O ex-presidente Lula, a presidenta Dilma Rousseff e Rui Falcão - Pres. do PT - durante o 5º Congresso Nacional do PT |
Pesquisa
recente do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o PT representa 12%
do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam
Por Marcos Coimbra, na Carta Capital*
Nestes
tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso
cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto parece a
onda autoritária em formação?
Quem
se expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma
contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública
que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos comentaristas
da televisão despejar seu ódio?
Recente
pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas dessas perguntas.
E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um segmento menor
do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como se pinta.
Em
vez de perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa
foi pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não gostavam
do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do PT,
sem se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.
Os
resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as proporções de
“petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis ao
partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com
cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se
nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou
nesse aspecto.
Nessa
análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do total dos
entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A existência
de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é
pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta a
intensidade e a duração da campanha contra a legenda.
A
contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o detestam.
Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé inicial) e
após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do
mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido
contagiada pelo ódio ao partido.
A
pesquisa não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é
razoável supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção de
entrevistados com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos,
outro sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista
da mídia.
Como
seria de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos
regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste
(onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em
áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres (10%).
Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar maior que cinco
salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até dois salários.
É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que esse ódio
tem um real componente de classe.
Na
pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda elevada
das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de renda
baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos entrevistados, em
média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.
Não
vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica tudo:
não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são petistas, por
mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há um
significativo componente propriamente político na explicação desses fenômenos.
O
principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e
contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências.
Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista.
Querer representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for
vencer eleições majoritárias.
Erra
o petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do
antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda.
Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave.
*Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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