Uma das
vantagens de se poder acompanhar as sessões da Câmara ao vivo é a oportunidade
de ver o desenrolar dos debates quentes. A desvantagem é a certeza de que tudo
o que é ruim sempre pode piorar.
Na
noite em que Eduardo Cunha deu seu golpe regimental para aprovar a redução da
maioridade penal, brilharam aliados seus que estão tão à vontade no plenário
quanto num camburão ou num Cidade Alerta.
A
bancada da bala tem 21 membros na Câmara. O relator da PEC 171 é um deles, o
deputado Laerte Bessa, do PR. Em sua proposta original, o ex-delegado da
Polícia Civil do Distrito Federal propusera a diminuição da idade penal para
todos os crimes.
Bessa
se disse “cansado dos esquerdistas” que lhe faziam oposição. Sobre as condições
do sistema penitenciário, acha que “os estados darão um jeito de arrumar esses
presídios”. O destempero é um traço particular. Em 2009, foi chamado ao palco
de um show de Elza Soares em Brasilia.
Uma
vaia estrepitosa o recepcionou. Bessa perdeu a classe. “Isso é um desrespeito,
seus vagabundos, seus frouxos. Muitos de vocês que estão me vaiando são os
mesmos que eu já coloquei na cela”, afirmou, chamando o pessoal para a briga.
A
bancada da bala é a bancada evangélica por outros meios. A agenda é a mesma, o
grande líder é Cunha, a desinteligência é equivalente, mas há suas
peculiaridades. Sob o nome eufemístico de “Frente Parlamentar da Segurança
Pública”, congrega homens das polícias militar, civil e federal, além do
exército e dos bombeiros.
Como
ocorre com os pastores e bispos, usam a patente como epíteto eleitoral. Assim
temos figuras como Delegado Edson Moreira, Delegado Éder Mauro, Delegado
Waldir, Capitão Fábio Abreu, Capitão Augusto, Major Olímpio, Cabo Daciolo e
Cabo Sabino, entre outros. Os Bolsonaros estão nessa também.
São
financiados pela indústria de armamentos. A Taurus, a Aniam (Associação
Nacional da Indústria de Armas e Munições) e a CBC (Companhia Brasileira de
Cartuchos) pagaram por campanhas. Treze dos membros são gaúchos (as fábricas
estão sediadas no Rio Grande do Sul).
O termo
“delegado” vem dos programas de rádio e televisão que grande parte deles
apresentava e que têm uma audiência cativa. Costumam ser citados com frequência
por gente como Datena ou Marcelo Rezende.
Estão
absolutamente em casa. Recentemente, o Capitão Augusto presidiu a Câmara a
convite de um membro da cúpula.
José
Augusto Rosa só anda vestido em sua farda da PM paulista, é orgulhosamente a
favor da ditadura — ah, essa democracia — e acha que as torturas foram “fatos
isolados”.
Está
tentando fundar o Partido Militar Brasileiro. “É o primeiro assumidamente de
direita”, afirma. O número ainda não foi definido. Existem algumas opções: 18
(“É a idade do alistamento militar obrigatório”), 38 (“Por causa do famoso três
oitão”) e 64 (“Em homenagem a nossa revolução democrática”).
Alberto
Fraga, o coordenador da bancada, já avisou que vai apresentar um projeto de lei
para liberar o porte de armas para os congressistas. É de se imaginar o que
pode acontecer. Você terá saudade do tempo em que o Congresso era um circo e
não um faroeste. (por Kiko Nogueira)
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