Porto Alegre/RS - Sul21 - Milhares de pessoas tomaram a Esquina Democrática e seus arredores no fim da tarde desta quinta-feira (18) para defender a democracia, o mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT) e denunciar a tentativa de golpe em curso no país. O ato de Porto Alegre chegou a unir 50 mil pessoas, as quais representavam diversos movimentos sociais, além de sindicatos, estudantes, trabalhadores, representantes de partidos e população em geral. Após a mobilização, eles caminharam pelo Centro, seguindo pela Avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares.
Embora mobilizado também por militantes do PT e do PCdoB, o ato não foi focado na defesa especificamente de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também do PT, mas teve como mote a necessidade de se manter a legalidade e evitar o impeachment. Aos gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta” e “não passarão, não vão rasgar a nossa Constituição”, os manifestantes ainda criticaram o Judiciário e a imprensa, especialmente aRede Globo e sua afiliada RBS. Uma das maiores faixas do ato continha os dizeres “mídia golpista”, com o símbolo da Rede Globo no lugar da letra “o”.
Dentre as bandeiras, além dos dois partidos, estavam ainda do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), do movimento de mulheres, de centrais sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central de Trabalhadores do Brasil (CTB) e o Movimento Sem Terra (MST), que vieram após 13ª abertura oficial da colheita do arroz agroecológico, que aconteceu nesta manhã no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão.
O ato, grande demais para a esquina da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros, chegou às ruas Andrade Neves e Sete de Setembro. Havia ainda cartazes com dizeres como “o golpe veste toga”, em alusão ao poder Judiciário, “Lula vale à luta”, “Dilma fica”, além de pessoas com camisetas em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).
A deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) mencionou essa união de causas em prol da democracia, questionando: “tem muita mulher que combate o machismo aqui? Tem muita gente que combate o racismo, a homofobia?”, perguntas que foram recebidas com gritos de saudação pelos participantes. “Está lindo ver todas as cores que formam nosso país. Aqui temos homens e mulheres que lutam pelo nosso país, assim como lutaram durante a ditadura. Porque pode sim fazer oposição, o que não pode é tentar chegar no poder na base do tapetão. Por isso vai ter bandeira de partido sim, vai ter bandeira de movimento sim, porque nós somos uma democracia”, afirmou.
Dentre as frases proferidas, havia algumas como “o golpe só serve para a burguesia”, “sou brasileiro, é pra valer, não vou deixar esse golpe acontecer” e “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo“. A empresa de mídia foi criticada também pelo presidente da CUT, Claudir Nespolo: “A Globo tem que saber respeitar o resultado da eleição, o resultado democrático. E essa esquina é da democracia, por isso estamos aqui. Eles têm que ficar no Parcão mesmo, que é o lugar da elite”, criticou, em referência aos protestos pró-impeachment, que aconteceram no Parque Moinhos de Vento, bairro nobre de Porto Alegre. Para o presidente da CTB, Guiomar Vidor, os que querem o golpe são os mesmos que querem “acabar com o Bolsa Família, com os programas sociais, com os direitos dos trabalhadores”.
Para o sociólogo paulista Emir Sader, que participou do ato na capital gaúcha, “eles perderam e por isso estão apavorados. Estamos começando a mudar a história do Brasil”. O ex-governador Tarso Genro (PT) também criticou os que são a favor do impeachment, lembrando das agressões que ocorreram nos últimos dias a pessoas que usavam camisetas vermelhas ou que apoiaram a presidenta. “Vamos dar a eles uma aula de democracia, vamos mostrar que a gente resolve as controvérsias no debate político, nas eleições, na mobilização, não na agressão. Estamos defendendo o Estado democrático de direito, a presunção da inocência. Não se conquista a democracia com a proteção do [Eduardo] Cunha, do Aécio [Neves], dos jornalistas, dos corruptos e dos outros que estão atrás desse processo de impeachment”, apontou, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados e ao senador do PSDB, ambos investigados por corrupção.
Destacavam-se no ato também inúmeros manifestantes que não são militantes partidários, mas decidiram ir apoiar a democracia, como é o caso da estudante de Design de Produto da UFRGS Gabrielle Tosi. “Eu estava em dúvida se deveria vir, porque não queria necessariamente defender o PT em si. Mas decidi vir porque sou contra o golpe”, afirmou. O casal Juliana e Vinícius, pedagoga e técnico de operações, também foram ao ato para defender a democracia. Ela conta que votou em Dilma e acredita que o impeachment não seja a melhor saída. “Há um juiz que está tomado por vaidade. E a gente percebe que o Congresso não nos representa, a Câmara não está do nosso lado. O Executivo tenta barrar determinados projetos, mas enfrenta resistência”, avaliou ele.
Ao som de “Para não dizer que não falei de flores”, por volta das 19h as falas foram encerradas e os manifestantes começaram a se organizar para sair em caminhada. “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, cantavam em uníssono, em contraste à euforia e agito de minutos antes. A música de Geraldo Vandré, hino da resistência censurada na ditadura, foi seguida por gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta”, os quais continuaram durante toda a caminhada pela Borges de Medeiros.
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