Jair Krischkeé uma das 13 pessoas ameaças de morte pelo Comando, caso processos contra militares no Uruguai sigam | Foto: Guilherme Santos/Sul21 |
Jair Krischke abriu a caixa de entrada de seus e-mails na semana passada para encontrar uma notícia com a qual já havia se desacostumado: estava ameaçado de morte. Não foi a primeira vez, mas era algo que pensou haver deixado para trás, nos anos em que combatia diretamente as ditaduras militares de Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, como advogado de direitos humanos. A nova ameaça veio na forma de um comunicado, onde o nome de Jair aparece junto aos de outras 12 pessoas que também trabalham em processos contra militares responsáveis por mortes, desaparecimentos e violações durante a ditadura no Uruguai.
Além de Jair, a lista do grupo que se identifica como Comando Barneix cita o ministro da Defesa do Uruguai, Jorge Menéndez, a diretora do Instituto de Direitos Humanos do Uruguai, Mirtha Guianze, e Hebe Martínez Burlé, responsável por levar à Justiça o caso que condenou o ditador Juan María Bordaberry. O comunicado foi recebido em dois e-mails diferentes pelo procurador Jorge Díaz, outro nome na lista, e depois publicado no jornal uruguaio Brecha.
“A gravidade que eu vejo é como ameaça ao nosso trabalho como defensores dos direitos humanos. Não é por outra coisa. Isso é grave. E na medida que a gente permite, eles crescem”, analisa Jair Krischke, em uma entrevista na mesma sala de onde conduz os trabalhos do Movimento de Justiça e Direitos Humanos há décadas em Porto Alegre. “Não é brincadeira, porque esses caras não brincam, eles são muito atrevidos. Eu tenho que tomar precauções e organizar ações para responsabilizá-los. Eles se sentem impunes”.
O nome do grupo é uma homenagem ao general Pedro Barneix. Em 2015, depois de três anos respondendo a processo por homicídio político, Barneix não compareceu a uma intimação para depoimento e a juíza ordenou que a polícia fosse procurá-lo. Quando o policial o encontrou, em casa, Barneix disse que precisava ir até o quarto para trocar os sapatos. Assim que subiu as escadas, o general pegou sua arma e se matou com um tiro na cabeça. Menos de um ano antes, em dezembro de 2014, quando o presidente eleito Tabaré Vázquez anunciou que manteria o ministro de defesa do governo de José Pepe Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro, militantes do grupo Plenaria Memoria y Justicia organizaram um escracho em frente à casa de Barneix. “Passam os governos, a impunidade fica”, diziam eles.
Barneix respondia pela morte de Aldo “Chiquito” Perrini, assassinado no quartel de Colonia del Sacramento, onde ele era responsável pela repressão. Perrini não era militante, nem tinha vínculo com nenhum grupo político. Sua única atividade de esquerda foi um voto que deu ao Frente Amplio. Vendedor de sorvetes, pai de três filhos, aos 34 anos foi levado ao quartel pelos militares e submetido a sessões de tortura. Não resistiu. (...)
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