*Por Adeli Sell
Faço
questão do título, pois é o que a mídia plantou, o conservadorismo alardeou e o
senso comum comprou. Em recente debate na TV local, contestei o uso desta
linguagem rebaixada. Importamos mercadorias! Convidamos pessoas a trabalhar em
nosso país.
O
triste é ouvir que temos médicos demais quando, na média, estamos abaixo dos
índices de Argentina e México, para citar dois exemplos. Temos 1,8 médicos para
cada 1.000 brasileiros, índice abaixo de países desenvolvidos como Reino Unido
(2,7), Portugal (4) e Espanha (4) e de outros latino-americanos como Argentina
(3,2) e México (2).
Como
disse o ministro da saúde Alexandre Padilha, atrair médicos estrangeiros para o
Brasil não pode ser um tabu. Abordagens desse tema, por vezes preconceituosas,
não podem mascarar estas constatações: o Brasil precisa de mais médicos com
qualidade mais próximos da população e não se faz saúde sem médicos.
Se
do ponto de vista das capitais, a escassez desses profissionais já é latente,
os desníveis intermunicipais tornam o quadro ainda mais dramático. Vi, vivi,
testemunhei. Quem mora na Restinga ou no Rubem Berta, sofre bocados com a
ausência deles. Seja porque o médico não veio ou porque a doutora chegou
atrasada e não pode atender a todos.
Há
um enorme déficit de médicos, o que leva a um desinteresse dos profissionais em
trabalhar nos postos e cidades menos “atrativas”. Em um município a 80 km de
Porto Alegre, o prefeito ofertou um contrato de 12 mil, e espera por um médico.
Noutra, a 60 km, a Prefeitura paga 10.500 líquidos. Conseguiu quatro deles.
Esse
imbróglio ocorrido aqui no Estado e refletido Brasil a fora levou prefeitos de
todo o país a pressionarem o governo federal por medidas. Para enfrentar essa
realidade, nosso governo tem analisado modelos exitosos adotados em outros
países com dificuldades semelhantes. Estamos com a expectativa de contratar
seis mil médicos que preencham vagas no Programa Saúde da Família. Estes profissionais, oriundos de países
ibero-americanos com proporção de médicos superior à brasileira, como
Argentina, Uruguai, Cuba, Espanha e Portugal, atuariam na atenção básica,
voltada à prevenção e à baixa complexidade.
Ouso
dizer que se o Ministro tivesse dito que convidara médicos finlandeses ou suecos
não haveria esta gritaria. Virou guerra fria. Precisamos nos desarmar e pensar
naqueles que precisam de médicos e não tem. Que venham todos(as), sejam
cubanos, espanhóis ou suecos. Abaixo o preconceito. Abaixo o corporativismo que
faz mal à saúde.
*Adeli
Sell é servidor público estadual, escritor e consultor. É 1º suplente de vereador do PT/Poa e Presidente do PT da capital dos gaúchos. (via Sul21)
Valeu Júlio.
ResponderExcluirEspero estar contribuindo com o verdadeiro debate sobre um mundo sem fronteiras e sem sectarismo, muito menos de Guerra Fria.
Grande Adeli!
ResponderExcluirTuas reflexões são sempre precisas e valiosas, contribuem muitíssimo para a qualificação da informação, do debate ... e honram muito o Editor deste modesto blog.
Grande abraço!
Júlio Garcia