Nossa Porto Alegre : 240 anos
Por Adão Villaverde*
A paixão e o amor que sinto por Porto Alegre foram despertados precocemente nos bancos escolares do nosso Julinho e no acolhimento que tive, enquanto fronteiriço que veio residir no Bomfim. Eram meados dos anos 70, quando nossa geração lutava contra o amordaçamento do autoritarismo.
Encontrei uma cidade encantadora e bela, rica culturalmente, instigante e rebelde frente à ausência de democracia e uma capital humanista, com todas suas grandezas e mazelas. Que, por sua politização e capacidade crítica, foi fundamental no processo de redemocratização do Estado brasileiro.
Aqui, aprendi que uma cidade deve ser um espaço público de encontros e convivências entre pessoas. Cuja cidadania exige que todos possam e devam usufruir dos serviços básicos e terem qualidade de vida digna, condizente com o padrão civilizatório do nosso tempo.
Entretanto, esta celebração não pode interditar uma obrigatória reflexão, acerca do momento e dos rumos de nossa linda Porto Alegre.
Para quem já foi capital mundial da democracia e referência no Brasil inteiro pelos serviços básicos à população, a atualidade merece preocupação. Para quem já olhou de frente para nossas vilas, bairros e comunidades e fez ali chegar (atendimentos) fundamentais como água, esgotamento sanitário, asfalto e recolhimento de resíduos com qualidade, ver hoje estas necessidades públicas precarizadas, nos angustia muito.
Associa-se a isto, a insegurança, a mobilidade urbana à beira do impasse, o amortecimento do seu potencial de desenvolvimento, a falta de cuidado com espaços públicos, com áreas verdes e com mobiliário urbano. Revelando que só a retomada de uma gestão com planejamento estratégico e eficácia operacional é capaz de superar as ações por impulso.
Para nossa Porto Alegre, a um só tempo, aldeia e cidade do mundo, é momento de busca de ressignificação, na qual necessariamente governar seus rumos e não ser governado por eles, está mais do que atual, é fundamental.
Precisamos de uma cidade que responda às questões imediatas e mais sentidas de seu povo e, ao mesmo tempo, seja pensada e planejada para tornar realidade o que os portoalegrenses merecem. Uma cidade com desenvolvimento urbano e mobilidade sustentáveis, para que possamos nos reencantarmos novamente com o fascínio de nossas praças, de nossos verdes parques e a delicadeza dos floridos jacarandás. Despertando novamente o fundamental sentimento de uma cidade segura e com qualidade de vida para todos, como é a alegria de vermos a beleza do entardecer crepuscular sobre nosso Guaíba.
*Adão Villaverde é engenheiro, professor, deputado do PT/RS e ex-presidente da Assembleia Legislativa - Via sítio Sul21
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