'A democracia é jovem e é para
todos, o golpismo é velho e é para poucos'
Por Paulo Torelly*
Após protestos contra e a favor
do governo, cabe uma reflexão sobre a democracia e as responsabilidades
públicas. A guerra de todos contra todos em uma civilização material, concebida
na luta pela apropriação do poder descrita por Maquiavel em ‘O Príncipe’
(1513), cobra um necessário equilíbrio entre ordem e legitimidade nas relações
econômicas e sociais. Desde então, abusos e aberrações encontram resposta na
história com mais igualdade e liberdade, ou seja, mais transparência e
democracia. O discurso do impeachment por alegado crime de responsabilidade
incide no vazio, pois, mesmo com caráter político, não possui base legal.
A intolerância republicana à
corrupção começa no quotidiano e não admite golpes e juízos seletivos diante
dos fatos (Const., art. 5o, VIII). O caminho reverso é o paraíso do poder
econômico e do corporativismo periférico ao poder estatal. Arredar a soberania
popular e legislar em causa própria, instituindo vantagens e benefícios
corporativos, é uma face da realidade que o moralismo seleciona e enfatiza
conforme os interesses dominantes.
A oposição democrática deve ter
um discurso propositivo, conforme apropriadamente tem dito o Conselheiro
Federal da OAB/MG, Mário Lúcio Quintão Soares. Combate à corrupção, taxação das
grandes fortunas, fim da reeleição e financiamento de campanha são debates que
podem aprimorar a república. O fruto do trabalho e o lucro não se confundem com
o produto de atos ilícitos, como Max Weber retrata em ‘A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo’, pois o ganho desonesto não expressa “o 'espírito'
capitalista [especificamente moderno] como fenômeno de massa." O
envolvimento de partidos da situação e da oposição nos escândalos revela que o
financiamento eleitoral é questão de ordem pública.
Cabe, assegurado o
contraditório e a ampla defesa, punir os corruptos desconsiderando as
ideologias e os partidos dos acusados. Mas É URGENTE UMA REFORMA POLÍTICA QUE
FORTALEÇA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. A democracia é jovem e é para todos,
o golpismo é velho e é para poucos. O Brasil, pela via democrática, pode e deve
ser passado a limpo!
*Paulo Peretti Torelly (foto) é
advogado graduado pela UFRGS. Desde 1994, atua como advogado público
(Procurador do Estado do RS). Exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado no
período de 1999 a 2002 (Governo Olívio). Integrou a diretoria da OAB/RS como
secretário-geral adjunto e coordenador das Subseções (1998). Integra o
Movimento Muda OAB! Professor, mestre pela PUCRS (2007) e doutor pela Faculdade
de Direito da USP (2010). É Procurador Geral do Município de Canoas/RS.
*Via http://jcsgarcia.blogspot.com.br/
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