segunda-feira, 5 de abril de 2021

Poema

 

Atitude

'A las cinco de la tarde.

¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!

¡Eran las cinco en todos los relojes!'

(Federico Garcia Lorca)


Eventualmente, nas ruas,

se escuta uma frase - indignada e rude:

'Mais do que na hora está

de tomar-se, enfim, uma atitude'...

Enquanto os ponteiros aproximam, inexoráveis,

das cinco 'em punto de la tarde'


Os meninos embrutecidos

& os mendigos amortalhados

disputam míseros centavos

nas sinaleiras incontáveis da metrópole

(Pessoas morrem, são pisoteadas

outras, insensíveis, famintas, doidas

cambaleiam - sob o sol que arde.

Enquanto os ponteiros aproximam, inexoráveis,

das ‘cinco em punto de la tarde')


As meninas envelhecidas

& as prostitutas decadentes

disputam velhos 'clientes'

nas esquinas

Enquanto o céu borda-se de tristes mantos cinzentos

plúmbeos,

prenunciando uma noite fria, tormentosa

que - talvez -

sensibilize sua frigidez

criminosa ...

(Enquanto os ponteiros aproximam, inexoráveis,

das ‘cinco em punto de la tarde')


A multidão dirige-se em disparada

para os terminais das paradas

dos ônibus

-manada-

para o trem/metrô,

para o mercado

ou farmácia

(ironia)

Outras tão

perdidas

quanto as demais

têm pressa ... & no intuito de satisfazerem

suas vidas

correm febris em direção aos bares

(em vão)

para aplacarem a homérica sede

(agonia)


Nas ruas, martela a frase-

com razão, indignada, rude:

'Mais do que na hora está

de tomar-se uma atitude'!


Enquanto a semana se esvai

afogando-se lentamente, sem alarde

na sexta-feira outonal

E os ponteiros ultrapassam, finalmente,

as ‘cinco em punto de la tarde'...

                           (Júlio Garcia - 2011)

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