Por
Marcelo da Silva Duarte (*)
Nada
como um dia depois do outro.
Principalmente
para um moralista de plantão.
Como
é representar uma empresa suspeita de corrupção, que supostamente paga propina
para se livrar de débitos tributários? Qual é a sensação de saber que parte do
salário que vocês recebem no final do mês é pago, supostamente, graças à
corrupção – essa mesma que, insistentemente, tem assolado nossa política -?
Como é saber que a expansão empresarial do Grupo RBS supostamente é patrocinada
pela corrupção, pela sonegação de tributos que fazem falta para a educação,
para a saúde, para as estradas? Como será, a partir de agora, produzir uma
matéria, ou escrever um artigo, sobre o “caos na saúde”, se supostamente vocês
contribuíram para ele?
A
empresa que vocês representam ainda não foi condenada? Bem, mas o que isso
importa? Quando vocês, jornalistas do Grupo RBS, se preocuparam com a verdade e
com apurações quando escândalos desse tipo envolveram políticos, não é mesmo?
Como
é ser vidraça?
E
agora, sob a luz dessa acusação, como será falar, em seus programas de rádio,
em suas colunas de jornal impresso, sobre propinas pagas por empresários para
políticos e diretores da Petrobras? Como será descer do “pedestal ético” do
Grupo RBS, do qual se olhou para todos,indistintamente,
durante um bom tempo? Do alto do qual políticos, juízes, promotores,
funcionários públicos, agentes políticos, profissionais liberais e cidadãos
comuns foram julgados impiedosamente?
Com
que moral um representante do Grupo RBS falará sobre isso?
Aliás,
com que moral um representante do Grupo falará, a partir dessa denúncia, sobre
qualquer coisa que envolva o conceito de corrupção?
Vocês
citarão os nomes dos executivos da RBS que supostamente pagaram propinas para
funcionários públicos corruptos? E os nomes dos lobistas que supostamente intermediaram
essa negociação, vocês dirão? Estão ansiosos por essa lista como estiveram pela
famosa “lista de Janot”?
E os
editoriais do Grupo RBS, pródigos em acusações, em apontar para a falência
moral da política? Como é estar na mesma vala de suspeição, no mesmo nível
moral dos políticos e empresários por vocês publicamente execrados?
Por
um bom tempo vocês enganaram muitas pessoas. Há aqueles, porém, que jamais
engoliram a incompetência, o falseamento da verdade, a ignorância, a má-fé e o
exercício diário de crenças irrefletidas praticados por vocês, sabujos do Grupo
RBS. Hoje é um dia de alma lavada. Hoje o que resta da dignidade do jornalismo
está em festa, pois a face que não presta do jornalismo brasileiro começou a
ser desmascarada. Hoje as pessoas que vocês enganaram por um bom tempo também
sabem que vocês escrevem a soldo de gente supostamente tão desqualificada
moralmente quanto o que há de mais rasteiro na política brasileira. É nessa
lama que vocês, colaboradores, parecem indiretamente chafurdar diariamente, sem
qualquer espécie de distinção ética, pois pelo menos parte do salário de vocês
parece ser pago com o mesmo tipo de dinheiro sujo que movimentou o famoso
“Mensalão” e outros tantos escândalos semelhantes. Dinheiro sonegado é dinheiro
sujo, além de fazer falta para quem mais precisa do Estado.
Como
será saber que seu empregador, caso as denúncias sejam verdadeiras e a culpa do
Grupo RBS reste provada, é corresponsável pela pobreza, pela miséria, pela
histórica falta de Estado para os mais necessitados? Com que moral vocês irão
criticar programas públicos de assistência social, uma vez que há tal
assistência também porque há corruptos?
Não
há nenhuma diferença moral entre a corrupção supostamente praticada pelos seus
patrões e a patrocinada por “mensaleiros” e operadores do esquema da Petrobras,
o dito “petrolão”.
Aliás,
como será batizada a propina supostamente paga pelos executivos do Grupo RBS a
fim de livrar a empresa de débitos tributários?
Caso
vocês ainda não tenham se dado conta, estamos falando de, supostamente, 19
bilhões de reais. De advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção
ativa e passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro. E, supostamente,
nesse mesmo barco estão “queridinhos” do Grupo RBS, como o Grupo Gerdau – e não
poucas vezes um conhecido integrante
do referido Grupo nos deu lições baratas sobre ética nas páginas de opinião de
veículos do Grupo RBS. E tudo isso, frise-se, dito pela Receita Federal,
Polícia Federal, Ministério Público Federal e a Corregedoria do Ministério da
Fazenda.
Que
razões temos, portanto, para acreditar que tais denúncias são mais “fracas” do
que aquelas que culminaram na condenação dos ditos “mensaleiros”?
E
agora, como vocês irão dormir sabendo que todo o discurso moral – discurso
assumido por cada um de vocês, diga-se de passagem – do Grupo que vocês
representam pode nunca ter valido um tostão furado?
Vocês
pedirão demissão? Pedirão desculpas públicas por representarem possíveis
corruptos – e venderem seus discursos – por tanto tempo? Não é essa a atitude
que vocês, colaboradores e porta-vozes da moralidade do Grupo RBS, costumam
exigir de políticos?
Tenham
o mínimo de dignidade. A mesma que vocês não pensam duas vezes em
exigir
quando se trata de desqualificar a política.
(*)
Marcelo da Silva Duarte, santiaguense, é jornalista e blogueiro.
-Ilustração:
Diário do Centro do Mundo
-Fonte:
RS Urgente https://rsurgente.wordpress.com/
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