Folha
de S.Paulo ataca quem investiga a Zelotes
Por
Paulo Pimenta*l
Para
minha surpresa, nesta quinta-feira (21), o colunista da Folha de S.Paulo
Leonardo Souza iniciou uma “cruzada” contra todos aqueles que lutam para que
não haja uma operação abafa sobre a Operação Zelotes. Acuada que está, a mídia
faz diversas tentativas para desqualificar tanto a Zelotes quanto o episódio
das contas secretas do HSBC na Suíça, conhecido como escândalo Swissleaks, pois
ela não sabe QUEM as investigações poderão “pegar”.
O
que se sabe é que nesses dois escândalos bilionários de sonegação há empresas
de mídia e nomes ligados a grupos de comunicação envolvidos. Como a imprensa
não controla esses episódios, ela busca estratégias para retirar a autoridade
do trabalho investigativo da Polícia Federal e do Ministério Público Federal,
ou daqueles que buscam dar visibilidade à Operação Zelotes.
A
imprensa, basicamente, não se ocupa da Operação Zelotes por três motivos: o
escândalo bilionário não envolve a classe política (os envolvidos são empresas
privadas, anunciantes da própria mídia); há grupos de mídia investigados; e por
que parte da imprensa sustenta que sonegar é um ato aceitável, e que não se
trata, portanto, de corrupção.
Chama
atenção que o colunista Leonardo Souza jamais se deteve em profundidade ao
assunto para informar à sociedade o que é o Carf, o que é a Operação Zelotes,
como é que agiam as quadrilhas que se apropriaram de uma estrutura como o Carf
para defesa dos seus próprios interesses. Pelo que se sabe, o colunista não
moveu até agora uma palha para tentar esmiuçar o assunto. Quando não cala sobre
a Zelotes, o colunista Leonardo Souza prefere fazer juízo de valor sobre a
minha atuação, tentando colocar sob suspeita as reais intenções do nosso
trabalho.
Lamento
que, mesmo tendo gasto grande quantidade de papel e tinta acompanhando a
Operação Zelotes e a nossa atividade parlamentar, o colunista da Folha de
S.Paulo o faça sem reconhecer a realidade dos fatos, sob a frágil alegação de
que os esforços engendrados por nosso mandato tenham a única finalidade de
desviar a publicidade da operação Lava Jato. Qual o motivo de tratar a Lava
Jato e a Zelotes como concorrentes, e não como casos de corrupção de forma
semelhante, respeitando o direito que a sociedade tem de ser informada? Se o
raciocínio do tal colunista procedesse, seria possível afirmar que a mídia só
cobre a Lava Jato com objetivo de ofuscar a Zelotes.
Sim,
Leonardo, que as autoridades investiguem a fundo a Lava Jato, a Zelotes, o
HSBC, o Mensalão Tucano, o Trensalão Tucano de São Paulo e todos os casos de
corrupção do país, bem diferente do que ocorria até o final dos anos 1990,
quando muitos casos de corrupção eram engavetados. E que a imprensa, por sua
vez, noticie todos os casos de corrupção do país.
E
quando for cobrada de que não está cumprindo com o papel de informar e servir
ao cidadão, de que está agindo como a quadrilha que atuava no Carf defendendo
apenas seus próprios interesses, que a imprensa não busque o caminho dos
ataques, da desqualificação e das suposições baseadas em ufanismos editoriais
ideológicos. Que não seja autoritária como os censores da ditadura! Que não
tente calar e sufocar a voz daqueles que buscam chamar atenção para a
roubalheira que foi feita no Carf. Que não censure! Que não faça o que
justamente critica. Combata a censura, a si próprio, e não quem defende a
liberdade para se falar da Zelotes e de todos escândalos de corrupção.
Por
respeitar e confiar na independência do poder judiciário é que buscamos
tratamento isonômico a todas as investigações criminais envolvendo o desvio de
verbas públicas. Acreditamos que entre os excessos a Operação Lava Jato e a
negligência dedicada à Operação Zelotes deve existir um caminho do meio.
As
estratégias da mídia são velhas conhecidas. O que há de novo é que, agora, não
há mais como impedir que o público tenha acesso às informações de que os
grandes grupos de comunicação estão envolvidos tanto no Swissleaks quanto na
Zelotes, que apuram sonegação fiscal, corrupção, tráfico de influência e
lavagem de dinheiro.
Infelizmente,
a imprensa brasileira trabalha os casos de corrupção não a partir do ato em si,
mas, sim, a partir de quem praticou a corrupção e quem está envolvido nesses
escândalos. Só depois desse filtro, dessa censura prévia, e só depois de
verificar se não irá atingir interesses dos grupos econômicos influentes, é que
a imprensa decide qual o tamanho da cobertura jornalística que dedicará, ou,
então, se irá varrer os acontecimentos para debaixo do tapete, sumindo com
esses fatos do noticiário.
A
mídia conhece, mais do que ninguém, os limites da sua liberdade de expressão,
até onde pode ir e sobre o quê e quem falar. Nesse sentido, e parafraseando o
próprio colunista Leonardo Souza, “é uma pena que o ímpeto apurativo da imprensa
brasileira não se dê pela vontade genuína de ver um Brasil limpo da corrupção”.
*Paulo
Pimenta (foto), jornalista e deputado federal pelo PT-RS. - fonte: Viomundo
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