terça-feira, 1 de novembro de 2011

Gravataí/RS


A história do prefeito interino de Gravataí que foi demitido de hospital, acusado de furar a fila do SUS

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“Os fatos em relação aos quais o autor foi acusado dizem respeito à intermediação de consultas e exames junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), de forma a privilegiar o atendimento de amigos e parentes, em detrimento dos que aguardavam a ordem de atendimento”.

O trecho acima foi extraído da sentença proferida pelo desembargador Fabiano de Castilhos Bertolucci, do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, em 23 de julho de 2009. O “autor” a que se refere o magistrado é o vereador do PMDB, Nadir Flores da Rocha, o homem que, recentemente, conduziu o processo de cassação da prefeita Rita Sanco (PT), em Gravataí e que assumiu o lugar dela. Ou seja, é o atual comandate do Executivo gravataiense.

Em 2004, a direção do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) recebeu uma denúncia: o funcionário do setor de Arquivo do Hospital Fêmina, Nadir Flores da Rocha, que também era vereador em Gravataí, estaria furando a fila do SUS para privilegiar amigos, parentes e eleitores. A direção do GHC abriu uma sindicância. Alguns dos depoimentos:

“…rotineiramente, o funcionário Nadir se ausenta do setor, dentro do horário de expediente, sem autorização, a fim de encaminhar pacientes para consultas e exames. A conduta do funcionário causa diversos problemas dentro do setor (arquivo), causa descontentamento e queixas por parte dos colegas, uma vez que o mesmo deixa de fazer o seu trabalho…” (do chefe de Nadir no Setor de Arquivo).

“…Nadir se ausenta do setor frequentemente a fim de encaminhar os pacientes que procuram por ele. O setor não pode contar com o serviço do colega pois este tem um desempenho fraquíssimo…” (de um colega de Nadir no Arquivo).

“…logo que o Nadir veio cedido para o Hospital Fêmina solicitava, durante o seu horário de trabalho, que fossem gerados boletins de atendimentos para pacientes. Ele trazia nomes de pacientes anotados em papéis, solicitando que fossem gerados boletins de atendimento sem que os pacientes estivessem presentes. As vezes, ao solicitar os boletins, Nadir indicava o CRM do médico para que constasse no boletim…” (de uma auxiliar administrativa do Hospital Fêmina)

“…Nadir solicitou que gerasse boletim de atendimento, sem estar acompanhado de paciente, tendo indicado o CRM de uma médica pediatra que estava dentro do Arquivo Médico…” (de outra auxiliar administrativa do Fêmina)

“…quando Nadir estava acompanhado de pacientes, sempre deixava claro para os mesmos que era ele quem estava intermediando o procedimento, ou seja, que a marcação da consulta ou a solicitação de exames estava ocorrendo por causa da atuação dele… sempre se mostrando grosseiro e autoritário…” (mais uma auxiliar administrativa)

“…várias vezes o funcionário (Nadir) me fez pedidos para que atendesse pacientes encaminhados por ele mas diante do excesso de pacientes encaminhados por Nadir, procurei o senhor Alvarim (Chefe de Nadir) e solicitei que tomasse providências no sentido de que fosse coibida a ação de Nadir, para evitar que ele conseguisse emitir boletins de atendimento…” (de um médico do hospital)

Nadir foi chamado a depor no dia 1º de julho de 2004 mas negou-se a responder qualquer pergunta. Disse apenas que havia comparecido para buscar cópias de documentos que entregaria ao seu advogado. A sindicância teve o cuidado de ouvir, também, alguns dos pacientes privilegiados por Nadir. Eles confirmaram tudo. Assim, a conclusão não podia ser outra que não sugerir a instauração de um Processo Administrativo Disciplinar que resultou na demissão de Nadir por justa causa. Ele ainda tentou, junto à Justiça do Trabalho, reverter a demissão, exigiu horas-extras e alegou perseguição política. Perdeu todas.

Mesmo assim, Nadir reelegeu-se vereador em Gravataí em 2008 pelo PMDB e tornou-se presidente da Câmara Municipal. Nesta função, com a cassação de Rita Sanco, foi este homem, com este currículo, que assumiu a prefeitura de Gravataí.

Sim, Gravataí tem hoje na Prefeitura, um homem que furava a fila do SUS. E, pior, tudo indica que fazia isso para conseguir votos. Um homem cuja prática no serviço público parece ser a de favorecer os amigos em detrimento dos que realmente mais precisam. Um homem que, ao desorganizar o Sistema Único de Saúde, pode ter comprometido a saúde (e a vida) de muita gente que esperava por sua vez de ser atendida. Foi a este homem que se aliaram partidos como o PV, o PSB, o PP e o PTB. E se aliaram para cassar uma prefeita de quem jamais alguém ousou sequer supor que tomasse para si um centavo do dinheiro público.

Rita, a prefeita legítima que teve a função surrupiada por um golpe, é uma professora que, enquanto Nadir furava a fila do SUS no GHC, seguia fazendo política limpa e lutava, transparentemente, para defender sua categoria e a população mais pobre de Gravataí. Rita é uma mulher que, justamente por nunca cogitar práticas hediondas como furar a fila do SUS, foi incapaz de acreditar que, contra ela, se ergueriam calúnias capazes de justificar a perda de seu mandato. Foi esta a Rita que perdeu o lugar na prefeitura. Porque Nadir, mais uma vez, furou a fila. (Maneco - via Blog RS Urgente)http://rsurgente.opsblog.org/

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