"Ele é um agente orgânico da extrema-direita, vem do porão da ditadura; conserva vínculos históricos com a repressão, o militarismo e o extremismo", diz Miola
Augusto
Nardes (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Por Jeferson Miola*
João
Augusto Nardes usa o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União/TCU para
blindar e proteger Bolsonaro e, ao mesmo tempo, para atacar Lula e o PT.
Ele
não desperdiçou a oportunidade surgida agora como ministro-relator do processo
sobre a empresa Enel Brasil, e mais uma vez agiu de modo faccional para atingir
o governo Lula.
Nardes
pretendia aprovar resolução do Tribunal culpando o governo federal pelo apagão
em São Paulo, mas “o plenário da Corte de Contas refutou sua proposta por falta
de evidências”, noticiou a coluna Painel S.A. do jornal Folha de São Paulo.
O
Painel diz que o “relatório de inspeção da Enel da área técnica do TCU enviado
a ele [Nardes] já mostrava que o governo não teve culpa, nem prevaricou na
fiscalização”.
Apesar, contudo, de saber previamente da absoluta inconsistência da tentativa de responsabilizar o governo pelo caos, Nardes assim mesmo forçou a barra, mas foi contido pelo plenário do Tribunal, que abortou a manobra dele.
A
trajetória do Nardes no TCU é coerente com esta lógica de combate permanente a
Lula e ao PT. É dele, por exemplo, a concepção intelectual das “pedaladas
fiscais”.
Com
a tese das pedaladas fabricada sob medida para o golpe, Eduardo Cunha e Aécio
Neves contrataram Janaína Pascoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior por 45
mil reais [valores da época] para escreverem o impeachment farsesco da
presidente Dilma.
Em
20 de novembro de 2022, com a democracia ameaçada pelas cúpulas partidarizadas
das Forças Armadas e o país na expectativa dos desdobramentos dos quartéis,
Nardes transmitiu um áudio à militância fascista relatando que estava
“acontecendo um movimento muito forte nas casernas”.
Antecipando
o terror que finalmente viria a acontecer em 8 de janeiro de 2023, Nardes
afirmou que seria “questão de horas, dias, no máximo semana ou duas, ou talvez
menos que isso, que vai acontecer um desenlace forte na nação”.
“Agora
é um confronto decisivo […] Se sente que vai pra um conflito social na nação
brasileira”, proclamou aos extremistas.
Nardes
conhecia detalhes da conspiração, pois mantinha encontros regulares com os
comandos militares golpistas, com os quais nutre uma relação de vida inteira.
Ele
é um agente orgânico da extrema-direita, vem do porão da ditadura; conserva
vínculos históricos com a repressão, o militarismo e o extremismo. Iniciou e
seguiu toda trajetória política na ARENA, partido da ditadura militar, e nas
siglas que o sucederam.
Em
março de 2023 Nardes foi designado relator do TCU no caso das jóias e diamantes
roubados por Bolsonaro e vendidos nos EUA com auxílio de delinquentes civis e
fardados.
E
outra vez agiu a favor dos interesses do Bolsonaro e seus comparsas. O ministro
então procrastinou o processo, transformou o ladrão Bolsonaro em depositário
fiel dos objetos roubados e concedeu prazo elástico para a devolução das peças.
Essas
providências foram fundamentais para permitir a “operação resgate” de recompra
das jóias em Miami para reincorporação ao patrimônio da União.
Apesar
do notório envolvimento de Nardes na articulação golpista, ele não foi alvo das
operações da Polícia Federal no inquérito que investiga os atentados contra a
democracia. E tampouco foi submetido a procedimento administrativo no TCU, que
fatalmente levaria à sua demissão do cargo.
Em
março de 2023 a deputada Reginete Bispo e o deputado Zeca Dirceu, do PT,
protocolaram no STF uma notícia-crime contra Nardes pedindo que ele fosse
investigado no Inquérito 4.874, dos atentados antidemocráticos. Até o presente,
no entanto, ele continua impune e livre para continuar ocupando relevante cargo
na institucionalidade que tentou destruir.
Não
é aceitável que funcionários públicos implicados em crimes graves, como o
ministro Nardes, não sejam processados e, se culpados, presos e demitidos do
serviço público. Pesam ainda contra este ministro do TCU várias denúncias de
corrupção, como é corriqueiro com bolsonaristas. Mas este é um capítulo à
parte.
É também inaceitável que no desfrute da impunidade, Nardes continue usando o cargo de ministro do TCU como biombo para a militância política contra o governo Lula, como faz agora no apagão causado pela Enel em São Paulo.
*Articulista - via Brasil247
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