Por Fernando Brito*
A reportagem sobre o
crescimento da pobreza no Brasil desde o final da era petista é, para quem
quiser entender, um retrato da incapacidade do neoliberalismo (nada neo, aliás)
de resolver o problema da pobreza no país, mesmo usando – como ocorreu com o
auxílio emergencial – como “medicamento” tópico contra ela.
E, ao contrário, como é o
crescimento da economia a chave da redução da pobreza, por mais que isso se
faça com distorções e sem a força que poderia ter.
O primeiro momento de queda da
extrema pobreza, é verdade, veio com o fim da inflação galopante, a partir de
1994, com o Real de Itamar e Fernando Henrique Cardoso, mas repare como isso
conseguiu, no máximo, reduzir levemente a taxa de brasileiros vivendo abaixo da
faixa de R$ 261 por pessoa.
A redução verificada entre
2003 e 2015, ao inverso, foi mais que expressiva: a parcela da população neste
estado intolerável de miséria caiu à menos de metade, quase um terço do total
de nossos compatriotas.
Isso, na prática, manteve-se
mesmo no período Temer e no primeiro ano do governo Bolsonaro, pela força
inercial dos programas de transferência de renda e da atividade econômica.
Em ambos, apostou-se que a
prosperidade viria da supressão de direitos e a “liberdade total” da
contratação da força de trabalho, lançada na mais selvagem informalidade.
O auxílio emergencial amplo e
significativo maquiou, enquanto pago, a perda de renda que, com o seu fim,
revelou-se: um salto de 50% no índice de pobreza extrema, provocado pela
retração econômica, em parte inevitável, em parte resultado de um governo
incapaz de lançar políticas públicas capazes anticíclicas que a mitigassem.
O “império do teto de gastos”,
este sim “acima de tudo” na formulação de políticas econômicas tem um resultado
concreto: empurra os pobres para baixo de tudo, exceto das calçadas em que
passam a viver.
Nada disso trouxe a tal
“enxurrada de dólares” que se prometeu, não estimulou o emprego, a saúde das
contas públicas.
Seguimos assistindo a uma
política de gambiarras econômicas, porque estamos presos à ideia de que é
preciso socializar as carências e privatizar os potenciais.
*Jornalista e blogueiro, Editor do Blog Tijolaço (fonte desta postagem)
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