quinta-feira, 20 de julho de 2023

Escondida numa suposta neutralidade, mídia corporativa aprova o hino ao racismo do RS

 

Tropeiro negro escravizado conduzindo tropas no Rio Grande do Sul do século 19, em gravura do viajante francês Jean Baptiste Debret. Imagem: Reprodução

Um hino ao racismo

A supremacia branca reage, em escala global, na busca de manutenção de privilégios 

Por Sandra Bitencourt*, em A Terra é Redonda 

Os últimos dias têm sido pródigos em manifestações racistas que aparecem em forma de notícias, notas e opiniões em diferentes espaços de mídia, mostrando que a supremacia branca reage, em escala global, na busca de manutenção de privilégios a partir da odiosa ideia de que determinadas pessoas possam ser inferiores em direitos e reconhecimento. 

O fato mais recente é a movimentação da extrema direita no parlamento gaúcho para impedir o debate e evitar que um trecho do hino riograndense seja revisto na medida em que sua conotação é ofensiva à parcela significativa da nossa população. 

Qual o papel e a posição do jornalismo frente à existência de categorias raciais e da desigualdade racial? 

Escondido numa suposta neutralidade, mantém sua contribuição a um sistema que reproduz a exclusão de vozes e as ações afirmativas de igualdade. 

É longa, pelo menos no Brasil, essa trajetória do jornalismo profissional e da mídia corporativa. Vamos aos conceitos e aos fatos. 

O que parece uma discussão trivial no caso do hino riograndense que se atreve a dizer que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo” na verdade revela uma complexa construção que ao longo dos anos protege elites e massacra pessoas. 

O que é que entendemos como raça? 

Segundo conceito de Bashir Treiler (2016) raça é um sistema de classificação humana que objetiva classificar humanos em categorias distintas de acordo com uma constelação de traços físicos, cognitivos e culturais, cuja existência se acredita ser hereditária, distintiva e largamente inescapável. 

Cientificamente não tem qualquer amparo. 

Trata-se de uma construção social em que um grupo dominante cria hierarquias de seres humanos e sistemas de lógica racial que garantem sua própria dominação racial. 

É algo tão sofisticado, um construto que envolve várias instâncias e expressões das sociedades, que logra persistir por séculos.

Quando pensamos em avanço, em mecanismos para que as categorias raciais incorporem não brancos, especialmente quando novas pessoas surgem através de processos de conquista e emancipação, o recuo se manifesta. 

Apesar da retórica contrária, e da linguagem de liberdade e igualdade em seus documentos fundacionais, os Estados Unidos da América adotaram o racismo desde sua fundação. 

Ao longo dos quase 250 anos de existência da nação, as elites brancas, nos Estados Unidos, deliberadamente construíram e sustentaram uma sociedade baseada na supremacia branca. Essa sociedade escravocrata serve de inspiração a muitos. 

A Suprema Corte dos Estados Unidos estabeleceu na semana passada, que as universidades do país não podem mais levar em consideração a raça como um dos fatores determinantes no ingresso de estudantes. 

A resolução termina com uma “ação afirmativa” ou discriminação positiva que há décadas vinha mitigando as desigualdades raciais nas instituições acadêmicas. 

Embora a sentença anule especificamente os programas de admissão por raça instituídos nas universidades de Harvard e da Carolina do Norte, seus efeitos se estendem a todo o sistema de ensino superior do país. 

No Brasil, a adoção das cotas raciais foi um processo de extrema disputa, com papel vergonhoso de boa parte da imprensa. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo (via Viomundo)

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