segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Companheiro Universindo Diaz

Universindo sobreviveu a duas ditaduras e agora luta pela vida em Montevidéu


Por Luiz Cláudio Cunha*
Exclusivo para Sul21

O historiador e ativista politico uruguaio Universindo Rodríguez Díaz, 60 anos, sequestrado em Porto Alegre pela ‘Operação Condor’ em novembro de 1978, sobreviveu a duas ditaduras e a duras torturas no Brasil e no Uruguai e agora enfrenta sua mais dura luta pela vida.

Na terça-feira, dia 3, Universindo foi internado às pressas num hospital de Montevidéu, onde vive, com fortes dores nas costas. Os exames iniciais revelaram que ele padece de um estágio avançado de mieloma múltiplo, um câncer agressivo e incurável que se desenvolve na medula, gerando um crescimento desordenado dos glóbulos brancos, derrubando o sistema imunológico, submetendo o paciente a dores fortes nos ossos e comprometendo gravemente os rins. Os médicos iniciaram uma diálise de emergência, tentando estabilizar o doente para iniciar a quimio e a radioterapia.

No sábado, o estado de Universindo agravou-se, com complicações respiratórias e neurológicas. O coração fraquejou, diante do aumento de viscosidade sanguínea que afeta todo o sistema circulatório. Ele foi transferido para a UTI, onde respira com a ajuda de aparelhos. O mieloma múltiplo é uma doença traiçoeira, assintomática, que exige um diagnóstico prévio para dar tempo ao tratamento de praxe, que começa com a quimioterapia e os corticoides e termina, em caso extremo, com transplante da medula óssea. Nos casos detectados nos estágios iniciais, a sobrevida chega a cinco anos e não passa de dois anos para os pacientes mais avançados. A aparição fulminante da doença em Universindo não permitiu, ainda, nem a adoção das etapas iniciais da oncologia.

É uma doença rara, que ataca apenas cinco em cada 100 mil habitantes. É uma doença de idosos e menos de 10% dos pacientes não alcançaram ainda os 50 anos de vida. O organismo debilitado de Universindo entrou precocemente nesse grupo de risco, entre outras razões, porque traz no corpo as marcas de sua dura luta para sobreviver à violência dos ‘anos de chumbo’ da década de 1970 no sangrento Cone Sul do continente.

Foi sequestrado aos 27 anos em 1978 em Porto Alegre junto com Lílian Celiberti (29 anos) e seus dois filhos, Camilo (8 anos) e Francesca (3). Os sequestradores cumpriam uma missão binacional da clandestina ‘Operação Condor’, com militares uruguaios atuando ilegalmente no Rio Grande do Sul com a cobertura e cumplicidade do DOPS, a polícia política do regime, comandada na capital gaúcha pelo delegado Pedro Seelig, o nome mais importante da repressão no sul do país, conhecido como o “Fleury dos pampas” — referência ao seu amigo Sérgio Fleury, delegado do DOPS paulista, envolvido com o ‘Esquadrão da Morte’ e as torturas aos presos políticos em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Detido pessoalmente por Seelig e sua equipe no apartamento da rua Botafogo, no bairro Menino Deus, no início da tarde de domingo, 12 de novembro, Universindo começou a apanhar ali mesmo, na sala. Ligaram a TV portátil com o som bem alto para abafar o som seco das pancadas que ele recebia, sentado em uma cadeira, algemado por trás. Levou muitos socos no estômago e pancadas na cabeça desferidas por um homem forte, negro, de mão pesada. 

O agressor e a vítima não sabiam, mas tinham pelo menos algo em comum: a paixão pelo Internacional. Universindo havia se tornado torcedor colorado logo que chegou a Porto Alegre, meses antes, e o batedor era o ex-centro-avante do Inter “Didi Pedalada”, agora vestindo a camiseta do time barra-pesada de Seelig, outro ilustre colorado, que frequentava os vestiários do Beira-Rio e se gabava de sua amizade com o craque do time, o meia Paulo Roberto Falcão. (...)
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