sábado, 12 de setembro de 2015

O governador Sartori e a vaca morta




Por Juremir Machado da Silva*

O governador José Ivo Sartori disse que de vaca morta não se tira leite. O Rio Grande do Sul é a vaca morta. Até o governador do Maranhão está tirando onda com nossa crise: não quer que o seu Estado se transforme num Rio Grande do Sul. A declaração de Sartori dá o que pensar. Vamos por partes no esquartejamento do animal. Das duas, uma: o candidato Sartori elegeu-se sem saber que a vaca tinha morrido e sem plano para ressuscitá-la, o que é muito grave, ou estava muito consciente da situação e tem um plano para encarecer o preço do leite que passa pela morte da vaca ou por fazer crer que ela bateu as botas.
Em outras palavras, Sartori sabia de menos ou sabe demais.
Eleger-se sem projeto para fazer a vaca voltar a dar leite ou sem saber da morte da vaca equivale a tratar a população como rebanho. Nesse sentido, o eleitor estaria encurralado. Votou numa suposta solução e agora fica sabendo que o problema era desconhecido do candidato. Se isso for verdade, o cidadão só tem algo a exclamar:
– A vaca foi pro brejo e morreu mesmo.
A outra possibilidade não é melhor. O candidato conhecia o estado de saúde da vaca e tem uma solução: declarar que ela está morta para forçar um tratamento de choque capaz de ressuscitá-la à custa da saúde coletiva. Se para fazer a vaca ficar novamente de quatro e dar leite for preciso deixar a população por algum tempo sem segurança, saúde e educação, o “doutor” de plantão topa a parada. Trata-se de um tratamento radical com a ingestão de doses cavalares, se o termo não for incompatível com a metáfora bovina, de leite contaminado. Digamos, uma espécie de vacina. O paciente reage ou se entrega de vez. O estranho do tratamento é que, por um lado, ele parece pretender atacar a causa, como deve ser, mas sem qualquer preocupação com os sintomas. Pela reforma estrutural, cujos efeitos são de longo prazo, não se preocupa com a dor de cabeça imediata.
Por outro lado, parece usar as dores de curto prazo como instrumento para forçar soluções de longo prazo. Acontece que o doente quer parar de sentir dor imediatamente e se curar. A sensação que dá é bizarra: Sartori quer leite sem vaca? Ou pretende tirar mais leite de uma vaca reencarnada? O homem comum tem uma única pergunta:
– Como fazer para a vaca voltar a dar leite?
Os leiteiros do governador sonham com diminuição do tamanho do Estado, privatizações, mudanças na previdência do funcionalismo público e aumento de impostos. Há quem diga que aumentar impostos é a melhor maneira de enterrar de vez a vaca atolada. O que vai rolar nesse campinho? Não adianta fechar a mangueira e jogar a chave na lagoa. Se a vaca está morta, dá para ouvir o berreiro da população sem leite. Espera-se do vaqueiro que ela saiba fazer o animal se levantar e dar leite. Até agora, o governo não mugiu nem tugiu com clareza. Fustiga a vaca, aperta-lhe as tetas ou puxa-a pelo rabo. No meio dessa confusão toda, com a vaca estatelada, o governo faz cara de paisagem. Será que está escondendo o leite para ganhar mingau?
*Jornalista - via http://www.correiodopovo.com.br/

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