domingo, 10 de abril de 2016

E o PMDB gaúcho?



Por Raul Pont*
A reunião da direção nacional do PMDB que deliberou sair do governo, conforme a imprensa, durou três minutos. Isso não é sério. Isso não é um partido. Após participar do governo Lula e indicar duas vezes o vice-presidente na chapa com Dilma, fazer campanha na maioria dos Estados, comandar vários ministérios e inúmeros cargos em empresas públicas – em 3 minutos – sem nenhuma discussão, decidir sair do governo é uma farsa. Pior. Uma desmoralização.
No dia seguinte, a ministra Kátia Abreu afirmava que ela e os ministros não sairiam, assim como centenas de cargos de confiança que o partido indicou em todo o país.
Não é novidade que o PMDB é uma federação de interesses pessoais em torno de mandatos e com algumas afinidades locais e regionais.
O esgotado capital político da resistência democrática não existe mais. O programa nacional desenvolvimentista herdado da velha frente do MDB desapareceu e aqui sobrevive, oportunisticamente, nos momentos eleitorais em torno de generalidades vazias do tipo, “união pelo Rio Grande”, “meu partido é o Rio Grande”.
O governo Sartori é a expressão mais acabada do vazio, da mediocridade, da incapacidade de apresentar medidas que enfrentem a realidade concreta do Estado, à luz da herança programática que reivindicavam.
O setor golpista-corrupto capitaneado por Temer, Cunha, Jucá, Padilha que, em três minutos, mudou o rumo do Partido sabe o que quer.
A “Ponte para o Futuro”, proposta por Temer e Cunha, é um programa que o vice-presidente acena para buscar apoio ao golpe antidemocrático para derrubar a presidenta Dilma.
O projeto é a rendição ao programa do PSDB/DEM/PPS apresentado e defendido por Aécio Neves em 2014. Privatização dos ativos públicos que restam, entregar a Petrobras e o pré-sal às multinacionais petrolíferas. Acabar com os compromissos constitucionais para a Educação e a Saúde. Terminar com a política de valorização anual do salário mínimo, desindexar a Previdência Pública e reduzir ou acabar com os programas sociais que transformaram, positivamente, o Brasil na última década.
O impedimento à presidenta Dilma por improbidade ou crime de responsabilidade é uma farsa construída pela cumplicidade do monopólio midiático da Globo e suas associadas que estimulam e organizam manifestações identificadas pelo preconceito e a intolerância, mas vazias de alternativas para a crise.
Enquanto a presidenta Dilma não é acusada, investigada, ou indiciada em nenhum processo, o lugar tenente do golpe, deputado Cunha (PMDB) é réu no STF com”provas robustas” na Operação Lava Jato.
A ruptura do PMDB e o processo de Impedimento não passam de cortina de fumaça, de um biombo que tenta esconder o verdadeiro e real motivo que os move: Mudar o governo para mudar sua política. Ora, isso na democracia faz-se nos momentos eleitorais!
Mas, o objetivo deste artigo é o PMDB gaúcho. Afinal, onde estava o PMDB “autêntico”, aquele que reivindicava a tradição varguista do nacional desenvolvimentismo. Que fim levou?
O ex-governador Rigotto dá tímidos sinais de que não concorda com o Impedimento de Dilma. Seu secretário de Planejamento, Brum Torres, afirma no Jornal do Comércio que não concorda, que não é oportuno o impeachment nem resolverá a crise. Nos corredores da Assembleia, essa é a opinião também do presidente regional, Ibsen Pinheiro. No dia em que Temer e Cunha apresentaram a “Ponte para o Futuro”, na Assembleia Legislativa o deputado Ibsen Pinheiro disse-me que a proposta não o representava. O vice-prefeito Mello, de Porto Alegre, também declarou-se contra o impedimento.
Mas, no dia 13 de março, na Redenção, nos dias 18 e 31 de março na Esquina Democrática, não havia nenhum orador, nenhuma bandeira, nenhum vereador ou deputado, nenhum setor do PMDB nos atos promovidos pela Frente Brasil Popular abertos a todos os movimentos, sindicatos e partidos defensores da democracia e do respeito aos resultados eleitorais.
A disciplina partidária, também, não é o caso, pois os ministros e os cargos de confiança não saíram nem aqui no RS. Em vários Estados, dirigentes e deputados do PMDB estão com Dilma e senadores, como Requião do Paraná, estão na linha de frente em defesa da Democracia.
Aqui o partido aderiu à estratégia de Eduardo Cunha e do golpismo? Ou o PMDB gaúcho rendeu-se de “mala e cuia” à Ponte para o Futuro, programa de Temer e do PSDB-DEM-PPS para o país?
A conjuntura gravíssima que vivemos exite protagonismo, ação concreta diante dos acontecimentos.
A história cobrará seu preço diante da omissão e da cumplicidade. Qualquer que seja o desfecho nos próximos dias, o novo momento vai impor uma nova relação entre os partidos e as políticas de aliança. Os verdadeiros democratas certamente estarão na defesa da democracia conquistada e, principalmente, das conquistas e dos direitos até aqui alcançados pelos trabalhadores e o povo brasileiro.
.oOo.
*Raul Pont é professor e ex-deputado. - Via Sul21

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