Muito pouco se sabe sobre a
senadora Soraya Thronicke, que se elegeu no ano passado pelo Mato Grosso
do Sul. Ela é de Dourados, interior do Estado, advogada e teria MBA em
Direito Empresarial na Fundação Getúlio Vargas e, segundo uma publicação
simpática à candidatura dela no ano passado, com “passagem” por Harvard
— seja lá o que isso signifique. Desde 2014, participou das
manifestações de rua em seu Estado e se filiou ao PSL, com o discurso de
que não era política. Assim ganhou popularidade.
Já Sônia Guajajara nunca havia deixado a
terra indígena dos Arariboia, no Maranhão, como integrante da tribo
Guajajara/Tentehar, até completar 15 anos de idade.
Filha de pais analfabetos, deixou suas origens pela primeira vez quando recebeu ajuda da Funai para cursar o ensino médio em Minas Gerais.
Depois, voltou para o Maranhão, onde se
formou em letras e enfermagem e fez pós-graduação em educação especial.
Tornou-se uma líder da causa indígena.
Nesta semana, houve um confronto entre
elas, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do
Senado. O tema era saúde indígena, mas a senadora resolveu discorrer
sobre outros assuntos e se perdeu. Como mostra o vídeo, ela dizia frases
sem nexo e, naquilo que tinha começo, meio e fim, sem faltava
fundamento fático.
Disse, por exemplo, que acha “bacana” que
o governo a que serve, o de Bolsonaro, respeita “as minorias”. Também
se equivocou ao dizer que não havia Ministério da Mulher antes de
Bolsonaro — Dilma criou a pasta em 2015.
Tentou comparar a área destinada à agricultura com a ocupada por tribos indígenas, a partir de resultados em produção agrícola. “Essa
terra não é de vocês, a terra é da União”, disse. “Quem usa o índio?
Porque o índio é maltratado também. Mas quem faz isso com os índios? Os
próprios índios?”, divagou a senadora.
Em sua resposta, Sônia Guajajara deu uma
aula para a senadora. “A sua fala, senadora, retrata muito bem o
pensamento que tem esse setor ruralista que compõe a Câmara e o Senado,
que a qualquer custo quer flexibilizar a legislação ambiental pra
explorar os territórios.”
Disse que os territórios, por óbvio, não
são mesmo dos índios. Para eles, na verdade, a questão da propriedade é
irrelevante. O que conta é o usufruto. ”São da União, sim, mas é
usufruto dos povos indígenas”, lembrou. Sônia demonstrou que conhece a Constituição, mas a advogada talvez não domine o assunto.
Sônia prosseguiu:
“Pra nós, o território é sagrado,
precisamos dele para existir. Vocês olham para a terra indígena e chamam
de improdutiva. Nós chamamos de vida. O mundo inteiro está preocupado
com o aquecimento global, discutindo efeito das mudanças climáticas,
pensando formas de reduzir o gás carbônico para garantir que a gente
tenha equilíbrio do clima.”
No confronto entre duas mulheres com
concepção de mundo absolutamente opostas, Sônia demonstrou domínio sobre
os tema que abordou. Já a senadora Soraya escancarou a falta de
conhecimento que caracteriza essa turma que chegou ao poder vestindo
camisa amarela da Seleção Brasileira e ecoando a farsa da Lava Jato.
Foi o embate do Brasil do atraso
representado pela senadora contra o Brasil de visão de moderna
representado por Sônia Guajajara.
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