sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MEMÓRIA - VI

 
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Dando  sequência às  'Memórias  do Blog O Boqueirão', repostamos à seguir este importante estudo histórico, político e sociológico postado no blog em 19 de julho de 2007,  devidamente assinado pelo autor, cujo título é:


O PT de Santiago: impasses e perspectivas 


19/07/2007 - "No meu livro “Boca de Lobo” (2005-GEFO*) relato uma passagem histórica que sintetiza bem o que já foi à esquerda em Santiago: em 1950, um grupo de militantes, entre eles, Oneron Dornelles, Aparício e Jéferson Gomes da Silveira, Rubem Lang, Níssio Castiel ... convocando para um ato, na esquina democrática de Santiago, contra o emprego da bomba atômica e pela paz mundial. O espírito do evento, quero crer, sintetiza bem o que já fomos um dia, especialmente, porque em 1955, o médico trabalhista, Rubem Lang, impõe uma derrota histórica aos setores oligárquicos. É claro que a ditadura, a partir de 1964, impediu a emergência de novas lideranças. Somente no final dos anos 70 e início dos anos 80 é que despontam algumas lideranças de esquerda, com base teórica e realmente consistentes. Essas, vem pari passu com o surgimento do Partido dos Trabalhadores – PT -  no contexto municipal. O PT santiaguense foi fundado em 1981, estando entre seus fundadores, dentre outros,  o professor Carlos Ney Martins da Silva, que foi também o primeiro presidente do PT local. Pode-se dizer que a candidatura de Alziro Bandeira, em l982, pedreiro e morador de uma vila humilde, foi um marco relevante na ruptura de classe em nosso meio. É importante frisar que essa candidatura, de Alziro Bandeira e seu vice Jorge Molleta é fruto de um longo processo de articulação política, não brotando ao acaso e aqui é preciso reconhecer o denodo e o trabalho aguerrido de Júlio César Schmitt Garcia que, de Porto Alegre, onde, naquele período, residia e militava no PT, no  movimento estudantil e sindical, também articulava a organização do partido em vários municípios do interior do estado, Santiago dentre eles,   a quem credito o mérito dessa concepção e a articulação naquele distante 1982.

 Após esse período, mesmo com o revés geral das eleições desse ano, o PT cresce bastante no estado e no país, inclusive em Santiago. Esse período, que vai  de 1987 a 1996, certamente não por acaso o  período  em que houve o retorno de Júlio Garcia à Santiago, onde o mesmo  exerce então  a função de Secretário de Organização e, após, Secretário Geral, tendo como presidente  Aparício Silveira,   foi o período mais rico do partido no município, com alguns núcleos de base funcionando e  com uma progressiva participação do PT  também nos movimentos sociais, estudantis e sindicais. Em 1988, com a candidatura de Edison Beltrão Braga,  o PT concorre com chapa própria para o Executivo e Legislativo local, deixando de eleger seu primeiro vereador por apenas 33 votos.  Em 1990 ocorre a candidatura de Júlio Garcia a Deputado Federal, uma tática inteligente do PT  regional de fomentar o debate e de fortalecer a  construção partidária. 

Mas em 1992 surgem os primeiros problemas ou  ziguezagues ideológicos, especialmente a concepção de frente em torno do nome de Vulmar Leite,  fato esse que gerou seqüelas internas no PT, uma vez que essa decisão não foi pacífica, sendo que novamente o PT não conseguiu, por pouco, eleger sua bancada de vereadores. Então, em 1996,   sob a presidência do advogado José Nunes Garcia, ocorreu a candidatura de José Cândido Duarte, com Ruben Bitencourt  Finamor como candidato a vice-prefeito, que sintetiza a melhor fase do Partido sendo que, nessa eleição, teve dois  vereadores eleitos: Neomir Alcântara e Antônio da Rosa  Bueno. Já no pleito de 2000, o PT lança Neomir à prefeitura e o  PT segue em ascensão, reafirmando sua linha de demarcação de um pólo classista, mantendo a eleição de dois vereadores (Bueno e Clodomiro que, pouco depois, iria para o PMDB) e conquistando mais a vereadora Clair, que tinha divergido com a direção do PDT, tendo sido sumariamente expulsa do partido, sendo após acolhida pelo PT. Em 2004 o PT,  novamente com sérias divergências internas quanto a melhor  tática eleitoral e política de alianças,  vai dividido para as eleições, sendo que o setor que defendia candidatura própria ao Executivo não logrou êxito, e o PT contabiliza então sua pior derrota político-eleitoral, perdendo inclusive o espaço que detinha no legislativo.  A partir daí, embora a redução de vagas pelo TSE, decisão reafirmada pelo STF, o partido entra em franco processo de perdas sucessivas de espaços. (...)
Por fim, ainda sob um outro enfoque, saindo um pouco da questão eleitoral em si,  o que acontece em Santiago é que o PP abocanha para si as grandes realizações do governo federal e programas nitidamente petistas são creditados a pepistas, que afora abocanharem a expressão mais nítida da organização social, surrupiam até os programas sociais do governo Lula e deles tiram proveito eleitoral.

Mas, creio que o debate está aberto. Se bem compreendidos tanto os êxitos quanto as falhas do passado, pode-se marchar rumo à construção de um novo processo. Mas esse não pode ignorar o diagnóstico que aponta claramente alguns erros de inserção, ausência de disputa de hegemonia, falta de organização de alguns segmentos da sociedade civil e condução de lideranças que levaram o Partido ao isolamento e afastamento do conjunto da sociedade santiaguense, que afinal tem seus códigos próprios, ritos e algumas particularidades que devem ser respeitadas.

Finalizando, asseguro que – apesar de tudo – temos raízes históricas fincadas na esquerda, temos um contingente expressivo do eleitorado local que vota na esquerda e, sobretudo, perspectivas de trabalhar e operar em cima desses elementos."   (Por Júlio César de Lima Pratesespecial para  'O Boqueirão')

2 comentários:

  1. ´Caro companheiro Júlio, excelente relato histórico do PT de Santiago. Valeu. Grande abraço. Rubens Leal

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  2. Grande companheiro Rubens, da velha cepa: grande abraço! Sempre na luta!!!

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