Antes de entrar no tema que quero comentar, chamo a
atenção para o “Desfile Cívico-Militar do Vinte de Setembro” (conforme consta
da programação dos seus organizadores, os dirigentes do MTG – Movimento
Tradicionalista Gaúcho) que está se desenrolando hoje, precisamente 20 de
setembro de 2012.
Quero sublinhar a ênfase na expressão “cívico-militar”
dado pelo MTG, em pleno século 21. Me explico. Ninguém desconhece a filiação
positivista-comtiana dos republicanos brasileiros, na segunda metade do século
19. No Rio Grande do Sul, onde a República aconteceu depois de uma revolução
cruenta que durou de 1893 a 1895, os positivistas foram mais radicais e, por
isso, mais exitosos do que no resto do Brasil. Julio de Castilhos e os
militantes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) modificaram completamente
o cenário político e social do estado mais meridional do País. No RS não houve
a chamada troca de placa: sai a Monarquia dos Bragança, entra a República
constitucional. Aqui, houve a mais completa e absoluta troca da elite no poder.
Saem os velhos estancieiros pecuaristas da Campanha, entra uma composição de
classes formada por uma pequena burguesia urbana, uma classe média rural,
profissionais liberais e colonos de origem europeia da região serrana.
Os positivistas sulinos, fiéis aos ensinamentos
dogmáticos de Auguste Comte, propugnavam – como o mestre – pela superação das
fases pregressas da Humanidade. À fase militar-feudal deve seguir-se a fase
industrial da Humanidade. Ou seja, à fase militar corresponderia a insurreição
farroupilha de 1835-45 contra o Império do Brasil, agora – com o advento
republicano – estávamos, pois, na hora de criar condições para o
desenvolvimento e o progresso material que se daria por um processo intensivo
de industrialização manufatureira.
Vejam, pois, que os tradicionalistas do século 21
continuam com os olhos fixos num passado praticamente feudal, marcadamente
militarista, embora não tenhamos experimentado, de forma hegemônica e total,
esse modo de produção pré-capitalista no Brasil.
Um dos formuladores intelectuais do que chamamos de
ordem delirante do atraso – o pensamento tradicionalista da estância – foi
Ramiro Frota Barcellos. Na obra “Rio Grande, tradição e cultura” (1915), o
santiaguense é de uma clareza solar quanto aos propósitos enfermiços do
tradicionalismo estancieiro: “O que agora se verifica, mercê do atual movimento
tradicionalista, é a transposição simbólica dos remanescentes dos ‘grupos
locais’, com suas estâncias e seus galpões para o coração das cidades.
Transposição simbólica, mas que fará sobreviver, na mais singular aculturação
de todos os tempos, o Rio Grande latifundiário e pecuarista”.
Qualquer semelhança com o enclave da bombacha e da
fumaça que anualmente acampa, no mês de Setembro, no Parque da Harmonia, em
plena área central de Porto Alegre, não é mera coincidência. A “mais singular
aculturação de todos os tempos”, como premonitoriamente afirma Barcellos. Neste
caso, “aculturação” é sinônimo de regressismo e estagnação.
É sobre isso que eu quero comentar brevemente. (...)
CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, o (contundente, revelador e questionador) artigo do sociólogo e pesquisador Cristóvão Feil.
*Via Blog Diário Gauche http://diariogauche.blogspot.com.br/
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