sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Flavio Wittlin: Como judeu brasileiro e polonês, peço perdão ao povo palestino pela enésima vez

 

Mural “Coexistência – Memorial da Fé por todas as vítimas do Covid-19”, à avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, em São Paulo. Obra do muralista Eduardo Kobra, foi inaugurado em 6 de maio de 2021


 Antes que as nossas lágrimas sequem 

“Uma boa cabeça e um bom coração formam sempre uma combinação formidável.” Nelson Mandela 

Por Flavio Wittlin* 

Aviso aos cínicos de plantão: nada de achaques com silogismos banais e vazios me chamando de antissemita, porque isto não funciona mais. 

Gaza é um Gueto de Varsóvia enviesadamente devolvido, banalizado por uma geração de judeus que teve muitos de seus ascendentes tiranizados pelos nazis. 

Como judeu brasileiro e polonês, que tem histórico de família trucidada nos campos de Auschwitz e Łódź, e que hoje possui um núcleo familiar multiétnico assentado nas três grandes religiões monoteístas, peço perdão ao povo palestino pela enésima vez. 

Peço perdão pelos crimes de lesa-humanidade dos expansionistas senhores da guerra de Israel. 

Peço perdão pelo apoio que os grandes poderes imperiais emprestam a Netanyahu, como fizeram no passado com os ogros Menachem Begin e Ariel Sharon. 

Peço perdão pelo jogo duplo de sempre, conduzido pelas ditaduras e monarquias árabes quando tratam da causa palestina. 

Peço perdão às crianças e aos jovens, às mulheres e aos homens, às gestantes e não gestantes, aos idosos e inválidos palestinos, confinados na Faixa e na Cisjordânia pelos grandes interesses neocoloniais, sub imperiais e imperiais. 

Peço-lhes perdão com o meu interior mais uma vez dilacerado, pungido e quebrado inconsolavelmente. 

Sem acobertar ou contemporizar com a violência espúria do extremismo palestino, manifesto com igual e até maior intensidade meu inconformismo com a ocupação israelense dos territórios palestinos, em escala incomparavelmente mais opressiva e pusilânime, e com o cinismo impiedoso da dupla moral dos poderes imperiais – Putin no TPI, Netanyahu livre e solto para barbarizar. 

Israel, dirigido e unido pelo corrupto e iliberal senhor da guerra Netanyahu, corre agora um risco real de enfiar sua democracia liberal definitivamente no abismo. 

*Flavio Wittlin, médico graduado na UFRJ e mestre em saúde pública pela ENSP/Fiocruz

**Fonte:  Viomundo

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