Por André Pereira*
A sonora expressão deste título de “polentização” do Rio Grande do Sul – que não é achado de minha autoria- é facilmente entendida pelos gaúchos devido a uma dupla analogia.
Ela está vinculada à predileção gastronômica pela polenta atribuída ao atual governador e, sobretudo, coteja aquela frase ufanista segundo a qual o nosso ‘é o estado mais politizado do país’.
Se o descendente de italianos se farta de angu de farinha de milho com copadas de vinho eu não sei, mas é verdade absoluta que o Rio Grande do Sul não é e nunca foi mais politizado que nenhum dos outros entes federativos.
Sem nenhuma comprovação científica, a assertiva é desmentida até pela quantidade de ditadores que, cá nos pampas, geramos para ocupar a presidência da República.
Até o general Figueiredo, que não era gaúcho, fez estágio político aqui, no Colégio Militar da capital e no comando de unidade militar no interior rio-grandense.
Que politização é esta, irmanada com a repressão e o arbítrio, a tortura e os assassinatos de democratas ?
Alguns costumam louvar a “politização” da cantoria das façanhas modelares rio-grandense – até mesmo de modo desrespeitoso quando se executa o hino nacional – o que só traduz um desejo arcaico e injustificável de separatismo.
De onde vem essa notável balela transformada em lenda urbana, então?
Descende do falso mito do gauchismo, bravo, imenso e varonil, ao qual o jornalista Elmar Bones da Costa, nascido em Sant’Ana do Livramento, na fronteira oeste, credita toda a falta de perspectivas sociais e ausências de saídas econômicas para o estado.
Segundo presumo, sobrevivemos em um ilusionismo atávico e embevecido pelo narcisismo da valentia inigualável dos guerreiros antepassados .
Assim, festejamos uma guerra que perdemos, em que se defendiam valores teóricos manchados de sangue na prática e em que os negros foram vergonhosamente atraiçoados.
Foi sobre os pilares da falsidade da revolução farroupilha que edificamos nossa história.
E quando os suportes básicos de uma construção são amparados por material apodrecido é evidente que um dia, cedo ou tarde, a edificação ruirá.
Vive-se, desse modo, em uma tão severa artificialidade moral que é preciso espezinhar a verdade, e repetir, constante e contundente, conquistas heroicas que jamais ocorreram. É laureado o dia 20 de setembro, data de início da guerra que durou quase dez anos. E jamais o marco do seu desfecho de retorno ao estado de paz porque, na realidade, o final foi constrangedor, aceitando-se um acordo humilhante de deposição de armas.
Entretanto, anualmente, em setembro, em todo o território guasca, instituições públicas e firmas privadas unem-se às empresas de comunicações e negócios para reforçar os valores que mantém a farsa sociológica.
E revivem-se axiomas das bombachas gaudérias que renovam a contaminação mental de bravatas impolutas no nosso imaginário coletivo.
Já a polentização gaúcha, que apequena hoje o RS, pode ser comprovada com o exemplo do noticiário do final de semana envolvendo uma notória cumplicidade do inquilino do Palácio Piratini com a mídia nativa, aparentemente refém do maior anunciante estadual e ideologicamente afinada com a lógica do neoliberalismo privativista.
Duas grandes empresas, líderes em seus segmentos, anunciam vendas de seus ativos para compradores de fora do estado, mas ao invés de refletir sobre a grave desgauchização implícita, a cobertura política deu destaque ao governador fotografado sorridente, posando de motorista de um caminhão de uma fábrica estrangeira atraída para o Rio Grande pelo gestor anterior.
A Vonpar Coca Cola foi vendida para uma empresa mexicana por 3,5 bilhões de reais.
A Tumelero está sendo negociada com um grupo francês.
Assim, é cada vez mais triste o futuro que nos aguarda. E lembrar a piada de Sartori mandando professor tratar de piso no Tumelero soa ainda mais patético.
E mais polentizado.
*Jornalista - via Sul21
Me permito complementar dizendo que os valentões de 1835 só não foram enforcados por que o Imperador sendo Maçom como eles os levou livres. A RB$ capturou para si essa farsa dos fazendeiros de final de semana que imaginam que o leite ‘nasce’ já na caixinha de papelão e fatura muito em cima dessa bobagem. Mas não é somente isto, pois esse ninhos de $onegadore$ que é a RB$ capturou dois dos três Senadores que não representam aos leitores e sim ao Estado e com isto por certo leva uma bela fatia dos mais de QUATRO BILHÕES DE REAIS disponizilizados à publicidade no orçamento estadual. O safadeza é demasiado grande assim como a ignorância em que esses coitados são mantidos por essa praga dita empresa de comunicação.
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