Por Marjorie Cohn, Countercurrents*
Pela primeira vez Bradley pôde falar publicamente sobre o que fez e
porquê. As suas ações, agora conhecidas pelas suas próprias palavras, mostram
um jovem soldado muito corajoso.
Quando tinha 22 anos, o cabo Bradley Manning entregou documentos
secretos à WikiLeaks. Entre esses documentos, o vídeo conhecido como
“Collateral Murder” [Assassinato Colateral], em que se veem militares
norte-americanos num helicóptero Apache, assassinando 12 civis desarmados, dos
quais dois eram jornalistas da Agência Reuters, e ferindo duas crianças.
“Supus que, se o público, principalmente o público norte-americano,
assistisse àquele vídeo, talvez surgisse algum debate sobre os militares e a
nossa política exterior em geral, como era aplicada ao Iraque e ao Afeganistão”
– disse Bradley diante do tribunal militar que o está a julgar, durante as
formalidades da sessão em que se declarou culpado em algumas das acusações. –
“Supus que o vídeo pudesse levar a sociedade norte-americana a reconsiderar a
necessidade de envolver-se em operações de antiterrorismo, sem nada saber sobre
a situação humana das pessoas contra as quais disparamos todos os dias.”
Bradley disse que se sentiu frustrado por não ter conseguido convencer
os seus superiores a investigar os factos que se veem no vídeo “Assassinato
Colateral” e outras imagens e escritos de “pornografia bélica” que havia nos
arquivos que entregou à WikiLeaks.
“Fiquei muito perturbado, quando não vi qualquer reação diante de
crianças feridas.” O que mais perturbou Bradley foram os soldados que se veem
no vídeo, que “parecem não dar valor algum à vida humana e referem-se [aos
alvos dos tiros], como “filhos da puta mortos” [dead bastards].
Pessoas que se aproximaram para resgatar os feridos também foram
alvejadas e mortas. A ação dos soldados norte-americanos que se veem naquele
vídeo é tipificada como crime de guerra nos termos das Convenções de Genebra,
que proíbe de disparar contra civis; impedir resgate e socorro de feridos; e
destruição de cadáveres para impedir que sejam identificados.
Ninguém da WikiLeaks pediu ou o estimulou a dar os documentos, disse
Bradley. “Ninguém associado com a Organização WikiLeaks (WLO) pressionou para
que lhes desse mais informação. A decisão de entregar documentos à WikiLeaks
foi exclusivamente minha.”
Antes de fazer contacto com a WikiLeaks, Bradley tentou interessar o
Washington Post a publicar os documentos, mas não recebeu qualquer resposta do
jornal. Tentou fazer contacto também com o New York Times, sem sucesso.
Durante os primeiros nove meses de detenção, Bradley foi mantido em
cela solitária – o que caracteriza tortura, dado que o isolamento pode levar a
alucinações, catatonia e suicídio.
Bradley manteve a declaração de “inocente” nos demais 12 crimes de que
os promotores do tribunal militar o acusam, dentre outros o de espionagem a
favor do inimigo e colaboração com o inimigo, cuja pena é a prisão perpétua.
As ações de Bradley Manning fazem lembrar o que fez Daniel Ellsberg,
que divulgou os “Papéis do Pentágono”, no qual se expunham as mentiras do
governo dos EUA e que apressaram o fim da Guerra do Vietname.
*Tradução: Esquerda.net - Via Carta Maior
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