*Por Fernando Brito*
Não
creio que cometeria nenhum erro factual quem descrevesse assim o depoimento de
Antonio Palocci a Sérgio Moro:
Depois
de um ano preso por Sérgio Moro e de ter feito vários depoimentos em que negava
as versões de que teria havido um acerto financeiro entre ele ou Lula e a
Odebrecht, o ex-ministro Antonio Palocci mudou sua versão e disse que Emílio
Odebrecht e Lula teriam feito um “pacto de sangue” para que a empreiteira
disponibilizasse R$ 300 milhões ao ex-presidente. Emílio Odebrecht, tanto
no acordo de delação premiada firmado pelos executivos da empresa com a PGR
quanto no acordo de leniência da Odebrecht, havia negado que tivessem ocorrido
acertos financeiros entre ele e Lula, contrariando a versão de seu filho, Marcelo,
que ontem apresentou narrativa semelhante à de Palocci, sem os tais R$ 300
milhões. O ex-ministro da Fazenda nega ter negociado ajuda a Lula ou ao PT
e disse que foi só “mandado apanhar o dinheiro”.
É o
resumo da ópera, porque, até agora, não apareceu – nem mesmo com Palocci –
qualquer documento que sustente a história. O que há, de fato, é um acordo de
delação de Palocci para conseguir a redução ou anulação de penas que Moro lhe
aplicou por crimes que jamais foram admitidos por ele.
O
nome correto do que está acontecendo não é delação, é capitulação. Algo que um
lado, percebendo que não pode resistir às forças adversárias, desiste, deixa de
se defender e se entrega.
Para
que isso seja usado como instrumento de convencimento e marketing,
porém não pode ser apresentado como uma derrota. Ele sabia que teria de ser
convincente, porque seu acordo de delação depende dos promotores e de Moro, não
está assinado.
Palocci
está na posição de pedinte e é por isso que se viu o desempenho de um papel.
Não havia emoção, não havia o constrangimento de quem confessa uma verdade
envergonhante, havia expressões e “confissões” sobre fatos que nem sequer
haviam sido mencionados e incursões, até, sobre a vida doméstica de Lula, como
quando diz que o ex-presidente pediu sua ajuda para “convencer” a falecida
Marisa Letícia a “desistir” do suposto prédio do Instituto Lula.
Fez
o seu teatro, à procura de acertos nas coxias. Óbvios e, até certo ponto,
compreensíveis e humanos. Embora nem tão perdoáveis para quem, com os que agora
acusa, amealhou poder e oportunidades.
Nada,
porém, foi mais ridículo do que o “pacto de sangue”, expressão que levou
anotada para produzir as manchetes. Pacto de sangue? Quem ia suicidar-se em
solidariedade ao outro? Ele, vê-se, não era, muito menos é crível que
Emílio Odebrecht o fosse.
O
pacto de sangue mais provável nesta história toda é que o velho Emílio desdiga
o que disse sob juramento e remende suas declarações, para que fiquem de acordo
com as do filho e, agora, as de Palocci.
*Jornalista, Editor do Tijolaço - Grifos deste Blog