O
estúpido projeto do deputado Osmar Terra, o qual vai na contramão da tendência
mundial, aumentando as penas e prevendo a possibilidade de internações
involuntárias, foi em parte aprovado ontem pela Câmara dos deputados e agora
vai para o Senado. Enquanto a maioria dos países ocidentais começam a pensar em
regularizar as drogas, admitindo que a guerra travada por anos foi perdida,
nosso país — dominado por uma classe média religiosa e ignorante — dá um passo
atrás. A nova lei é puramente punitiva, não ataca o funcionamento do sistema
das drogas, nem evita a entrada de ninguém na criminalidade. Apenas aumenta
penas e prevê a internação compulsória para os casos mais graves.
O
significado disso é claro: o tráfico permanecerá como está, nada mudará nos
guetos das drogas, os assassinatos continuarão acontecendo — talvez aumentem —
, haverá mais pessoas presas e veremos a proliferação de clínicas terapêuticas
para internações involuntárias, que são, na verdade, a vingança da classe média
a uma situação que a incomoda. Ou seja, a guerra recrudescerá e fará florescer
duas indústrias que estão só esperando a adubação: a das clínicas terapêuticas
e a dos presídios privados.
Uma
legislação que iguala as penas do estuprador e do avião dá o que pensar. Um
país que não pensa em educação também. Enquanto nossos vizinhos uruguaios
avançam, raciocinando, por exemplo, que o álcool e o cigarro são drogas
tradicionalmente aceitas e não são muito melhores que a maconha, nós vamos na
direção do vigiar e punir. Sugiro que o deputado Osmar Terra considere a
possibilidade de aplicar a lobotomia nos internos compulsórios. Seria rápido e
eficaz. Vão ficar meio apáticos, coitados, mas a sociedade ficará satisfeita e
é garantido que não voltarão ao crime. No projeto atual que você deseja,
deputado, nada vai mudar. Penas maiores nunca impediram a continuidade dos
crimes tão sistematizados. Lobotomia, deputado, lobotomia! (por Milton Ribeiro)
*Via http://miltonribeiro.sul21.com.br - Edição final e grifos deste blog
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