quinta-feira, 4 de junho de 2015

CANÇÃO DO MARGINAL




Foi legionário da coluna invicta!
Bravo, bateu-se com orgulho nobre.
Hoje, em 44, é um trapo humano.
E ouve, na angústia do seu desengano
“... não há va...gas!” Pobre...

Voluntário de 30 e 32
sonhando a Pátria que o ideal descobre,
marchou, com honra, pelejou com brilho.
E hoje, este melancólico estribilho:
“... não há va...gas!” Pobre...

Hoje, magro de dívidas e fome,
a princípio a tragédia mal encobre.
Mas, afinal também quer ter sossego.
E eis a resposta à súplica de emprego:
“... não há va...gas!” Pobre...

Pobre! Cansado de esperar promessas
na esperança de que a sorte se lhe dobre,
pede um posto, um lugar, modesto cargo.
E ouve ferino este refrão amargo:
“... não há va...gas!” Pobre...

Triste! A miséria, os filhos em andrajos,
tudo lhe soa com suturno dobre.
Pede um lugar ao sol para o trabalho.
E a resposta é mais dura do que um ralho:
“... não há va...gas!” Pobre...

Doente! O peito lhe arqueja num cansaço.
Não há tranqüilidade que lhe sobre.
Algo mendiga que permita um prato.
Como resposta o estúpido e gaiato:
“... não há va...gas!” Pobre...

Cansa! E se lembra dos pneus rendosos!
Talvez no contrabando não sossobre
tendo agasalho e pão para a família.
Grita-lhe a opulentíssima quadrilha:
“... Não há va...gas!” Pobre...

            Aureliano do Figueiredo Pinto*

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