sexta-feira, 25 de maio de 2012

“A trajetória de um libertário”



Porto Alegre/RS - Com o apoio da Fundação Perseu Abramo, o PT/RS encerrou as homenagens aos 100 anos de Apolônio de Carvalho, que entre tantas lutas, é um dos fundadores o Partido dos Trabalhadores, na noite de quinta-feira (25/5). A homenagem teve seção de autógrafo de Dona Renée de Carvalho (foto acima), autora do Livro “Uma vida de lutas” e exibição do documentário “Vale a pena Sonhar”, da jornalista Stela Grisotti, que conta a trajetória da vida militante de Apolônio.

O Teatro Dante Barone foi palco de celebração à figura política que dedicou seus 93 anos de vida na luta pela liberdade. O documentário mostra a trajetória deste “Herói de três Nações”, título que ostenta Apolônio de Carvalho, por ter lutado contra Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola, nas Forças Francesas da resistência contra a ocupação alemã, na 2ª Guerra e, contra a ditadura militar no Brasil.

As homenagens aconteceram desde quarta-feira (24), no Grande Expediente da Assembleia Legislativa promovido pelo deputado Raul Pont e com a companheira de Apolônio, Dona Renée France de Carvalho recebendo a Medalha Negrinho do Pastoreio do governador Tarso Genro.

A exposição “A trajetória de um libertário” de fotos, documentos e texto da vida de Apolônio de Carvalho, no saguão da Assembleia toda semana de 18 a 24 de maio, também marcou as homenagens.

UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA

Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida política brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da Escola Militar de Realengo, a engajar-se na luta pelos ideais socialistas e contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional Libertadora) à participação na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o fascismo; da luta clandestina contra a ditadura militar no Brasil, como membro do PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.

Apolônio de Carvalho era filho de um soldado sergipano e de mãe gaúcha. Teve contato com a política bem jovem, na época em que cursou a escola militar, conforme disse à revista Teoria e Debate em 1989: “Em fins de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a sociedade brasileira”, contou ele.

Dois anos depois, ajudou a criar a ALN (Aliança Libertadora Nacional): “um colega do Rio Grande do Sul, um capitão do Exército, me falou da ANL (…) Então, eu participei da organização dessa frente popular”.  Preso em 1936 pelo governo de Getúlio Vargas, tem sua patente militar destituída e é expulso do Exército.

Com a saída da prisão em junho de 1937, Apolônio ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate, o ideário do PCB “era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais”. Recebe a orientação de embarcar para a Espanha onde, juntamente com outros vinte brasileiros, combaterá nas Brigadas Internacionais ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.


Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de 1939 e parte para a França, onde permanece em campos de refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs, dirigindo-se a Marselha. É nesta cidade portuária que ele ingressa na Resistência Francesa, em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha dos partisans para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de 1944, Apolônio e Renée se instalam em Nîmes, onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para Toulouse. Em agosto, Apolônio comanda a liberação de Carmaux, Albi e Toulouse. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis. Por sua coragem, é considerado um herói na França, onde foi condecorado com a Legião de Honra.

O fim da guerra encontra a família em Paris, de onde embarca no ano seguinte para o Rio de Janeiro. Em 1947 nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando ele parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em 1955, Renée o encontra em Moscou e, em 1957, a família está de volta ao Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o golpe militar de 1964.

Na década de 1960, participou da oposição popular ao regime militar. Logo após o golpe de 31 de março de 1964, Apolônio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família. Em conseqüência das divergências com o Comitê Central do Partido Comunista (do qual era membro) Apolônio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixam o PCB, em 1967. Em abril do ano seguinte, juntamente com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes, Apolônio fundará o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).

Em janeiro de 1970, no bojo de quedas que atingiram dezenas de militantes do PCBR, Apolônio e Mário Alves são presos no Rio e Jacob Gorender em São Paulo. Todos são violentamente torturados e Mário Alves, assassinado. Em fevereiro, os filhos Raul e René-Louis também são presos.

Em junho, Apolônio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a Argel, trocados pelo embaixador alemão, seqüestrado por um comando revolucionário no Rio de Janeiro. René-Louis será libertado em 1971, trocado (juntamente com 69 outros presos políticos) pelo embaixador da Suíça. Raul sai da prisão no ano seguinte. Depois disso que Renée deixa o Brasil e a família se reúne em Paris.

Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta ao Brasil será em outubro de 1979, depois da Anistia de agosto daquele ano.

No fim dos anos 70, aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. “Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT”, disse ele. “Em fevereiro de 1980, quando se lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a conquista da legalidade”.

Permanece na direção do novo partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.
Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolônio prossegue um militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública de suas posições de socialista convicto. 

Um socialista que soube combater criticamente as distorções do socialismo real mas que, nem por isto (ou por isto mesmo), a queda do muro de Berlim ou o diversionismo das teorias propagadas pelo capital conseguiram dobrar.

Entusiasta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, frente ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele.

*Fonte: sítio do PT/RS  -  portal.ptrs.org.br    (Edição final e grifos deste blog)

12,42 h

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