sábado, 25 de maio de 2013

A “importação” de médicos cubanos



*Por Adeli Sell

Faço questão do título, pois é o que a mídia plantou, o conservadorismo alardeou e o senso comum comprou. Em recente debate na TV local, contestei o uso desta linguagem rebaixada. Importamos mercadorias! Convidamos pessoas a trabalhar em nosso país.

O triste é ouvir que temos médicos demais quando, na média, estamos abaixo dos índices de Argentina e México, para citar dois exemplos. Temos 1,8 médicos para cada 1.000 brasileiros, índice abaixo de países desenvolvidos como Reino Unido (2,7), Portugal (4) e Espanha (4) e de outros latino-americanos como Argentina (3,2) e México (2).

Como disse o ministro da saúde Alexandre Padilha, atrair médicos estrangeiros para o Brasil não pode ser um tabu. Abordagens desse tema, por vezes preconceituosas, não podem mascarar estas constatações: o Brasil precisa de mais médicos com qualidade mais próximos da população e não se faz saúde sem médicos.

Se do ponto de vista das capitais, a escassez desses profissionais já é latente, os desníveis intermunicipais tornam o quadro ainda mais dramático. Vi, vivi, testemunhei. Quem mora na Restinga ou no Rubem Berta, sofre bocados com a ausência deles. Seja porque o médico não veio ou porque a doutora chegou atrasada e não pode atender a todos.

Há um enorme déficit de médicos, o que leva a um desinteresse dos profissionais em trabalhar nos postos e cidades menos “atrativas”. Em um município a 80 km de Porto Alegre, o prefeito ofertou um contrato de 12 mil, e espera por um médico. Noutra, a 60 km, a Prefeitura paga 10.500 líquidos. Conseguiu quatro deles.

Esse imbróglio ocorrido aqui no Estado e refletido Brasil a fora levou prefeitos de todo o país a pressionarem o governo federal por medidas. Para enfrentar essa realidade, nosso governo tem analisado modelos exitosos adotados em outros países com dificuldades semelhantes. Estamos com a expectativa de contratar seis mil médicos que preencham vagas no Programa Saúde da Família.  Estes profissionais, oriundos de países ibero-americanos com proporção de médicos superior à brasileira, como Argentina, Uruguai, Cuba, Espanha e Portugal, atuariam na atenção básica, voltada à prevenção e à baixa complexidade.

Ouso dizer que se o Ministro tivesse dito que convidara médicos finlandeses ou suecos não haveria esta gritaria. Virou guerra fria. Precisamos nos desarmar e pensar naqueles que precisam de médicos e não tem. Que venham todos(as), sejam cubanos, espanhóis ou suecos. Abaixo o preconceito. Abaixo o corporativismo que faz mal à saúde.

*Adeli Sell é servidor público estadual,  escritor e consultor. É 1º suplente de vereador do PT/Poa e Presidente do PT da capital dos gaúchos. (via Sul21)

2 comentários:

  1. Valeu Júlio.
    Espero estar contribuindo com o verdadeiro debate sobre um mundo sem fronteiras e sem sectarismo, muito menos de Guerra Fria.

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  2. Grande Adeli!
    Tuas reflexões são sempre precisas e valiosas, contribuem muitíssimo para a qualificação da informação, do debate ... e honram muito o Editor deste modesto blog.
    Grande abraço!
    Júlio Garcia

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