O show de obscurantismo e
loucura na entrevista do pastor com Marília Gabriela
Por Kiko Nogueira*
Eu nunca fui fã de Marília
Gabriela. Acho-a uma espécie de Jô Soares de calças. Celebridades e
subcelebridades são recebidas candidamente em seu programa com perguntas do tipo:
“E esse coração, como vai?” Ao que o cidadão ou cidadã responde: “Ah, Gabi, eu
tô me namorando”. E segue daí.
Mas Gabi brilhou em seu
encontro com o pastor Silas Malafaia. O homem ajuda em sua verborreia
alucinada, mas as pontuações da apresentadora foram certeiras. Se ela se
aplicasse assim com todos os entrevistados, seria melhor que Piers Morgan.
Ainda que Malafaia seja um alvo fácil, ela conseguiu manter uma tensão
permanente, sem descambar, respondendo a boa parte das bobagens inacreditáveis
que ele repete todo dia a seus fiéis, algumas das quais mostradas pelo SBT.
O pensador inglês Bertrand
Russel ilustra o caso de Malafaia perfeitamente: “O grande problema do mundo é que os tolos e
fanáticos são sempre cheios de certeza, enquanto os sábios são cheios de
dúvidas”.
Malafaia é uma besta
apocalíptica preenchida de certezas absolutas. Daqui a 40 ou 50 anos, diz ele,
vamos ver como vai ficar o mundo depois de tantos casais homossexuais adotarem
crianças. A homofobia de Malafaia é apenas o pedaço mais visível de uma montanha
de idiotices. O fato de ele ter uma igreja lhe dá autoridade divina para versar
sobre todas as questões fundamentais.
Ele não inventou nada. Isso
é da natureza das religiões organizadas (que são, na definição de Christopher
Hitchens em seu livro Deus Não é Grande, “violentas, irracionais, intolerantes,
aliadas do racismo, do tribalismo e do ódio, investidas de ignorância, hostis
ao questionamento e às mulheres e coercivas com as crianças”).
O Silvio Santos da
intolerância
Malafaia, um homem rico, cuja
organização não recolhe impostos, se apoia na Bíblia para espalhar sua
diatribe. Disse que “nenhuma verdade cientifica da Bíblia até hoje foi
derrubada”. Era uma oportunidade de entender a ciência por trás de dilúvios e
arcas com casais de animais, mares divididos ao meio por um senhor com cajado,
pessoas que viram pedra ao olhar para trás, água transformada em vinho,
ressuscitamentos, gente que anda sobre a água, virgens que têm filho etc etc
etc.
Não é à toa que Serra se
aliou a Malafaia, como escreveu o blogueiro Guy Franco aqui no Diário. É um
obscurantismo sem freios, um reacionarismo tacanho, envelopado na “defesa da
família”. Ele fala muito bem. Ele fala alto. Ele é ignorante e
autocondescendente (“islamismo é de um radicalismo muito horroroso para o que a
gente chama de religião”, mandou ver. Então ficamos combinados que ele não é
radical).
O ponto alto da noite foi
seu ideário homofóbico (“Ninguém nasce gay. É um comportamento; “se houver
pastor homossexual, ele perde o cargo”; “a minha questão é o direitos que eles
querem em detrimento da sociedade”; e por aí vai). Mas Malafaia é maior do que
isso. Sua igreja enche, seus livros vendem, seus cofres têm mais dinheiro. Não
há sinal de que, a alturas tantas de um de seus sermões, seus seguidores vão cair
em si, parar de dar dízimo e cuidar da vida. Como o próprio diz, vamos ver como
vai ficar o mundo, daqui a 40 ou 50 anos, quando as besteiras de Silas Malafaia
terão virado verdades científicas para milhares de pessoas.
*Kiko Nogueira é diretor-adjunto do Diário do
Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da
Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo
e do Guia Quatro Rodas. (Via sítio Diário do Centro do Mundo)
http://diariodocentrodomundo.com.br/
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