Por Moisés Mendes*
Veja os personagens dessa lista de crueldades, arbitrariedades e atitudes fascistas e imagine quais dessas figuras poderão um dia sofrer punições por ações criminosas.
Uma professora de pós-graduação em farmacologia do Amapá rejeita alunos que ela considera esquerdistas.
Um sargento conspira abertamente contra a posse de Lula dentro do Gabinete de Segurança Institucional do governo e incentiva a morte de petistas.
Um juiz do TCU arregimenta tios septuagenários do zap para o golpe, porque há um movimento nas casernas e uma guerra civil está a caminho.
Um adolescente filho de um armamentista gruda uma suástica no ombro e sai a matar professores e estudantes no Espírito Santo.
Um grupo invade uma escola em Contagem e picha as paredes com símbolos nazistas.
Manés continuam agredindo pessoas anônimas ou famosas nas ruas, aqui e no Exterior.
Generais de pijama assinam manifestos para que as Forças Armadas defendam o povo e assumam protagonismo em defesa da ‘democracia’ deles.
E a jornalista Malu Gaspar informa no Globo que ministros do Supremo mandaram um recado a Bolsonaro: se quiser contar com “a boa vontade” do STF depois de deixar o governo, ele deve parar de falar sobre as urnas e desmobilizar os patriotas acampados diante dos quartéis.
A boa vontade é o nome que pode ser dado a uma trégua, um armistício, uma pegada mais leve, uma vista grossa ou um deixa-pra-lá..
Boa vontade é do que os golpistas mais desfrutam desde muito antes da eleição. Eles estão à sombra da boa vontade das autoridades desde antes do golpe de 2016 contra Dilma.
É um cenário que já resolveu dúvidas básicas. Esgotou-se todo o debate sobre o que é crime ou não nas ações que questionam a eleição, promovem transes nas estradas e nos quartéis e disseminam violência e o plano do golpe em grupos de zap e nas redes sociais.
Não há mais o que discutir sobre a configuração de atentados ao Supremo, às eleições, à Constituição e à democracia.
Mas não se esgotou ainda o questionamento sobre a capacidade de reação das instituições, para que atendam às suas prerrogativas e obrigações e às expectativas dos democratas.
Estamos diante de uma pergunta que se renova a cada ataque e a cada omissão: o sistema de Justiça tem medo dos manés e dos chefes dos patriotas?
Se não teme, se já calculou o risco político do fim do imobilismo, porque as polícias, o Ministério Público e o Judiciário não reagem?
Nem seria uma reação por conta própria, mas em atendimento às ordens do ministro Alexandre de Moraes.
Por que nenhum dos que atentam contra as instituições e a democracia, bloqueiam ruas e pregam atos criminosos diante dos quartéis foi preso em flagrante até hoje?
Por que as autoridades “pedem” que os patriotas desocupem as ruas, se a polícia nunca pediu licença aos movimentos sociais?
As instituições temem os generais. Não há controvérsias jurídicas, nem calibragem de ações para que as autoridades sejam razoáveis. Não existem desentendimentos envoltos em leis confusas.
O que existe é o temor de agir, porque a extrema direita nunca foi contida e reprimida e não será desta vez que sofrerá contenção por estar acampada na frente de quartéis.
Das figuras da lista do começo desse texto, talvez vá sobrar para os mais fracos, como sempre acontece. O sargento, com o GSI sob novo comando, poderá ser empurrado para um almoxarifado.
A professora, que já pediu desculpas, entrará em licença e voltará numa função burocrática, para que não perca o emprego.
E o resto, os poderosos que desfrutaram da proteção dos militares até agora? E os milionários financiadores das fake news e das arruaças pelo golpe?
E os filhos de Bolsonaro? E os vampiros civis e fardados das vacinas na pandemia, que até hoje não foram incomodados pelo Ministério Público?
Esses podem estar apostando na boa vontade de que fala a jornalista. Comportem-se, porque estaremos acompanhando seus movimentos.
Escapem e deixem a chinelagem entrar nos bretes dos sacrifícios. Façam o que a direita sempre fez no Brasil das anistias. Empurrem as culpas a quem pode ser punido.
Desfrutem das cordialidades que reaparecem nos piores momentos e eliminam quaisquer resquícios de má vontade com os criminosos de sempre.
Na hora certa, as boas vontades dão de comer na boca do fascismo.
*Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero Hora, de Porto Alegre. -Via Brasil247
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