quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O petróleo (ainda) é nosso

A postura do governo revela-se como uma estratégia suicida para os derivados de petróleo, mas que vem sendo mantida a ferro e fogo desde o governo Temer  

   Créditos da foto: (Reprodução/fup.org.br)


Por Paulo Kliass*

As novas ameaças de uma paralisação geral nos transportes rodoviários por parte das lideranças dos caminhoneiros traz mais um condimento no debate a respeito das alternativas à atual política de preços do setor petrolífero. No caso específico, a elevação sistemática dos preços do óleo diesel tem provocado sérias dificuldades para a sobrevivência dos operadores do sistema. 

A postura do governo revela-se como uma estratégia suicida para os derivados de petróleo, mas que vem sendo mantida a ferro e fogo desde o governo Temer. Logo depois do golpeachment contra Dilma Roussef em 2016, quando Henrique Meirelles assumiu o comando da economia, foi introduzida uma suposta “regra de mercado” para a definição de preços de produtos como gasolina, óleo diesel, gás de cozinha e os demais derivados. 

A partir daquele momento, abandonou-se o objetivo de assegurar a soberania nacional em termos de produção e de refino na cadeia petrolífera. Na verdade, as elites tupiniquins incorporam como sendo genuinamente sua a estratégia norte-americana de substituir o modelo que colocava um papel de relevo e destaque para a Petrobrás, que culminou na sua quase destruição a partir das denúncias trazidas à tona nas sucessivas etapas da Operação Lava Jato. A empresa foi colocada sob ataque diário na grande imprensa, como se a sua natureza pública estivesse na base dos escândalos de corrupção envolvendo grandes conglomerados do capital privado e esquemas políticos e eleitorais de diferentes partidos. 

Abandono do projeto de soberania nacional. 

A partir de então, os volumes de investimento da Petrobrás foram sendo reduzidos de forma significativa, com consequências diretas e imediatas sobre a capacidade de crescimento do conjunto de nossa economia. Entre 2014 e 2020, por exemplo, a contribuição da empresa para a formação bruta de capital fixo do país caiu pela metade, despencando de 7,6% para 3,8%. Além disso, foi colocada em marcha uma operação visando a redução da capacidade de refino da mesma. O Brasil, que havia alcançado a autossuficiência no quesito petróleo em 2006, voltou a depender da dinâmica no mercado internacional para seu próprio abastecimento. Caso as reservas descobertas do Pré Sal a partir de 2007 tivessem recebido o tratamento adequado para sua exploração de forma autônoma pela Petrobrás, provavelmente a situação energética atual seria bem distinta da crise que atravessamos hoje em dia. (...)


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