quarta-feira, 8 de junho de 2016

'Pedida a prisão do PMDB' & outros - ótimos - posts do Juremir*



Pedida a prisão do PMDB


O hábito condiciona o homem.
O cachimbo entorta a boca.
Estou filosófico.
Como só me alimento de manchetes, raciocino por frases fortes.
O Estado de S. Paulo: “New York Times dá medalha de ouro em corrupção para o governo Temer”.
Esses americanos não compreendem a cruzadora moralizadora de Temer com seu ministério insuspeito.
Folha de S. Paulo: Procurador-Geral da República pede prisão de Jucá, Renan e Cunha, e tornozeleira para Sarney”. É todo o PMDB. A cúpula dos novos donos do poder. A nata da moralização.
O Globo e outros: Temer decide manter citados na Lava Jato…
Aliados manobram para dar punição leve a Eduardo Cunha.
Gilmar Mendes autoriza inquérito contra Aécio Neves.
Corri para o Parcão, em Porto Alegre.
Esperava  ver milhares de pessoas brancas de verde e amarelo dispostas a não sair dali enquanto Eduardo Cunha não for cassado e todos os ministros suspeitos de Temer não forem afastados.
Tive uma surpresa. Fiz uma manchete: Coxinhas não se importam com a corrupção do PMDB.
***

Passarinho, guru da ditadura


Muhammad Ali jogou sua medalha olímpica num rio em nome da sua consciência de negro.
Perdeu seu título de boxe e sua paz para não lutar numa guerra suja, a do Vietnã.
O mundo lamenta sua morte.
Jarbas Passarinho foi golpista e cérebro da ditadura midiático-civil-militar de 1964.
Em 1968, quando um golpe dentro do golpe, com o AI-5, fez da ditadura horrenda uma ditadura hedionda, Passarinho, livre, leve e solto, fez a sua frase mais famosa: “Às favas com a consciência”.
Literalmente: “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”
Intelectual do regime, do qual foi até ministro da Educação, teve tempo de ser contra as Diretas-já.
Como ministro do Trabalho, produziu arrocho salarial e miséria.
Como ministro da Educação, amordaçou estudantes com o decreto 477.
Lutou por mandato de seis anos para José Sarney.
Queria privatizar as universidades públicas fazendo os ricos pagarem.
Entre ordem e justiça, ficava com a primeira.
O Brasil tinha vivos dois especialistas em golpes: Jarbas Passarinho e Delfim Netto.
O presidente interino Michel Temer considera que Passarinho foi um grande brasileiro.
***

Muhammad Ali e Pelé


Morreu Muhammad Ali. Um ídolo, um herói, um esportista e um líder cidadão.
Um nome adotado para se livrar do seu nome de escravo, Cassius Clay.
Ali trocou de nome e de religião. Converteu-se ao islamismo.
Tornou-se ídolo num esporte violento, o boxe.
Foi tricampeão. O melhor de todos no seu campo. Uma lenda, um estilo e uma narrativa.
Não bastasse o brilhantismo nos ringues, o homem foi melhor ainda.
Virou ativista político na luta contra o racismo. Aproximou-se de Malcolm X e passou a combater o pior dos inimigos, a segregação racial praticada na “pátria da liberdade” há menos de 50 anos.
Teria jogado a sua medalha olímpica num rio em protesto contra o preconceito racial.
Recusou-se a lutar  no Vietnã. Por que iria matar inocentes? Foi condenado.
Pelé declarou que Ali era seu amigo, seu ídolo e seu herói.
Por que Pelé nunca foi como Ali? Por que se restringiu a ser ídolo nos gramados?
Pelé foi um atleta excepcional. Atuou num esporte de paz. Fez maravilhas. Foi três vezes campeão do mundo. Dois negros, dois mundos, duas Américas. Um só preconceito. O racismo. Por que Pelé, o melhor de todos no seu campo, não se tornou a voz dos negros no Brasil do racismo cotidiano?
Uma questão de personalidade? O homem do apelido não precisou trocar de nome. Terá isso definido sua assinatura? Terá o racismo (mal)dissimulado do Brasil enganado Pelé, fazendo-o pensar que vivia, de fato, numa democracia racial? Terá faltado a Pelé um Malcolm X para lhe iluminar o caminho? Teria Pelé sido diferente se o Brasil adotasse os mesmos costumes segregacionistas dos Estados Unidos?
O racismo no Brasil persiste. O silêncio de Pelé também.
Pelé fez muito. Ser Pelé já é enorme. Por que não fez mais ainda? Por que não se tornou líder?
Muhammad Ali foi o maior de todos. O líder negro que ampliou seu campo de luta.
Pelé ainda pode fazer mais um gol. Um gol de placa contra o racismo.
A bola está com ele.
...
*Juremir Machado da Silva é jornalista e escritor.
**Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/

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