segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O golpe e o nível de confiança de sempre




Por Jorge Furtado, cineasta*

Voto na Dilma pelos motivos de sempre, os mesmos que me levaram a votar no Lula: por quem governe mais para os pobres e menos para os ricos. Aécio, a direita e sua turma, como provaram no governo que fizeram e pelos planos e aliados que tem, são o contrário disso.

Como o previsto, e repetindo o roteiro das campanhas eleitorais de 2002, 2006 e 2010, denúncias gravíssimas de última hora, surgidas de fontes “absolutamente inquestionáveis” (ladrões confessos de dinheiro público), ocupam todo o espaço que deveria ser usado para debater planos e comparar desempenhos de governo. A palavra de corruptos e corruptores, que tentam tirar o deles da reta depois de terem sido apanhados pela Polícia Federal no governo que agora denunciam, ocupa todas as capas.

O nível de confiança das informações que chegam às manchetes é ainda mais baixo que o das pesquisas eleitorais: tudo sabemos segundo vazamento a conta gotas de declarações de bandidos, declarações supostamente guardadas por segredo de justiça porque ainda não foram comprovadas e sua divulgação prejudica a investigação e contribui para a futura anulação de provas e para a impunidade dos culpados, como sempre.

A politização, com fins evidentemente eleitorais, das investigações policiais e do judiciário, justifica que Dilma Rousseff e Tarso Genro falem de uma tentativa de golpe nas vésperas da eleição. O roteiro do show dos vazamentos, a articulação entre polícia e ladrões em sintonia com a imprensa, tudo isso sincronizado com o calendário eleitoral, é preocupante. Um juiz nega à sociedade -  e à Presidência da República, ao Congresso Nacional, aos acusados – a possibilidade de conhecer o conteúdo integral do depoimento dos bandidos que a Polícia Federal capturou e que ele está julgando. Enquanto isso, trechos selecionados dos depoimentos destes bandidos são cirurgicamente divulgados, seguindo o calendário eleitoral, e as supostas informações que supostamente contem, sem qualquer prova apresentada, são tratadas, por jornalistas fiéis aos interesses dos seus patrões,  como escrituras sagradas: só tiram o nome das empreiteiras e do PSB e mandam publicar, na capa. (1)

Há 50 anos a direita, unanimemente apoiada pela imprensa, batia panela nas ruas contra o esquerdismo, a corrupção e os desmandos de um governo popular, um governo que prometia governar para os mais pobres, garantir direitos dos trabalhadores e se contrapor aos grandes interesses americanos no país. Muita gente boa, talvez na melhor das intenções, apoiou o golpe que deu fim ao governo de João Goulart, só se arrependeu quando era tarde.

Hoje, a mesma direita, unanimemente apoiada pela imprensa, bate panela no facebook contra o esquerdismo, a corrupção e os descalabros de um governo popular, um governo que promete continuar governando para os mais pobres, garantindo direitos dos trabalhadores e se contrapondo aos grandes interesses americanos no país.

Felizmente a democracia tirou do cenário político os tanques e os uniformes, o poder deve ser conquistado no voto, legitimamente. E sei que muita gente boa, na melhor das intenções, quer o fim do governo do PT, e eles tem lá os seus motivos. Torço para que, até a hora da eleição, pensem bem naquilo que esperam colocar no lugar daquilo que querem tirar. E que não se arrependam do seu voto.


Via http://www.casacinepoa.com.br/

1) “Há uma sincronia entre as investigações das irregularidades na Petrobrás e a eleição presidencial em curso, que lembra a sintonia entre o julgamento dos réus do mensalão pelo STF e as eleições municipais de 2012.  O acordo de delação premiada com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef foi firmado antes do primeiro turno mas os depoimentos foram programados para acontecerem logo depois.   O Juiz e os procuradores que o conduzem sabem o que estão fazendo.
http://terezacruvinel.com/2014/10/10/utilidade-eleitoral-da-delacao-prem...

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