Porto Alegre/RS - Com o apoio da Fundação Perseu Abramo, o PT/RS encerrou as homenagens
aos 100 anos de Apolônio de Carvalho, que entre tantas lutas, é um dos
fundadores o Partido dos Trabalhadores, na noite de quinta-feira (25/5).
A homenagem teve seção de autógrafo de Dona Renée de Carvalho (foto acima), autora do
Livro “Uma vida de lutas” e exibição do documentário “Vale a pena
Sonhar”, da jornalista Stela Grisotti, que conta a trajetória da vida
militante de Apolônio.
O Teatro Dante Barone foi palco de celebração à figura política que
dedicou seus 93 anos de vida na luta pela liberdade. O documentário
mostra a trajetória deste “Herói de três Nações”, título que ostenta
Apolônio de Carvalho, por ter lutado contra Francisco Franco na Guerra
Civil Espanhola, nas Forças Francesas da resistência contra a ocupação
alemã, na 2ª Guerra e, contra a ditadura militar no Brasil.
As homenagens aconteceram desde quarta-feira (24), no Grande
Expediente da Assembleia Legislativa promovido pelo deputado Raul Pont e
com a companheira de Apolônio, Dona Renée France de Carvalho recebendo a
Medalha Negrinho do Pastoreio do governador Tarso Genro.
A exposição “A trajetória de um libertário” de fotos, documentos e
texto da vida de Apolônio de Carvalho, no saguão da Assembleia toda
semana de 18 a 24 de maio, também marcou as homenagens.
UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA
Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida política
brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão
libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da Escola
Militar de Realengo, a engajar-se na luta pelos ideais socialistas e
contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em
todos os episódios vividos: da militância no Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional Libertadora) à participação
na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o fascismo;
da luta clandestina contra a ditadura militar no Brasil, como membro do
PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua
morte.
Apolônio de Carvalho era filho de um soldado sergipano e de mãe
gaúcha. Teve contato com a política bem jovem, na época em que cursou a
escola militar, conforme disse à revista Teoria e Debate em 1989: “Em
fins de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a
sociedade brasileira”, contou ele.
Dois anos depois, ajudou a criar a ALN (Aliança Libertadora Nacional): “um colega do Rio Grande do
Sul, um capitão do Exército, me falou da ANL (…) Então, eu participei da
organização dessa frente popular”. Preso em 1936 pelo governo de Getúlio
Vargas, tem sua patente militar destituída e é expulso do Exército.
Com a saída da prisão em junho de 1937, Apolônio ingressa no Partido
Comunista Brasileiro. Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate, o
ideário do PCB “era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios
estrangeiros, pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas
liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais”. Recebe a
orientação de embarcar para a Espanha onde, juntamente com outros vinte
brasileiros, combaterá nas Brigadas Internacionais ao lado das forças
Republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco
Franco.
Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em
fevereiro de 1939 e parte para a França, onde permanece em campos de
refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs,
dirigindo-se a Marselha. É nesta cidade portuária que ele ingressa na
Resistência Francesa, em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha
dos partisans para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que
conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se
tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de 1944,
Apolônio e Renée se instalam em Nîmes, onde em fevereiro, se organiza o
ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência.
Em maio, mudam-se para Toulouse. Em agosto, Apolônio comanda a
liberação de Carmaux, Albi e Toulouse. Em novembro, nasce o primeiro
filho do casal, René-Louis. Por sua coragem, é considerado um herói na
França, onde foi condecorado com a Legião de Honra.
O fim da guerra encontra a família em Paris, de onde embarca no ano
seguinte para o Rio de Janeiro. Em 1947 nasce o segundo filho do casal,
Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na
clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando ele
parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em
1955, Renée o encontra em Moscou e, em 1957, a família está de volta ao
Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o golpe
militar de 1964.
Na década de 1960, participou da oposição popular ao regime militar.
Logo após o golpe de 31 de março de 1964, Apolônio passa a viver em
profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família.
Em conseqüência das divergências com o Comitê Central do Partido
Comunista (do qual era membro) Apolônio e a Corrente Revolucionária do
Estado do Rio deixam o PCB, em 1967. Em abril do ano seguinte,
juntamente com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes,
Apolônio fundará o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).
Em janeiro de 1970, no bojo de quedas que atingiram dezenas de
militantes do PCBR, Apolônio e Mário Alves são presos no Rio e Jacob
Gorender em São Paulo. Todos são violentamente torturados e Mário Alves,
assassinado. Em fevereiro, os filhos Raul e René-Louis também são
presos.
Em junho, Apolônio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a
Argel, trocados pelo embaixador alemão, seqüestrado por um comando
revolucionário no Rio de Janeiro. René-Louis será libertado em 1971,
trocado (juntamente com 69 outros presos políticos) pelo embaixador da
Suíça. Raul sai da prisão no ano seguinte. Depois disso que Renée deixa o
Brasil e a família se reúne em Paris.
Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém
contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta
ao Brasil será em outubro de 1979, depois da Anistia de agosto daquele
ano.
No fim dos anos 70, aproximou-se dos grupos que então trabalhavam
para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. “Nós tivemos uma
imensa simpatia pelo PT”, disse ele. “Em fevereiro de 1980, quando se
lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em
todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a
conquista da legalidade”.
Permanece na direção do novo partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.
Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolônio prossegue um
militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública
de suas posições de socialista convicto.
Um socialista que soube
combater criticamente as distorções do socialismo real mas que, nem por
isto (ou por isto mesmo), a queda do muro de Berlim ou o diversionismo
das teorias propagadas pelo capital conseguiram dobrar.
Entusiasta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao
qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, frente
ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo
mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance
de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar
por ele.
*Fonte: sítio do PT/RS - portal.ptrs.org.br (Edição final e grifos deste blog)
12,42 h
Nenhum comentário:
Postar um comentário