Ou a população está descontente com os resultados do governo ou o governo está se comunicando muito mal com a população
Presidente Lula em ato de campanha com o
candidato a prefeito Guilherme Boulos e sua candidata a vice, Marta Suplicy, em
São Paulo, SP, 05/10/2024 (Foto: REUTERS/Felipe Iruata)
Por Tereza Cruvinel*
As urnas falaram ontem mas não proclamaram
vitoriosos absolutos ou derrotados sem salvação. Nosso próprio sistema
partidário não permite tanto. Mas, para a esquerda e as forças aglutinadas pelo
governo Lula, não vale tapar o sol com a peneira e ignorar as vitorias colhidas
pela direita e a extrema-direita.
E muito menos ignorar o alerta contido na
grande votação dada pelos paulistanos a Pablo Marçal, ainda que seu último
crime liquide com sua carreira.
Os partidos conservadores, só com o
resultado do primeiro turno, já comandarão a maioria absoluta das prefeituras
do país. Até agora, o maior vitorioso
neste quesito foi o PSD, com 888 prefeituras, seguido do MDB (863), do PP
(752), do União Brasil (590) e do PL (523).
Mas também não é caso para desespero ou
derrotismo no campo progressista: Boulos chegou ao segundo turno em São Paulo,
mesmo em desvantagem; o PT concorrerá em outras quatro capitais no segundo
turno e já garantiu 252, numa leve recuperação das perdas acumuladas, que o
fizeram cair de 638 em 2012 para 182 em 2020.
E, mais importante, são aliados do
presidente Lula os dois maiores vitoriosos desta eleição: o prefeito reeleito
de Recife, João Campos, do PSB, e o do Rio, Eduardo Paes, do PSD, mas apoiado
por PT, PC do B, PSB e PDT.
Por ter derrotado o bolsonarismo em seu
principal território, vencendo o candidato por quem Bolsonaro mais se empenhou,
a vitória de Paes ainda é mais expressiva. Embora ele não seja de esquerda e
tenha sido apoiado por grupos conservadores, ele soube construir o que a
conjuntura exige, a frente ampla antifascista. A frente para derrotar o
bolsonarismo em sua toca, onde tem as mais espúrias alianças.
Voltando aos números e ao que eles disseram, não pode a esquerda subestimar o fato de que, nas 15 capitais onde haverá segundo turno, o PT só concorrerá em quatro, o PSB em uma e o PDT em uma. Já o PL de Bolsonaro levou 9 candidatos ao segundo turno, o União Brasil e o MDB, quatro cada um.
Aparentemente este é um resultado
catastrófico para o presidente da República e os partidos que lhe dão
sustentação. Mas, tirando-se o PL de Bolsonaro, os outros vitoriosos são também
apoiadores pragmáticos do governo Lula. E, nessa condição, mais uma vez suas
bancadas valeram-se dos recursos públicos, através de emendas orçamentárias,
par irrigar as bases eleitorais e reproduzir o mando local, elegendo prefeitos
de seus partidos, que os ajudarão a se reeleger em 2026. Esta é a engrenagem
que está por detrás dos resultados de ontem.
A rigor, as urnas falaram sobre mais do
mesmo, sobre o que temos sido e continuaremos sendo: um país estilhaçado, que
segue dividido sem que um dos lados tenha a hegemonia ou esteja subjugado. Em
que o governo federal, com toda a força que devia ter, não é associado a um partido ou
coalizão, mas a um cozido de siglas
pautadas por interesses e não por qualquer programa.
Eleição municipal é uma coisa, presidencial
é outra, dizem os políticos. Isso verdade até certo ponto. Quando os partidos
que sustentam o governo federal levam a pior numa eleição municipal, alguma
coisa está fora do lugar. Ou a população está descontente com os resultados do
governo ou o governo está se comunicando muito mal com a população. Não estou
falando de campanhas ou de marketing, mas de se fazer entender mesmo.
Esta é uma reflexão que Lula e seus aliados
terão que fazer depois do segundo turno.
*Jornalista - via Brasil247
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