O 15-M e a não-cobertura de ZH
Por Alexandre Haubrich
Como um reflexo de uma ampla imagem, nasceu na Espanha o 15-M, movimento da juventude espanhola que ocupou as praças do país para reivindicar melhor condições sociais e maior participação política. Dezenas de milhares de pessoas passaram quase um mês acampadas pelo país, e essa etapa do movimento foi encerrada no último domingo. O 15-M pode ser tomado como mais um reflexo do clima de revolta que começa a se instalar pelo planeta, partindo das revoluções no mundo árabe e dos recorrentes protestos e greves na Grécia – que ocorrem desde o ano passado – e começam a se espalhar pela Europa. 40% dos jovens espanhóis estão desempregados. Os direitos sociais são espremidos. É a crise.
Enquanto o mundo entra em convulsão, a população gaúcha que costuma se informar apenas pelo grupo que detém o monopólio da comunicação no Estado não fica sabendo de nada. Nesse mês quase inteiro de acampamento dos jovens espanhóis, o que o jornal Zero Hora publicou sobre o assunto foi isso o que você vê na imagem ao lado: uma matéria de página inteira (29 de maio), uma com menos de dois terço de página (21 de maio), outra de meia página (28 de maio), e duas notas (23 e 26 de maio).
Ou seja, Zero Hora não dedicou sequer uma nota durante as duas primeiras semanas de junho a um movimento que ela mesma, nas matérias e notas, mostrou ser importante (“Espanhóis inspiram os franceses e os gregos” foi, por exemplo, o título da nota do dia 26 de maio. Nem o fim dos acampamentos mereceu qualquer espaço no jornal, assim como seu início demorara seis dias para ser contemplado em menos de dois terços da página 32 no dia 21 de maio. Considere-se que o texto principal dessa matéria teve, na verdade, apenas três parágrafos. A outra parte foi dedicada a uma entrevista com um “músico gaúcho que vive em Barcelona”.
A matéria seguinte, uma semana depois (28/5), ocupando um terço da página 26, teve apenas seis parágrafos. Destes, três foram ocupados por declarações do mesmo músico entrevistado uma semana antes. O restante do terço de página é ocupado por nova entrevista com a mesma fonte. Fonte que, aliás, é entrevistada também na reportagem do dia 29, a que ocupa toda a página 22, e também traz declarações de um francês, um belga e um alemão. Não há, em toda a cobertura que Zero Hora fez do 15M, sequer uma fonte espanhola, muito menos o envio de um corresponde para a Espanha.
* Para entender o que é o 15-M e acompanhar os desdobramentos dos protestos na Espanha e no restante da Europa, uma boa dica é ler o Diário Liberdade.
**Jornalista, Editor do blog e jornal 'Jornalismo B'
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