sexta-feira, 17 de junho de 2022

Parece que todos morremos um pouco com Bruno e Dom


Por Bernardo Wittlin*, especial para o Viomundo**

Parece que todos morremos um pouco com Bruno e Dom.

Morreu mais um pouco o ideal de Brasil afável, civilizado, humano e sensível. 

Depois de quase um quadriênio deste governo nefasto, o sentimento é de muita tristeza e muita raiva, que beira já o insuportável. 

Para mim, essa tristeza ainda tem um amargor especial, atada pelos fios das minhas memórias. 

Morei um ano em Tabatinga, na mesma região do Vale do Javari, assim que me formei na faculdade de medicina, servindo ao Exército. 

Lá atendia militares, civis não índios, brasileiros, peruanos e, por vezes, colombianos, além de indígenas de diversas etnias. 

Fiz grandes amigos, que guardo até hoje. Sempre foi uma região de conflitos, crimes, tráfico e assassinatos, em grande parte pois apartada da lei. 

De lá pra cá, o que já era complicado piorou e muito. À época, era 2008, auge do governo Lula, e achava mais ridículo que detestável um certo militarismo ainda vigente em parte da instituição – retrógrado, saudoso da ditadura, profundamente antiindígena e ocupado com inutilidades. 

Lembro-me de um capitão bradar à frente da tropa: “Minha avó é índia” – naquele tipo de frase tipicamente brasileira que pretende legitimar a afirmação adversativa que vem em seguida – “mas eu digo mesmo: índio é tudo vagabundo!” 

Não imaginava que chegaríamos até aqui na História e que aquele tipo de militarismo que me parecia (ingenuidade minha) desprezível e puído, nos assombraria novamente. 

Imaginem minha raiva quando li aquela nota do exército dizendo que poderia procurar os desaparecidos mas não estava fazendo porque estava aguardando ordens superiores. 

Quero acreditar que, passado esse capítulo sombrio da História, haverá a emergência de militares para restaurarem a respeitabilidade das FFAA. 

Forças armadas que sejam realmente compromissadas com a soberania e o desenvolvimento nacional, compromissadas com o povo brasileiro mesmo, incluindo e sobretudo os que mais sofrem, que são explorados, que têm seus direitos, terras e oportunidades usurpadas. 

Porque símbolos nacionais, como a bandeira e o hino, sem um povo e sem toda a sua riqueza cultural, não são nada, senão um imenso vazio.


*Bernardo Wittlin é médico 

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