Por Luis Felipe Miguel*
Cid, que não é tão tolo quanto parece, trocou de advogado faz pouco tempo. O novo é um especialista em delações premiadas. O recado foi dado. O comando do Exército mostrou que entendeu. Enquanto isso, o ministro da Defesa de Lula, o indefectível José Múcio, corre para defender os generais.
O coronel Mauro Cid optou por ficar calado na CPI. Já era esperado. A surpresa foi ele ir fardado.
Pior, o comando do Exército fez questão de anunciar que partiu dele a orientação para que Cid comparecesse assim.
Quando a coisa pegou um pouco mal, o Exército adotou sua manobra militar favorita: mentiu. Disse que era regra que todos os militares da ativa depusessem fardados.
Mas Jean Lawand, coronel da ativa e conspirador golpista como Cid, o do “sem aloprar”, prestou depoimento vestido de civil, há duas semanas.
O que o Exército sinaliza é que está do lado de Cid, tanto que se dispõe a intimidar o Congresso.
Certamente não é uma manifestação de solidariedade ao coronel, nem mesmo deferência a seu pai, também Mauro Cid, que é general de pijama. O Exército teme que ele dê com a língua nos dentes e comprometa gente graúda, de generais do Alto Comando até o próprio Jair.
Cid, que não é tão tolo quanto parece, trocou de advogado faz pouco tempo. O novo é um especialista em delações premiadas. O recado foi dado. O comando do Exército mostrou que entendeu.
Enquanto isso, o ministro da Defesa de Lula, o indefectível José Múcio, corre para defender os generais.
Afirmou que Cid fardado “não foi afronta” ao Congresso. Antecipou julgamento afirmando que o comando do Exército “não participou daquilo” – e falou “aquilo” para não ter que falar “golpe”. Elaborou uma “tese” dizendo que os militares estão divididos entre “legalistas” (onde???) e “indignados”.
Sim, “indignados”. É quase um elogio ao caráter dos golpistas.
Lula está mexendo no governo para acomodar o Centrão. Vai ceder ministérios, a Caixa Econômica, o escambau. É o jogo, dirão os pragmáticos.
Pois é em nome do realismo político bem compreendido que Lula precisa trocar seu ministro da Defesa, colocando no cargo alguém comprometido com o primado do poder civil. Sem isso, a democracia que queremos construir sempre será frágil e instável.
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*Luis Felipe Miguel é doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasilia (UnB), onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). Entre os livros de sua autoria estão Mito e discurso político (Editora Unicamp, 2000), Política e mídia no Brasil: episódios da história recente (Plano, 2002), O nascimento da política moderna (Editora UnB, 2007), Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia (com Flavia Biroli, Editora Unesp, 2011), Feminismo e política: uma introdução (com Flavia Biroli, Boitempo, 2014), Democracia e representação: territórios em disputa (Editora Unesp, 2014) e Consenso e conflito na democracia contemporânea (Editora Unesp, 2017).
**Via Fórum21
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