Repetições
A rua fria e escura e
seus personagens doidos
marginais
a cena tragicômica repetida
nas calçadas deformadas & cinzentas
a náusea
o nojo
a triste
'vida'
dos perdidos
maiores menores abandonados
o filme 'b' inacabado documentando
a egoista & cruel noite metropolitana
Mas isso ... é mesmo
vida?!
...
O nojo
a náusea
a miséria
o poder público omisso
& conivente com a barbárie
a triste
cena repetida
-repetida
-repetida...
CORTA!
...
Como
Neruda
De tanto nadar contra a maré
de tanto receber
em plena luz do sol ou
na calada da noite
de onde menos esperava
traiçoeiras e quase fatais
punhaladas
...
de tanto receber
em plena luz do sol ou
na calada da noite
de onde menos esperava
traiçoeiras e quase fatais
punhaladas
...
de tanto ver a miséria
e a injustiça campeando a rédeas soltas
& abatendo os mais fracos
& os mais humildes
& o sonho da igualdade
& da fraternidade distancioando-se
no espaço & no tempo
& a impunidade grassando
quase incólume
nas 'cúpulas do poder'...
às vezes dá vontade
de 'chutar o balde'
(e mandar às favas as regras
de convivência
ou da 'boa educação')
....
Mas resisto, respiro fundo e
buscando forças nas reservas da carne
& do espírito
& nos músculos que já não respondem
como em outros tempos
mas que se superam e reagem
- como Fênix
& nauseado e triste
mas resoluto, determinado
continuo em frente
(navegar é preciso)
combato com as armas mais diversas
& entre um
& outro round
como Neruda
encontro tempo para escrever
alguns poucos poemas de amor
-e esta canção
desesperada.
Júlio Garcia
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