Líder do MTST lidera ato contra a
direita reacionária, mas indica que o movimento vai cobrar pautas progressistas
da presidenta Dilma
À frente do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos (foto) tem se firmado como uma nova
liderança social no País. Nesta quinta-feira 13, Boulos foi responsável por uma
passeata que reuniu pelo menos 10 mil pessoas, segundo a PM, na região central
de São Paulo, durante três horas e sob forte chuva. A manifestação tinha o
objetivo de “enfrentar a direita atrasada” e, ao mesmo tempo, deixar um recado
para o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT): se a próxima gestão petista
não for voltada para reformas populares, como prometido nas urnas, o MTST não
vai sair das ruas.
“É preocupante que os primeiros
sinais da presidenta [Dilma] não tenham sido esses [de que o governo será
progressista]", afirma. "Esse ato também tem o sentido de dar o
recado que o povo vai lutar nas ruas pelo programa que foi eleito nas urnas”.
Ao mesmo tempo, diz o líder do MTST, o ato foi um recado à direita
conservadora. “[Há] um ranço de classe, de uma elite, de uma burguesia, que
nunca aprendeu a conviver com o povo, uma elite que sequer admitiu a abolição
da escravatura", afirma Bouolos. "Então, para eles, falar de Bolsa Família
é revolução socialista, falar de investimentos sociais é algo
inaceitável", diz. Segundo Boulos, o povo vai dar uma "resposta à
altura, defendendo as reformas populares”.
Leia a íntegra da entrevista,
feita antes da manifestação:
CartaCapital: Qual é o objetivo
deste ato?
Guilherme Boulos: O ato tem dois
propósitos. O primeiro é fazer o enfrentamento a essa direita atrasada que tem
ido às ruas nos últimos meses defender posições inaceitáveis para maioria do
povo brasileiro. Defender não só intervenção militar e impeachment, como também
semear ódio aos pobres, racismo, homofobia. Isso não pode ser admitido, essa
marcha vem para fazer contraponto e mostrar que os golpistas do Jardins tão
colocando mil pessoas nas ruas. Nós vamos pôr 15 mil [pessoas] só para começar.
Em segundo lugar, também tem o objetivo de pautar reformas populares no Brasil.
O programa que foi eleito nas urnas tem de ser realizado. Era um programa de
mudança popular. O programa que perdeu não pode imperar, é necessário que o
povo deixe claro a importância das reformas estruturais, reforma política,
reforma urbana, reforma agrária progressiva. Enfim, todos esses temas que estão
travados na agenda brasileira há décadas por conta do impeditivo que as elites
colocam no Congresso Nacional, no Judiciário, nas bancas. Nós queremos deixar
claro que o anseio de mudança do povo é este. Não é uma coisa abstrata. A
mudança são reformas estruturais no Brasil.
CC: Apesar de ter reunido pouca
gente, essa parcela da população que pede impeachment e intervenção militar
representa algum tipo de ameaça à liberdade da sociedade brasileira?
GB: Olha, só o fato de ter
milhares de pessoas que não têm vergonha de mostrar a cara dizendo que defendem
uma intervenção militar, um golpe militar, segregação do País, morte a
nordestinos, morte a pobre, morte a homossexual, esse fato em si já é
preocupante. Nós temos a clareza que esse sentimento é minoritário na sociedade
brasileira. Um sentimento que vem de uma elite lá da Casa Grande. Um sentimento
que é assimilado por uma classe média principalmente aqui no Sudeste, no Sul do
País. Nosso ato vem para mostrar que a maioria da população não compactua com
isso e condena esse tipo de percepção.
CC: Qual é a explicação para esse
ódio? De onde vem esse ranço de uma parte da população em relação a
nordestinos, classes sociais mais baixas e minorias?
GB: Esse é um ranço de classe, de
uma elite, de uma burguesia, que nunca aprendeu a conviver com o povo. Uma
elite que sequer admitiu a abolição da escravatura. Então, para eles, falar de
Bolsa Família é revolução socialista. Falar de investimentos sociais é algo
inaceitável. A elite brasileira é atrasadíssima e é ela que semeia esse ódio.
Então o povo vai dar a resposta, e vai dar a resposta à altura, vai dar a
resposta defendendo as reformas populares.
CC: O PSDB rejeitou a
manifestação a favor do impeachment e da intervenção militar. Você acha que o
Brasil pode um dia ver algum partido ou movimento nacional atrair essa
extrema-direita, semelhante ao Tea Party dos Estados Unidos?
GB: Isso naturalmente é sempre um
risco e é algo que os setores democráticos e populares da sociedade brasileira
têm de estar atentos. Agora o importante é ponderar também que o discurso do
PSDB é um discurso hipócrita. Rejeita isso num dia e, no outro dia, um
ex-presidente do partido, o José Aníbal, publica citações de Carlos Lacerda
incitando o golpe. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz declarações
de ódio minimizando o povo nordestino. O PSDB, na verdade, tem vergonha de
assumir suas posições que se assemelham à extrema direita
CC: Essa eleição presidencial
ficou caracterizada pela divisão do País. Você acha que agora a presidenta
Dilma vai fazer um mandato realmente progressista?
GB: Bom, primeiro, é o mínimo que
se esperaria: ela realizar o programa de mudanças para o qual ela foi eleita.
Agora é preocupante que os primeiros sinais da presidenta não tenham sido
esses. Passou a campanha inteira dizendo que Marina Silva e Aécio Neves iam
governar para os banqueiros e cogita o presidente do Bradesco [Luiz Carlos
Trabuco] para ministro da Fazenda. Isso é inaceitável também. Esse ato também
tem o sentido de dar o recado que o povo vai lutar nas ruas pelo programa que
foi eleito nas urnas.
-via http://www.cartacapital.com.br/
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