Democracia, violência e participação, segundo Marilena Chauí
Porto Alegre/RS - Nós só conseguiremos nos libertar da culpa originária por nossas atitudes, certas e erradas, quando reconhecermos que não há causa externa para o que nos acontece. A capacidade de viver bem está em nós mesmos, o mundo exterior é apenas a expressão dessa liberdade. Não há culpas. A afirmação é da professora de Filosofia da USP, Marilena Chauí que participou da quarta edição dos Debates Capitais, realizado no plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre, na quarta-feira (7) à noite.
Marilena Chauí, que nesta quinta-feira (8) se encontra com o governador Tarso Genro, no Palácio Piratini, iniciou sua fala citando o filósofo Aristóteles. "Aristóteles diz que a diferença entre o divino e o humano é que o divino é a perfeição e os humanos são finitos, carentes, precisam uns dos outros. Pelas relações os humanos são capazes de imitar a completude do divino. E a amizade é a figura humana do divino. Agradeço então a amizade que me é oferecida aqui. Quem vem ao Rio Grande do Sul, quem vem a Porto Alegre, tem obrigação de falar em participação porque é um exemplo para o Brasil e para o mundo", destacou.
As relações entre as paixões, as necessidades e a liberdade na obra de Espinosa são temas profundamente estudados por Marilena. Segundo a professora, enquanto na tradição judaico-cristã a liberdade é a fonte de nosso mal e de nossa culpa, Espinosa diz que ela não nos tira a necessidade de agir. "Assim como Deus é imanente ao mundo, a nossa mente é imanente ao corpo. Corpo e alma se equivalem, não há hierarquia de um sobre o outro", completou. Para Marilena Chaui, a ética de Espinosa é a ética da liberdade.
Pensamento brasileiro
O secretário estadual da Cultura, Assis Brasil abriu o painel apresentando a filósofa e historiadora. "O nome da USP está ligado à professora Marilena de maneira indissociável. Ela representa uma das forças mais importantes do pensamento brasileiro. Devemos ressaltar o quanto representa no seu papel mediador entre a universidade e a sociedade", disse. Ele acrescentou que Marilena tem obras populares, onde consegue estabelecer uma linguagem adequada ao entendimento popular e ao mesmo tempo uma linguagem acadêmica. "E isso é algo que realiza com extrema simplicidade", destacou.
A presidente da Câmara de Vereadores da Capital, Sofia Cavedon explicou a razão do convite à professora. "Fazemos questão de momentos como este de reflexão de aprofundamento de temas que reverenciam nossa cidade, de aprofundamento político. Era um sonho trazer Marilena. A sua trajetória de mulher construída pela democracia, a sua pesquisa é muito importante para o Brasil", lembrou.
"Neste momento em que vivemos um amplo debate sobre a estrutura do estado brasileiro, Marilena é uma das mais lúcidas pensadoras que nos pode apontar um caminho", disse a vereadora Sofia Cavedon.
Mostra destaca pensamento político de Marilena Chauí
O Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre homenageia a passagem dos 70 anos de Marilena Chauí com a exposição O que é a política?, aberta à visitação até 30 dezembro. A ideia da exposição é apresentar o pensamento político de Marilena a partir de citações de sua obra. São 17 banners com fotos e textos que percorrem do nascimento da política até o surgimento da democracia moderna. Incorporando ensinamentos de Gramsci, Marx, Hannah Arendt e Espinosa, Marilena faz uma síntese da qual emerge a definição de democracia como essencial à vida pública e critica os meios de comunicação e as formas de exercício autoritário do poder.
A exposição pode ser visitada das 8h30min às 18 horas, de segundas a quintas-feiras, e das 8h30min às 16h30min, às sextas-feiras, com entrada franca. Depois de 30 de dezembro, a mostra está disponível para ser emprestada a escolas e instituições. Informações: (51) 3220-4187.
* Fonte: Portal do Governo do RS - Texto: Maria Emilia Portella - Edição: Redação Secom - fone (51) 3210-4305 - Edição final e grifos deste blog
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