O
que eles queriam, afinal?
Que
Dilma deixasse tudo como está e nomeasse um companheiro
revolucionário ou um burocrata anódino para comandar a economia no
seu segundo governo?
As
primeiras críticas feitas pelas oposições ao seu governo, à
direita e à esquerda, antes mesmo do anúncio oficial, mostram que a
presidente Dilma Rousseff estava certíssima ao montar sua nova
equipe econômica com Joaquim Levy, na Fazenda, Nelson Barbosa, no
Planejamento, e mantendo Alexandre Tombini no Banco Central.
Já
que é impossível agradar a todos ao mesmo tempo, ainda mais num
momento tão convulsionado da vida nacional, a presidente fez o que
devia: acima de rótulos ou de siglas, nomeou três profissionais de
competência reconhecida, com o objetivo central de restabelecer um
clima de confiança, tanto entre investidores, aqui dentro e lá
fora, como na sociedade dividida pela campanha eleitoral.
A
primeira entrevista coletiva do novo trio econômico, que ainda não
tem data para tomar posse, me passou uma sensação de tranquilidade,
de saber o que estão falando e o que pretendem fazer para que o país
volte a crescer sem atropelos, sem soluções mágicas, sem pacotes,
sem sustos.
Quem
pode ser contra o que disse Joaquim Levy, o chefe da nova equipe, que
trabalhou na gestão econômica de Fernando Henrique Cardoso e foi
Secretário do Tesouro no primeiro governo Lula, destacando-se tanto
nas funções públicas como na iniciativa privada? Veja suas
primeiras declarações:
"Temos
a convicção de que a redução das incertezas em relação às
ações do setor público sempre é ingrediente importante para a
tomada de risco pelas empresas, trabalhadores e famílias
brasileiras, especialmente as decisões de aumento de investimento
(...) Essa confiança é a mola para cada um de nós nos aprimorarmos
e o país crescer".
"A
gente vai ver no dia a dia como a autonomia no cargo ocorre. Mas
evidentemente quando uma equipe é escolhida é porque há confiança.
Não tenho indicação nenhuma em contrário. O equilíbrio da
economia é feito para garantir o avanço na área social que nós
alcançamos".
"O
Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a transparência de
suas ações e manifesta o fortalecimento da comunicação de seus
objetivos e prioridades e a comunicação de dados tempestivos,
abrangentes e detalhados que possam ser avaliados por toda a
sociedade, incluindo os agentes econômicos".
"Nossa
prioridade tem que ser o aumento da taxa de poupança. Aumentando sua
poupança, especificamente o primário, o governo contribuirá para
que os outros agentes de mercado e as famílias sigam o mesmo".
É
importante registrar que, antes de conceder esta entrevista, Joaquim
Levy e seus dois colegas de equipe almoçaram com a presidente Dilma
Rousseff e com ela acertaram os ponteiros. Quem já joga num
confronto entre os novos ministros e deles com a presidente da
República, como os "analistas independentes" do
apocalipse, que sempre aparecem nestas horas para dar fundamento
"científico" aos colunistas do pensamento único do
Instituto Millenium, podem ir tirando o cavalinho da chuva.
Quem
define política de governo e dá as ordens é quem senta na cadeira
de presidente no terceiro andar do Palácio do Planalto, não os
eventuais ocupantes de ministérios, aliás, por ela escolhidos. Se
Dilma nomeou estes três é porque confia neles e não tem esta
besteira de que daqui a dois anos, feito o ajuste fiscal com um "saco
de maldades", vai trocar a equipe e voltar a ser tudo como era
antes. Isso é papo de quem continua jogando no quanto pior melhor e
não aceita o resultado das urnas, achando que nada neste governo
pode dar certo, para ver se fatura algum na especulação financeira.
O
fato é que Dilma deixou sem discurso esta turma do contra e setores
do PT e da base aliada inconformados com a ousadia da presidente em
dar um cavalo de pau na economia para colocar o navio novamente no
rumo certo. Por falar nisso, o economista Joaquim Levy também é
engenheiro naval e sua primeira missão, certamente, será consertar
os rombos no casco.
Mais
do que das palavras e intenções, gostei da cara boa dos três,
gente comum capaz de sorrir mesmo em horas graves, falando coisas que
a gente entende, sem querer mascarar as dificuldades, mas também
sem nos tirar o ânimo para enfrenta-las. Por isso, fiquei mais
otimista ao olhar para 2015, na contramão dos profetas do fim do
mundo.
Kátia
Abreu, não
Se
Dilma Rousseff provou que estava certa na indicação de Levy,
Barbosa e Trombini, o mesmo não se pode dizer da anunciada nomeação
de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Tem coisa que pode
e tem coisa que não pode. Kátia Abreu não pode, pelo conjunto da
obra pregressa. Seria o mesmo, por exemplo, que nomear Paulo
Maluf para o Ministério das Cidades ou lhe entregar as chaves do
Banco do Brasil.
Parceira
de Ronaldo Caiado e seus coronéis na famigerada União Democrática
Ruralista (UDR) dos tempos da ditadura militar, que de democrática
nada tinha, Kátia Abreu sempre esteve lutando do lado exatamente
oposto aos que, no PT e fora dele, defendem como razão de viver a
reforma agrária, a proteção do meio ambiente, a agricultura
familiar, a demarcação das terras indígenas e dos quilombolas.
A
política também é feita de símbolos _ e Kátia Abreu, hoje
presidente da Confederação Nacional da Agricultura, simboliza o que
há de mais reacionário, intolerante e autoritário neste importante
setor da vida nacional. Não é possível que Dilma não encontre
outro representante do agronegócio para ocupar este ministério.
Alguém com o perfil de Roberto Rodrigues, por exemplo, um líder
realmente democrático e capaz em seu ofício, que fez campanha para
José Serra, em 2002, foi ministro da Agricultura de Lula, a partir
de 2003, e agora apoiou Aécio Neves. Não tem problema. Como
dizia o velho amigo José Alencar, vice de Lula, um sábio sem
diploma, o importante não é a cor do gato, mas que ele seja capaz
de caçar o rato.
Governo
tem que procurar escolher os mais competentes e mais
representativos em cada área, sem se preocupar com críticas de
adversários nem muxoxos de aliados. Pode até descobrir depois que
errou, mas não pode já começar errando. Ainda está em tempo de
Dilma pensar melhor neste assunto.
Vida
que segue.
...
*Por Ricardo Kotcsho - jornalista
-Via Balaio do Kotscho - http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho