no Espaço e no Tempo)

III

Noites de boemia
noites de Barbarella
período de gincanas bailes de formatura
amor/paixão às vezes arrasadoras e muitas outras
não correspondidas
& o tédio inquietando a alma
& os caminhos chamando ao desafio
do conhecimento & da aventura
as viagens de carona
os flagelos
as buscas
estradas tortuosas
trilhas na serra
rotas do mar
as areias de Tramandaí
acampamento hyppie barracas coletivas
solidariedade & cumplicidade
nas rochas de Torres & o mar & a lua
& e sol escaldante por testemunha
a feira de malucos na praça central de Curitiba
as selvas de pedra paulistanas e depois
a emoção de conhecer o Rio
Copacabana Ipanema Leblon
a Barra como destino e
rudimentar e perigoso abrigo noturno

A volta dificultosa
fome e frio nas estradas chuvosas
incipiente maturidade forjada na rebeldia e
no sofrimento

E tudo isso acontecendo dia-a-dia que representavam
meses eternos
anos que pareciam congelados
a impaciência juvenil elevada
à máxima potência

Condores sobre os Andes
Roncinantes oferecendo parceria para
o desafio
das estradas longas e misteriosas
promessas de aventuras
e o enorme mundo a descobrir

IV

'Companheiro, quem responderá nossas perguntas
nossas dúvidas atrozes que machucam
que subvertem a lógica conhecida
que torturam o corpo
& a alma
e que
como uma peste profana
atemporal
quase destroem nossas incipientes e frágeis
certezas outrora absolutas?
Onde encontrar o Fio da Meada da Verdade?
onde estará o Começo do Caminho?'

V

Entre um gole e outro e buscando descobrir
as Verdades tão palpitantes e latentes
trocando nas geladas noites de julho
o aconchego dos lares aquecidos
pelas intempéries das ruas molhadas pelo orvalho
e fustigadas pelo minuano e pela indiferença
geral

Meu amigo e eu e às vezes mais
meia dúzia de jovens camaradas
ou curiosos observando ou mesmo participando
de nossas parcas e imprecisas
mas cruciais discussões filosóficas/políticas/enciclopédicas
-sem ainda termos cruzado as Fronteiras dos Limites
-sem ainda termos comido o pó das Estradas do Inferno
-sem termos ainda sofrido o bastante e sabido
o quanto haveríamos e poderíamos
ainda suportar

VI

Assim aconteceu nos chamados 'verdes anos'
nem tão distantes - assim parece, agora -
meu amigo e eu
entre um gole & outro
de uísque com campari e discutindo
poesia/política/aventuras & rock in roll
naqueles idos de 70
descobrindo a Nós e ao Mundo
sob o olhar cúmplice e curioso
da insinuante garçonete morena
e prestativa

Sonhos & paixões
nas trilhas
nas estradas
nos corações & mentes
e nas mesas da Barbarella.

        Júlio Garcia in  http://arquipelago.blogspot.com.br/


*Este Poema relata episódios vivenciados pelo Poeta  entre os anos de 1974 e 1976