Por Paulo Muzell*
Ele vem lá do MDB e começou sua carreira política em 1976, eleito vereador em Caxias Do Sul. Seguiram-se cinco mandatos consecutivos, dois de deputado estadual e três de deputado federal e governador do Estado no quadriênio 2003/2006, sucedendo Olívio Dutra. Hoje é presidente do Instituto Reformar, de estudos políticos e tributários e, também, colunista semanal aqui do Sul21. O seu MDB, como se sabe, foi composto por quadros políticos escolhidos a dedo pelos militares dentre aqueles nomes que não constituíam ameaça real à ditadura. Uma oposição “conveniente” que tinha a função de dar uma aparência de legitimidade ao regime de exceção, integrantes passivos de um simulacro de democracia parlamentar. Notórios membros da oligarquia gaúcha e nacional além de reacionários de carteirinha integraram ou integram seus quadros: Paulo Brossard (falecido), Nelson Jobim, Alceu Moreira, Darcísio Perondi, Sérgio Cabral Filho, Anthony Garotinho (de 2003 a 2009), Delfim Neto (ex-integrante da Arena, PDS e PP), José Sarney e o famigerado Paulo Skaf, apenas para citar alguns.
Em 1980 o MDB mudou de nome, ganhou um P de partido como letra inicial da sigla. Nada se alterou: o movimento, agora partido, manteve a velha prática de querer aparentar o que não é. A sua principal liderança do Rio Grande do Sul, Pedro Simon, é um típico exemplo. Posou sempre como progressista e liberal: na prática, todavia, sempre foi um político conservador, inimigo nº 1 do PT. Beneficiado pelo apoio do principal partido político do Estado, a RBS, construiu uma bem sucedida carreira política que começa lá em 1963, como deputado estadual, vice-líder da bancada do PTB. Também favorecido pela cassação do líder do partido, deputado Wilmar Taborda, assumiu a liderança da bancada do PTB em 1964. Na ditadura, sua carreira “decolou”: foi deputado estadual por quatro legislaturas e senador durante vinte e sete anos, governador do Estado de março de 1987 a abril de 1990.
Simon é a cara do PMDB, membro de um grupamento de políticos fisiológicos, sem qualquer identidade ideológica ou linha programática, perfeitamente afinados com as classes patronais – FIERGS, Sinduscon, Federasul, dentre outras -, cujas entidades funcionam como suas “casas de acolhimento” nos momentos de dificuldades. Um partido que defende as privatizações, o estado mínimo, a redução de impostos e dos gastos sociais, a entrega do pré-sal, os interesses da banca financeira. Enfim um típico “partido do patrão e do banqueiro”.
O nosso “bom moço” não tem a agressividade nem os maus modos de um Alceu Moreira, de um Darcísio Perondi ou de um Eliseu Padilha. E tem, ao menos, um mínimo de pudor. Defende o afastamento de Dilma, tergiversa quando diz que o impeachment não é golpe, mas manifesta um pequeno constrangimento porque o processo é conduzido pelos Cunha e pelos Temer da vida. Queixa-se amargamente da corrupção parecendo esquecer que o TSE apontou o seu PMDB e o DEM como os dois partidos que maior número de cassações tiveram por corrupção, 40% do total, 20% para cada. Afirma que Dilma deve ser afastada por que não cumpriu o programa de governo, esquecendo que o atual governador do Estado, do seu PMDB iniciou sua gestão como uma “boia à deriva”. Depois de um péssimo início que já perdurava há mais de um ano, em que apenas lamentou-se da crise sem apresentar soluções e propostas, Sartori teve um estalo e, por fim anunciou uma “grande iniciativa”: a instituição do dia estadual da galinha e do ovo. Na segunda sexta feira de cada mês de agosto teremos no estado a comemoração de uma grande efeméride inaugurada com explosão de omeletes, fios de ovo, quindins, ovos duros e moles, frangos a passarinho, ao molho pardo, empanados, peitos, patas, asinhas e sobrecoxas. Uma loucura gastronômica que, certamente, irá colocar o Rio Grande lugar de destaque no mapa da avicultura mundial. Um lampejo de gênio, indício claro que, embora tardiamente, começa brotar a visão de estadista do nosso governador.
O bom moço defende a urgência de fazer a reforma política parecendo esquecer que sua bancada na Câmara sempre se opôs a ela. Lamenta que os jovens não sejam mais atraídos para o exercício da política, do desencanto que existe. Finge desconhecer que o seu PMDB, pelas suas práticas é um dos grandes responsáveis pela desmoralização da política brasileira. E, por fim faz um apelo para que seus companheiros de partidos abandonem seus cargos conquistados no toma lá dá cá. Faz isto tardiamente: o PMDB fez parte de todos os governos federais há mais de vinte anos. Ocupou ministérios e exerceu centenas de cargos da União. E agora, no momento de maior dificuldade do governo que até ontem integrou, abandona rapidamente o navio na undécima hora. Previsível e massivo movimento de uma ratazana em desespero. A prova disso é que domingo passado 59 dos 66 votos do PMDB foram SIM, pelo impeachment.
O singular personagem que inspirou este comentário é extremamente ingênuo e/ou distraído ou cultiva autoengano no limite do autismo. Depois de quatro décadas de vida política não percebeu ou finge não perceber que está no partido errado. Não há, nem nunca houve, espaço algum para o bom mocismo no PMDB que não é nem nunca foi um partido político. É, na verdade, um agrupamento de aves de rapina.
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*Paulo Muzell é economista. - Fonte: http://www.sul21.com.br/
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