Porto Alegre - Sul21 - Com sua história e criação ligada ao período
do regime militar brasileiro, grupo de teatro porto-alegrense Ói Nóis Aqui
Traveiz prepara o retorno aos palcos de Viúvas, a comovente peça, em que os
protagonistas tentam encontrar os desaparecidos políticos da ditadura. Criado
por um grupo de atores, ativistas políticos, estudantes e artistas plásticos
para dar uma nova cara aos manifestos contra o regime, o Ói Nóis surge como um
rompimento da estética tradicional para uma mais crítica e humana da arte.
Viúvas foi apresentado pela primeira vez em
2011 na Ilha das Pedras, no Guaíba, onde estão as ruínas do prédio para onde
eram levados os presos políticos para serem torturados. Adaptado pela trupe de
uma história do escritor chileno Ariel Dorfman e do norte-americano Tony
Kushner, a peça lembra a história do regime militar em Porto Alegre, em que os
atores ficam chamando os nomes dos presos políticos brasileiros desaparecidos
durante o período.
Não é por coincidência que a encenação abre o
ano de apresentações do Ói Nóis. Em 2014, o país relembra os 50 anos do golpe,
uma história que foi também motivo para a criação do grupo. Paulo Flores,
criador do grupo, é quem lembra dessa história, que se inicia com o retorno de
manifestações de rua em 1978 – um momento em que jovens artistas e manifestantes
se uniram para usar a arte como uma forma de contestação política e de
discussão da ditadura. Segundo Flores, o grupo foi criado para pensar e
criticar esse momento político e o tipo de arte que estava sendo feita no país:
“As peças esquerdistas que circulavam em Porto Alegre, como o chamado teatro de
resistência, incomodava os artistas, em função de usarem um aparato burguês do
sistema tanto em sua configuração quanto em sua estética”, explica.
Estética crítica
Ói Nóis nasce sendo pensado como um
contraponto ao teatro tradicional romano, centralizado no palco e montado em
torno de uma plateia distante dos atores. Era o rompimento da estética
formativa da forma de expressão vigente na época. O ator Paulo Flores é um dos
dez fundadores do grupo. Ele conta que, desde sua entrada na escola de teatro
em 1974, buscava rever o conceito das artes cênicas, que na época vivia como
uma “proposta amordaçada”: “A própria
falta de espaço para o teatro dava já a ideia de que fazer teatro era uma
atividade política, uma forma de veicular ideias. O grupo era também uma
crítica ao teatro de esquerda oficial, que se utilizava de uma linguagem
estética muito próxima da linguagem naturalista burguesa”, explica. Para ele,
essa situação dava ao grupo um caráter singular, de renovação da linguagem
teatral. (...)
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