domingo, 3 de maio de 2015

De Costa para ditadura




Por Bruno Ortiz e Silva Ehlers*
Somos professores na Escola Estadual Costa e Silva onde todas as manhãs aprendemos a sermos humanos melhores. Desde 2013, acompanhando a abertura dos arquivos da ditadura pela Comissão Nacional da Verdade, instigamos um debate acerca da mudança do nome da escola através de atividades pedagógicas transversais.
De lá pra cá, colocamos em diálogo as disciplinas de Língua Portuguesa, Literatura, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, e propusemos os seguintes eventos: “De Costa pra Ditadura” (2013) e “Chega de Costa! Vamos encarar a ditadura de frente” (2014). Além de aulas formais, utilizamos métodos diversificados como teatros, sessões de cinema, saraus literários e palestras onde os estudantes foram protagonistas. Num dos trabalhos, o Relatório Figueiredo foi a base para uma palestra sobre os campos de concentração indígena, feita por uma estudante. As músicas, danças, interpretações e intervenções realizadas culminaram numa manifestação em frente à Secretaria de Educação pela troca do nome e numa assembleia inflamada no último dia 15 de abril, promovida pelo Grêmio Estudantil.
O tema gerou polêmica e dividiu as opiniões de estudantes, professores e funcionários. Entre os argumentos verificou-se uma oposição entre a memória da comunidade e a memória política nacional. O que mais causou estranheza foi a alegação de que ninguém sabia quem foi Costa e Silva. Ou seja, a falta de informação e conhecimento, num espaço de aprendizagem, como argumento para sustentar a homenagem ao ditador. Conversas espontâneas sobre o tema ganharam os corredores, salas, pátio, nos permitindo um clima de diálogo. Civilidade e respeito às opiniões são vistos na escola que leva o nome do ditador que assinou o AI 5.
A mudança ou não do nome da escola Costa e Silva será decidida pela comunidade escolar através do diálogo estabelecido por este verdadeiro tema gerador. Enquanto a escola debate o assunto ouvindo a todos e preparando um plebiscito a ser realizado no mês de maio, continuamos a campanha pela troca do nome. Entendemos que os responsáveis por crimes de lesa-humanidade nunca devem ser esquecidos, mas jamais homenageados.
Somos professores que lutamos por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Essa é nossa principal bandeira. Mas em nome das centenas de desaparecidos, das mulheres e homens estuprados e torturados, das famílias que esperam até hoje por seus filhos, dos índios massacrados e mantidos em cativeiro, dos estudantes perseguidos e mortos, que lutamos por um nome que homenageie um ser humano melhor.
 *Professores - Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/

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